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OLHAR 2025 | Personagens fora de controle

  • Foto do escritor: Nayara Reynaud
    Nayara Reynaud
  • 30 de jun.
  • 11 min de leitura

Atualizado: 8 de jul.

O dilema literal dos personagens shakespearianos fadados ao mesmo papel diariamente em Ariel (2025), nova produção luso-hispânica do galego Lois Patiño que recebeu o Prêmio Especial do Júri na competitiva internacional deste 14º Olhar de Cinema, encontra seus ecos em outros filmes pelo festival, em especial alguns nacionais cujas protagonistas que fogem das fórmulas de gênero ou padrão incutidos popularmente desafiam as expectativas do público e até da crítica. De forma acertada ou irregular, essas subversões narrativas estão presentes no lacônico Torniquete (2025), longa de estreia da paranaense Ana Catarina Lugarini, no dual Apenas Coisas Boas (2025), segunda ficção em longas do goiano Daniel Nolasco, e na viagem astral de Salomé (2024), trabalho mais recente de André Antônio dentro do coletivo pernambucano Surto & Deslumbramento, que se sagrou como o grande vencedor do Festival de Brasília no ano passado. Leia a seguir um olhar sobre estes filmes sob esta perspectiva:

Ariel (Ariel, 2025)


Cena do filme Ariel, de Lois Patiño, em que duas personagens estão sentadas sobre uma mureta à beira-mar, com um morro ao fundo. A mulher à esquerda, vivida por Irene Escolar, é branca, de cabelos castanhos compridos e veste uma jaqueta laranja sobre um conjunto branco. A mulher à direita, interpretada por Agustina Muñoz, é branca de cabelos negros na altura no pescoço e veste uma jaqueta grossa vinho e uma calça jeans azul. A primeira olha atentamente para a segunda.
Irene Escolar e Agustina Muñoz em cena do filme luso-hispânico Ariel, do galego Lois Patiño

Quarto longa de Lois Patiño, Ariel traz uma nova colaboração do realizador nascido na Galícia, região litorânea da Espanha, com o cineasta argentino Matías Piñeiro a partir do universo shakespeariano. Se, no curta Sycorax (2021), ambos dirigiam e Piñeiro roteirizava a reimaginação sobre a personagem do título que guia os rumos da história de A Tempestade (1611), mesmo sem aparecer, agora, a ideia do diretor latino-americano em partir da mesma peça para refletir toda a obra de William Shakespeare (1564-1616) de maneira metalinguística foi transformada em roteiro e dirigida pelo colega ibérico. E o resultado do filme, que estreou no Festival de Roterdã de 2025 e foi premiado na sessão paralela do IndieLisboa vai além do interesse pelo trabalho do dramaturgo inglês, passando por outras discussões teatrais, artísticas em cima do próprio cinema e existenciais com a encenação do cotidiano humano.


A coprodução entre Espanha e Portugal é conduzida por Agus (uma versão da própria Agustina Muñoz), uma atriz argentina convidada para se juntar a uma companhia de teatro espanhola como a nova Ariel da montagem de A Tempestade, em uma turnê pelos Açores. Se a viagem já adquire um clima etéreo no sono que arrebata a todos no barco, ao desembarcar numa das ilhas portuguesas, a intérprete e o público se deparam com diversos personagens das peças de Shakespeare. Os próprios e, ao mesmo tempo, pessoas obrigadas a atuar como Hamlet, Romeu, Julieta, Caliban e tantos outros personas humanos e mitológicos criados pelo dramaturgo, incluindo a Ariel “real” vivida pela atriz espanhola Irene Escolar, habitam a ilha e repetem o seu papel todo o dia, antes que o Sol desça no horizonte.


Dentro deste cenário insular extraordinário, não parece tão inusitado que um personagem de Samuel Beckett surja perdido por ali, vindo da outra ilha povoada pelos tipos do autor irlandês. Afinal, o escritor e dramaturgo que se tornou um dos maiores expoentes do Teatro do Absurdo, movimento teatral disperso que se encontrava tematicamente pela transposição dramática da falta de sentido latente no mundo logo após a Segunda Guerra Mundial, construiu figuras humanas que fadadas ao seu destino, apenas vivem esperando, seja um Godot que acabe com o seu vazio ou o retorno de dias que julgava serem mais felizes do que a angústia atual. O comentário sobre a paralisia social e individual estava, aliás, em Lua Vermelha (2020), no segundo longa de Patiño no qual os moradores de Costa da Morte, vila litorânea na Galícia conhecida pelas lendas de monstros que habitam o mar que presenciou diversos naufrágios, surgem imóveis na tela e ganham vida apenas pela voz, em off, enquanto seres mitológicos se movimentam para os guardar dos perigos.


Desta vez, o cineasta apresenta a forasteira recém-chegada como ponto de inflexão para que estes personagens questionem os seus papéis, ou melhor, os seus destinos trágicos já que as comédias shakespearianas não ganham tanto destaque na trama; ao passo que a própria Agus teme se acostumar ao papel que lhe foi designado ao permanecer nesta ilha que é um grande teatro a céu aberto. Daí, o filme se desdobra em diversas reflexões, especialmente quando expõe ainda mais a sua metalinguagem conceitual, e pensar sobre o próprio exercício teatral como um ato de repetição contínua, a arte da interpretação que se incrusta e se confunde à vida real dos atores e o papel do autor, seja Shakespeare, Patiño ou qualquer outro, como ser divino que determina o destino dos seus personagens a sua revelia, por exemplo, vai de encontro ao questionamento da existência ou não de um livre-arbítrio humano e também das encenações que nos submetemos em determinados ambientes na realidade que ficcionamos ou que deixamos os outros fazerem por nós. Espero que a saída do cinema – acredito que esta é uma produção que geraria interesse se for lançada no circuito comercial brasileiro – ou sua pausa doméstica – quando chegar a algum streaming – após a sessão de Ariel possa ser tão frutífera quanto foi minha caminhada pelas ruas de Curitiba refletindo sobre as inúmeras questões levantadas pela obra.

Ariel (Ariel, 2025)

Duração: 108 min | Classificação: 14 anos

Direção: Lois Patiño

Roteiro: Lois Patiño

Elenco: Agustina Muñoz, Irene Escolar, Hugo Torres, José Díaz, Marta Pazos (veja + no site)

Produção: Espanha e Portugal

Torniquete (2025)


Cena do filme brasileiro Torniquete, de Ana Catarina Lugarini. Em um plano fechado, se observa uma adolescente chorando. A jovem, interpretada por Sali Cimi, é branca, de olhos e cabelos pretos, e tem uma ferida no rosto (o corte está na sua bochecha direita, mas está a nossa esquerda).
Sali Cimi em cena do filme paranaense Torniquete, de Ana Catarina Lugarini

Com uma trajetória de mais de uma década na produção, trabalhos de assistência de direção em filmes de renomados conterrâneos como Aly Muritiba e Ana Johann, e sua jornada autoral mais recente na direção com os curtas Da Janela Vejo o Mundo (2021) e Adam (2024), Ana Catarina Lugarini se lança na empreitada de dirigir seu primeiro longa com Torniquete. No projeto desenvolvido e realizado em quase dez anos, uma tônica tanto louvável quanto pessimista de várias produções brasileiras neste festival, três mulheres da mesma família novamente vivem sob o mesmo teto, mas este lar não lhes oferece segurança. Não apenas porque a casa é invadida por bandidos logo no início abrupto da trama, quando a jovem Amanda (Sali Cimi, estreante nos cinemas que se destaca dentro do bom elenco com uma personagem de mais fácil leitura) já tem um corte aberto no rosto, mas pelas lacunas nas relações familiares entre esta filha/neta, a mãe/filha Sônia (Renata Grazzini) e a avó/mãe Lucinda (Marieta Severo).


O público acompanha a adolescente que, pela ferida à vista, tem intensificado os seus dramas típicos desta fase de busca pela própria identidade e simultânea procura por filiação grupal, tal qual a paradoxal necessidade de conforto e de dor. Nisto, há um diálogo com a morbidez juvenil, em especial de um determinado gênero que infelizmente conhece bem o seu papel de vítima, tão bem trabalhada em Mate-me Por Favor (2015), embora não haja um tratamento surrealista aqui como no longa de estreia de Anita Rocha da Silveira. Mas, assim como em Adam, Lugarini e a diretora de fotografia Hellen Braga trabalham, agora em conjunto com a direção de arte da dupla Edi & Lais, o vermelho como indicador desse medo: no caso do curta, era o infantil na fantasia conduzida pela perspectiva de um amigo imaginário que descobre a sua natureza; no longa, o drama de uma violência vivida se soma à atmosfera do suspense acerca de fantasma parece rondar a adolescência e toda a vivência feminina.


Se a produção apresenta uma qualidade técnica notável, com destaque também para a maquiagem de Carol Suss, seus aspectos narrativos foram colocados em cheque por muitos dos presentes no festival. O roteiro de Lugarini e Alice Name-Bomtempo, responsável pelo texto de Modo Avião (2020) e diretora do curta Nina e o Abismo (2023), opta por não revelar nada sobre o passado das três personagens e esta é uma escolha totalmente válida, porque convida – e desafia – o público a conhecer essas mulheres circunscritas em seus traumas e introspecção tal qual aconteceria na vida real, se alguém mudasse para aquela vizinhança a partir do momento do assalto. A irregularidade, porém, vem da ambivalência de uma trilha calcada na sutileza do subtexto frente a metáforas óbvias, a exemplo da ferida, e, mais sensivelmente, do rarefeito desenvolvimento da figura da mãe/filha para vislumbrar quem é a Sônia no presente, pois a lenta aproximação da neta com a avó nos revela brechas para conjecturar quem é Lucinda.


Ainda assim, não dá para encaixar essas personagens em algo que, em essência, elas não são. Torniquete é uma antítese de Malu (2024), filme premiado de Pedro Freire, que integrou justamente o júri oficial desta edição do Olhar, e isso de modo algum é ruim. No excelente longa baseado na história da mãe do cineasta, a atriz Malu Rocha (1947-2013), o trio composto também pela mãe e a filha da personagem-título é verborrágico, despudoradamente carioca, explosivo e insistente na busca pelos objetivos divergentes de cada uma. No imaginário trazido por Lugarini, a trinca em questão é lacônica, introvertidamente curitibana, implosiva – até que o final as contradiga – e resignada a uma vida que não as permite transformação ou sonho. É instigante, portanto, que o cinema brasileiro contemporâneo tenha duas obras que observam as tensões dentro das relações familiares femininas em chaves tão diferentes.

Torniquete (2025)

Duração: 75 min | Classificação: 14 anos

Direção: Ana Catarina Lugarini

Roteiro: Alice Name-Bomtempo e Ana Catarina Lugarini

Elenco: Marieta Severo, Sali Cimi e Renata Grazzini (veja + no site)

Produção: Brasil


Cena do filme brasileiro Apenas Coisas Boas, de Daniel Nolasco, em que dois homens estão deitados de lado na cama, um de frente ao outro. O da esquerda, interpretado por Lucas Drummond, é branco, tem cabelos pretos, bigode e barba por fazer. O da direita, vivido por Liev Carlos, é branco, com cabelos cacheados escuros e barba, e tem um ferimento cicatrizando em seu ombro esquerdo. Ambos estão sobre travesseiros azuis claros e, sob eles, uma colcha bordada com padrões hexagonais coloridos.
Lucas Drummond e Liev Carlos em cena do filme goiano Apenas Coisas Boas, de Daniel Nolasco

As principais temáticas da filmografia do cineasta goiano Daniel Nolasco estão de volta em seu mais novo trabalho, Apenas Coisas Boas. Prolífico curta-metragista, o diretor estreou em longas com o documentário Paulistas (2017), no qual observava a dinâmica de jovens universitários – seus primos, por sinal, como revelou em entrevista ao NERVOS – ao retornarem para as casas e terras de seus pais nas férias, e consequentemente o confronto entre a modernidade chegando ao interior e seu conservadorismo arraigado. Logo depois, retornou ao seu interesse pelo cinema queer e fetichista, com Mr. Leather (2019), para unir as duas vertentes em seu primeiro longa de ficção, Vento Seco (2020), no qual aprofunda a sua digressão audiovisual sobre uma identidade em crise deste Brasil rural a partir do retrato de seu estado.


Neste último filme, Nolasco escancara esse ethos partido ao propor uma narrativa dual entre o romantismo rural e o cinismo urbano, em um caminho semelhante, guardado suas diferenças estilísticas, ao que Juliana Rojas trilha desde o fabular As Boas Maneiras (2017), realizado ao lado de Marco Dutra, e repetiu mais firmemente no seu díptico mais realista ainda que fantástico Cidade; Campo (2024). Na primeira parte, ambientada na área rural de Catalão nos anos 1980, o solitário Antonio (Lucas Drummond, seguro e encantador na sua função de protagonista) socorre Marcelo (Liev Carlos) após um acidente de moto, e iniciam uma grande história de amor com o forasteiro sedutor, que é digna de sonho, mas desafia visões ao redor. A segunda metade adquire um caráter ainda mais imaginativo na mesma medida em que se reveste de um realismo urbano, na Goiânia contemporânea, em que um Antonio já mais velho (agora vivido pelo produtor teatral Fernando Libonati) vive com luxos e indiferente ao seu companheiro de anos, que se transforma em uma presença fantasmagórica.


De tão direta, esta oposição gera fricção e certo desconforto no público. O segmento inicial é tão bem composto em seu melodrama queer, com paisagens bucólicas exaltadas pela fotografia de Larry Machado e Thiago Pethit novamente na trilha sonora – desta vez, com sua colaboração com Tiê em Forasteiro / L'Étranger – para embalar o romance de Antonio e Marcelo, que a frustração no espectador é grande com a possibilidade apresentada do fim deste amor de uma maneira tão banal como surge no trecho seguinte. O que não configuraria em um problema da obra e sim da recepção em transpor suas expectativas pessoais para os personagens que não precisam seguir um caminho esperado. No entanto, se este choque, por si só, torna difícil a manutenção da empatia pelo protagonista por parte da plateia, há duas fragilidades que, de certa forma, quebram este vínculo: da construção arquetípica que, sendo eficiente para a construção do romance, se torna precária neste outro momento que flerta com a comédia e o policial em referência às pornochanchadas; e do elenco que não consegue criar seus tipos a partir dos seus momentos-chave, com exceção da sempre excelente Renata Carvalho, que rouba a cena facilmente como Helga, a trabalhadora doméstica que representa justamente os anseios e dúvidas dos espectadores.


Neste sentido, pode-se dizer que esta divisão narrativa expõe também a dicotomia que centra os debates sobre o cinema queer na atualidade. Na primeira metade, está uma vertente de normalização transgressiva, em que é dada a possibilidade de grupos minorizados protagonizarem histórias que trazem todos os clichês de seu gênero, às quais dificilmente lhe era dado este espaço ou um olhar empático antes, mas critica-se a heteronormatização das experiências gays, em casos como este. Já na segunda, vem a transgressão libertária que entende a expressão sexual como ferramenta histórica de sobrevivência da comunidade LGBTQIA+, porém, pode reforçar estereótipos em relação aos seus indivíduos. Entretanto, a produção de conteúdo hoje é vasta o suficiente para que as duas visões, em suas qualidades e deficiências, possam coexistir e agregar tantas outras neste espectro do que é ser queer, seja na tela ou no cotidiano.

Duração: 108 min | Classificação: 18 anos

Direção: Daniel Nolasco

Roteiro: Daniel Nolasco

Elenco: Lucas Drummond, Fernando Libonati, Liev Carlos, Renata Carvalho, Igor Leoni, Guilherme Théo, Norval Berbari e Lizz Miranda (veja + no site)

Produção: Brasil

Salomé (2024)


Cena do filme brasileiro Salomé, de André Antônio. Duas mulheres estão com o rosto colado uma na outra. A da esquerda, interpretada por Renata Carvalho, é mais alta e de pele mais bronzeada, e usa óculos e tem os cabelos grisalhos presos em um rabo de cavalo mais frouxo. A da direita, é mais baixa e jovem, trazendo uma franja no seu cabelo negro, além de uma expressão entediada em contraste com a alegria da outra. Ao fundo, um papel de parede em tons de verde, ouro velho e marrom.
Renata Carvalho e Aura do Nascimento em cena do filme pernambucano Salomé, de André Antônio

O mistério do amor e o sexo também movem Salomé, segundo longa de André Antônio. O integrante do coletivo recifense Surto & Deslumbramento, com quem realizou sua estreia no formato com A Seita (2015), tem a ficção científica como guia para trilhar uma via menos naturalista do que a maior parte da pungente produção pernambucana contemporânea é acostumada, mesmo quando flerta com o fantástico. O realizador, por sua vez, se enamora completamente do seu gênero de preferência e de mais outro para tecer um romance sci-fi queer capaz de criar um clima irreverente e bem envolvente na maior parte de sua metragem.


A história começa com o retorno à cidade natal da supermodelo Cecília, vivida por Aura do Nascimento em uma cativante estreia, para a alegria de sua mãe superprotetora Helena, interpretada por Renata Carvalho, mais uma vez competente e impagável, tanto que recebeu o Candango de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Brasília. Depois de anos em São Paulo, a jovem se reconecta à família, incluindo a prima (Zuba Neves) e a tia (Danny Barbosa), ao dia-a-dia e noite recifenses, e também ao vizinho João (Fellipy Sizernando), um boy bregoso por quem ela se (re)encanta, mas que tem ligações com grupos misteriosos. A partir dele, a protagonista e o filme vai entrando gradualmente em uma viagem alucinógena que se revela também astral, unindo um imaginário extraterrestre à mitologia cristã e profana criada em torno da figura histórica a quem foi dado o nome de Salomé.


Essa transformação da narrativa ocorre de forma gradual do primeiro ao segundo ato, num tom quase fabular, mas muito próximo da vivência periférica e/ou familiar que não são exclusivas da capital pernambucano, ainda que apresente muito de sua regionalidade. No terceiro, quando mergulha de vez na ficção científica, a tensão prende o espectador, mas o desenrolar atrelado à Salomé como símbolo da luxúria feminina soa um tanto frouxo frente ao que foi apresentado anteriormente. No entanto, do começo ao fim, o longa de André Antônio é de um desbunde visual que só enriquece o sua defesa por um cinema queer desconcertante e "safado", vide sua entrevista para o cineasta, curador e crítico Felipe André Silva na Revista Nostalgia.

Salomé (2024)

Duração: 118 min | Classificação: 18 anos

Direção: André Antônio

Roteiro: André Antônio

Elenco: Aura do Nascimento, Fellipy Sizernando, Renata Carvalho, Zuba Neves, Clara Maria Matos, Danny Barbosa, Everaldo Pontes e Geyson Luiz (veja + no site)

Produção: Brasil


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