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Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2021 | O espelho distorcido das redes

Atualizado: 8 de jan. de 2023

Se na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo do ano passado, um dos longas mais interessantes da seleção era o drama sueco-polonês Suor (2020) sobre uma crise que abate uma influencer digital, as redes sociais ganham destaque em mais títulos desta Mostra SP 2021, inclusive em dois concorrentes a uma vaga para o Oscar de Melhor Filme Internacional. O representante do Egito, Souad (Souad, 2021), tem na jovem do título o retrato de uma juventude que busca uma vida paralela na internet, enquanto no candidato da Macedônia do Norte, Irmandade (Sestra, 2021), um vídeo viralizado altera drasticamente a vida de três adolescentes e uma amizade. Além disso, na produção tcheca O Atlas dos Pássaros (Atlas Ptáků, 2021), o perigo das telas atinge também os adultos e cria problemas em uma empresa. Veja mais sobre eles a seguir:

 

Souad (Souad, 2021)


Bassant Ahmed em cena do filme egípcio Souad (Souad, 2021), de Ayten Amin | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Uma tela de celular fica em destaque logo na primeira imagem do filme egípcio Souad, algo muito significativo por toda a discussão levantada na narrativa, mas a primeira ação dela não vem necessariamente a partir do dispositivo. A jovem Souad (Bassant Ahmed) até mostra uma foto do seu amado para a mulher ao seu lado no banco do ônibus para ilustrar a história que conta sobre seu noivo, mas tão logo outra senhora senta ali, o relato sobre si e seu relacionamento é outro, até que a moça volta à realidade quando desce do veículo para buscar sua irmã Rabab (Basmala Elghaiesh) na escola. Desde o princípio, portanto, a cineasta Ayten Amin estabelece, em seu segundo longa solo, a ideia de que as redes sociais não são o problema em si, mas apenas um meio para tantas pessoas como a protagonista projetarem a vida que gostariam de ter, extravasarem os anseios e sentimentos que não podem expressar no dia-a-dia, sejam eles bons ou ruins.


Assim, o público conhece a garota de 19 anos no seu cotidiano em casa e com as amigas em uma pequena cidade no delta do Nilo, enquanto, sozinha com seu celular, mantém um relacionamento com um rapaz de Alexandria chamado Ahmed (Hussein Ghanem), que lhe causa alegrias, mas também brigas e crises de choro. O roteiro de Amin e Mahmoud Ezzat trabalha com uma narrativa em três atos, de durações bem díspares, centrado em cada um desses três personagens. As ações da protagonista levam o foco para a Rabab, que, por sua vez, vai à procura do homem por quem Souad se apaixonou.


Na sutileza do texto e da direção, o encontro deles revela uma irmã tentando compreender tudo o que aconteceu, colocando-se na pele fraternal para entender suas próprias emoções, e um jovem influencer que achou na internet um conforto para o deslocamento que sente em sua rotina não-virtual. Com uma câmera na mão sempre próxima de seus personagens, mas sem exagerar na dose, a ponto de evitar sobressaltos mesmo na cena mais crítica da história, a diretora conduz a narrativa com uma doce melancolia, sem cair no sentimentalismo. Essas razões explicam a longa carreira da produção desde que recebeu o selo da seleção oficial de Cannes em 2020, passando pelos festivais de Berlim, IndieLisboa e Tribeca, neste com direito à prêmio de melhor atriz para Bassant Ahmed e Basmala Elghaiesh, e agora sendo escolhido como o filme para representar o Egito em uma disputa à categoria internacional do Oscar.

 

Souad (Souad, 2021)

Duração: 96 min | Classificação: 16 anos

Direção: Ayten Amin

Roteiro: Ayten Amin e Mahmoud Ezzat

Elenco: Bassant Ahmed, Basmala Elghaiesh, Hussein Ghanem, Hager Mahmoud, Sarah Shedid e Carol Ackad (veja + no site)

Produção: Egito, Tunísia e Alemanha


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 1000 visualizações

> Reserva Cultural - Sala 1 – 01/11/2021, segunda às 14h00

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 5 – 02/11/2021, terça às 18h00

+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play

 

Irmandade (Sestra, 2021)


Mia Giraud e Antonija Belazelkoska em cena do filme macedônio Irmandade (Sestra, 2021), de Dina Duma | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Há uma sensação constante de deslocamento que acompanha a adolescência. Não quer dizer que ela não exista antes na infância ou não permaneça incomodando na vida adulta, mas por ser uma fase de formação, em que a falta de maturidade e a exigência do mundo ao redor para crescerem torna os jovens mais suscetíveis a tomarem atitudes impulsivas ou contra a vontade apenas por uma necessidade de pertencimento a um grupo, principalmente se forem seus amigos. Com a chegada da internet, mais especificamente das redes sociais, toda essa dinâmica social bem perversa, tanto para quem acuado quanto para quem precisa se impor, se amplifica a níveis cada vez maiores, espirrando para fora das telas, como mostra o primeiro longa da cineasta macedônia Dina Duma, Irmandade.


Premiado no festival de Karlovy Vary e inscrito como o concorrente da Macedônia do Norte para disputar uma vaga no Oscar de Melhor Filme Internacional, a produção traz um título que é constantemente questionado ao longo do roteiro de Duma e Martin Ivanov. Quando o público conhece as amigas Maya (Antonija Belazelkoska) e Jana (Mia Giraud), elas são companhias inseparáveis, e a primeira, bem mais tímida, encontra na segunda, mais atirada e impositiva, um apoio para as mudanças no seu seio familiar e incentivo para ir atrás do garoto que ela gosta, mas junto de uma insistência que faz a experiência dela junto com Chris (Hanis Bagashov) não sair como desejado. Quando Elena (Marija Jancevska), outra garota mais popular na escola e nas redes, fica com seu “crush” na mesma festa, a protagonista é levada pela amiga mandona para um caminho sem volta, que vai alterar drasticamente a vida das três adolescentes a partir de um vídeo viralizado.


Apesar das discussões sobre o mundo virtual serem recentes, filmes como o brasileiro Ferrugem (2018) e o norte-americano Compartilhar (2019) já a abordaram, mas a estreante Duma está mais disposta a se aproximar de seus objetos ao acompanhar o comportamento dessa geração, seja com as festas regadas à bebida e sexo de outrora, agora ao som de trap, ou com a incessante necessidade de registrarem tudo para postar em suas redes, em vídeos que são introduzidos naturalmente na narrativa e demonstram essa amplificação da performance de si mesmos e do julgamento alheio. Neste contexto, a irmandade entre as jovens mulheres não vinga no ambiente competitivo imposto por uma sociedade patriarcal que continua a taxa-las como vagabundas enquanto homens são os garanhões quando o assunto é sexo. Contudo, a obra não exime a responsabilidade individual das personagens e, até mais interessante do que o debate sobre os adolescentes e a internet, é observar a transformação da amizade de Maya e Jana na vida real, do suporte à manipulação e da dependência tóxica à dispensabilidade, em uma fluidez igual a das águas, elemento tão marcante ao longo da trama, que remete à ideia baumaniana da liquidez das relações humanas, cada vez mais frágeis na pós-modernidade.

 

Irmandade (Sestra, 2021)

Duração: 90 min | Classificação: 16 anos

Direção: Dina Duma

Roteiro: Dina Duma e Martin Ivanov

Elenco: Antonija Belazelkoska e Mia Giraud (veja + no site)

Produção: Macedônia do Norte, Kosovo e Montenegro


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo (sessão apenas em 25/10/2021)

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 1200 visualizações

+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play

 

O Atlas dos Pássaros (Atlas Ptáků, 2021)


Miroslav Donutil, Alena Mihulová, Eliška Křenková, Martin Pechlát e Vojtěch Kotek em cena do filme tcheco O Atlas dos Pássaros (Atlas Ptáků, 2021), de Olmo Omerzu | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

O que a imagem em primeira pessoa de um combatente no Afeganistão, que abre o filme O Atlas dos Pássaros, tem a ver com os rumos de uma empresa e seu dono na República Tcheca que são descritos no novo longa do esloveno Olmo Omerzu? Essa é só uma das estranhas correlações de fatos ou elementos, nem sempre muito efetivas, que surgem ao longo da produção tcheca exibida no festival local de Karlovy Vary. Logo depois da, até então, dispare cena inicial, o público é apresentado a Ivo Rona (Miroslav Donutil), bem no momento em que descobre o rombo milionário em sua empresa de tecnologia, que agora investe em uma nova linha de robô aspirador, e passa mal.


Contudo, nem o hospital segura um homem que passou a vida tendo, ou achando ter, o controle absoluto de tudo para fazer tudo ao seu prazer, o que o leva a uma busca incessante para descobrir quem é o traidor. Isso esbarra tanto nas relações já desgastadas com a família e no militar norte-americano que é o namorado virtual de sua contadora e ex-amante Marie (Alena Mihulová). Aliás, o título da obra vem, primeiro, pelos apelidos da longa lista de casos do empresário, mas logo revela uma curiosa natureza comentarista dos pássaros, com observações do que está acontecendo com o protagonista e o mundo, como nas falas sobre as mudanças climáticas, e máximas bem críticas ao capitalismo, a exemplo de “Ser pobre e livre de dívidas. Essa é a maior riqueza de todas” ou “Os prazeres dos poderosos advêm das lágrimas dos pobres”.


O roteiro de Petr Pýcha e Omerzu tem dificuldade em fazer todos esses elementos funcionarem em conjunto, mesmo com um leve humor ocasional para arejar esse nublado e cético panorama. Da mesma maneira, não consegue engendrar uma crítica maior ao capitalismo, apenas traçar um conto moral pouco cativante sobre a decadência desse tipo de homem capitalista, embora o sistema continue a trabalhar para ele.

 

O Atlas dos Pássaros (Atlas Ptáků, 2021)

Duração: 92 min | Classificação: 14 anos

Direção: Olmo Omerzu

Roteiro: Petr Pýcha e Olmo Omerzu

Elenco: Miroslav Donutil, Alena Mihulová, Martin Pechlát, Vojtěch Kotek, Eliška Křenková e Pavla Beretová (veja + no site)

Produção: República Tcheca


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo (sessões até 22/10/2021)

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 1200 visualizações


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