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JAMES BOND | A evolução das canções originais da franquia e músicas que poderiam ser trilha do 007

Atualizado: 8 de jan. de 2023


Assinatura visual do marca James Bond, junto do logo do NERVOS | Divulgação / Nayara Reynaud

Depois de sucessivos adiamentos, desde o início do ano passado, por conta da pandemia de Covid-19, 007 – Sem Tempo Para Morrer (2021) estreia próximo ao aniversário de 59 anos da chegada de James Bond aos cinemas. O personagem criado pelo escritor Ian Fleming em 1953 foi levado às telas, pela primeira vez, em 007 Contra o Satânico Dr. No, lançado mundialmente no dia 5 de outubro de 1962, que inaugura a franquia oficial que alcança seu 25º filme – todos eles produzidos pela EON, que detém os direitos autorais dos romances do famoso espião, embora exista também o satírico Cassino Royale de 1967. Ao se fazer um resgate dela, é possível extrair diversas leituras sobre a série, pois, seja com suas qualidades ou defeitos, os longas são retratos da geopolítica mundial, de crises econômicas e sociais, do machismo e da própria indústria cinematográfica ao longo destas quase seis décadas. O mesmo também pode ser aplicado à evolução da música neste período, perceptível através da trilha sonora, particularmente das canções originais, dos filmes do agente secreto do MI-6, cuja sonoridade tão característica também inspirou o NERVOS a montar uma playlist de músicas que poderiam, muito bem, embalar as aventuras bondianas na telona.


No entanto, antes de adentrar no campo hipotético, é preciso entender como a trilha sonora se tornou uma parte tão importante da franquia 007, em especial do marketing que envolve suas produções. Além de Sean Connery na pele do espião, o inaugural 007 Contra o Satânico Dr. No trouxe muitos elementos que se tornariam assinaturas da série, seja a sequência introdutória do cano de tiro ou os créditos iniciais, ambos criados pelo artista gráfico Maurice Binder, bem como o tema clássico do personagem, James Bond Theme, composto por Monty Norman e executado por John Barry e sua orquestra. Barry, aliás, se tornaria depois o compositor de nada menos do que 11 filmes bondianos, o maior em uma galeria que reúne também os nomes de David Arnold, Thomas Newman, George Martin, Bill Conti, Michael Kamen, Marvin Hamlisch, Éric Serra e Hans Zimmer.



Contudo, além dos conhecidos acordes, os créditos inéditos do primeiro longa também trouxeram Kingston Calypso, do conjunto jamaicano Byron Lee and the Dragonaires, única canção-tema da franquia que não só é interpretada por um artista local – com exceção dos norte-americanos e os próprios britânicos –, como é inteiramente de um gênero característico do cenário onde se passa a história, no caso, o ritmo caribenho do calipso. Seria From Russia with Love, cantada pelo inglês Matt Monro para a sequência Moscou Contra 007 (1963), que definiria o padrão das “músicas do 007”, com o ostensivo uso de orquestração conferindo auras de suspense, ação e/ou sensualidade. Tais características seriam confirmadas em Goldfinger, de 007 Contra Goldfinger (1964) – cuja trilha de John Barry recebeu a, então, inédita indicação da franquia ao Grammy –, que seria a primeira das três canções originais que a cantora galesa Shirley Bassey interpretaria ao longo da série, sendo a única a repetir tal feito com Diamonds Are Forever para 007 – Os Diamantes São Eternos (1971), que simultaneamente marcou o retorno e despedida do escocês Sean Connery no papel principal, e Moonraker em 007 Contra o Foguete da Morte (1979), aquele ambientado no Brasil.



O compatriota Tom Jones interpretaria Thunderball, da produção seguinte 007 Contra a Chantagem Atômica (1965), enquanto Nancy Sinatra seria a primeira norte-americana a assumir os vocais de um tema bondiano, com You Only Live Twice, de Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967). O sexto longa da série oficial, 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969), é repleto de excepcionalidades, sendo as mais conhecidas o fato de ser o único em que o ator australiano George Lazenby encarnou James Bond ou de ser nele em que o agente se casou com Teresa di Vicenzo, inesquecível Bond girl vivida por Diana Rigg, mas também vale destacar a sequência de abertura com uma música instrumental, ao passo em que a canção original de Louis Armstrong, We Have All the Time in the World, vem no encerramento, após o emocionante final. Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973) abre a fase Roger Moore trazendo uma das mais emblemáticas composições realizadas para a franquia, Live and Let Die, de Paul McCartney & Wings, que conquistou a primeira indicação ao Oscar de Melhor Canção Original, além de George Martin ganhar o Grammy de Melhor Arranjo Acompanhando Vocalista(s) pelo seu trabalho na produção da faixa que apresenta vários “atos” ou momentos, em diferentes ritmos.



Depois de The Man with the Golden Gun, na performance da cantora escocesa Lulu em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (1974), o sucesso de Nobody Does It Better, que a norte-americana Carly Simon cantou para 007 – O Espião que me Amava (1977) – a primeira a não trazer o mesmo título original do filme em seu nome –, introduz um período em que o pop romântico dá o tom dos temas principais da série. Além da já citada Moonraker, vieram For Your Eyes Only, de Sheena Easton, também da Escócia, para 007 – Somente para Seus Olhos (1981), e All Time High, da outra artista ianque Rita Coolidge para 007 Contra Octopussy (1983). A partir de O Espião que me Amava, é igualmente possível perceber a leve introdução de elementos de disco music na trilha sonora incidental de Marvin Hamlisch, que se tornariam mais presentes no trabalho de John Barry na louca aventura de ficção científica de Foguete da Morte, realizado no auge do gênero, no fim dos anos 1970, enquanto os sintetizadores oitentistas surgem nas composições de Bill Conti em Somente para Seus Olhos e nas produções musicais seguintes daquela década.



Ainda nos anos 1980, o rock retorna à franquia com A View to a Kill, canção da banda inglesa Duran Duran para a despedida do compatriota Roger Moore em 007 – Na Mira dos Assassinos (1985) que se tornaria a única da franquia a alcançar o topo da Billboard Hot 100, principal parada dos Estados Unidos, permitindo que a new wave permanecesse na escolha dos noruegueses do A-ha, com The Living Daylights, para a estreia de Timothy Dalton na pele de James Bond em 007 – Marcado para a Morte (1987). A fase “brucutu” e menos polida do ator galês durou pouco, com apenas mais um longa na sua conta, o 007 – Permissão para Matar (1989) que teve a norte-americana Gladys Knight retomando o romantismo de outrora com Licence to Kill. Somente em meados da década seguinte, o famoso espião retorna às telas com o rosto do irlandês Pierce Brosnan em 007 Contra GoldenEye (1995), em que a canção-título escrita por Bono e The Edge, do grupo conterrâneo U2, para a ianque Tina Turner confere à GoldenEye um tempero roqueiro à orquestração dos velhos tempos.




Se o fato de Sheryl Crow já ter entrado nessa seleta lista de artistas é muitas vezes esquecido pelo público, talvez porque a padronizadamente bondiana Tomorrow Never Dies não contenha nada do DNA da cantora estadunidense na música de 007 – O Amanhã Nunca Morre (1997), os compatriotas da banda Garbage são lembrados por The World Is Not Enough, raro tema cantado através da perspectiva da personagem antagonista de 007 – O Mundo Não É o Bastante (1999), e a popstar Madonna por Die Another Day, que expõe os elementos eletrônicos já presentes na trilha incidental dos longas anteriores e latentes na equivocada tentativa de se modernizar de 007 – Um Novo Dia para Morrer (2002). O período atual do inglês Daniel Craig no papel do espião inicia em grande estilo com You Know My Name, do também ianque Chris Cornell, na sua estreia em Cassino Royale (2006) – particularmente, tanto a faixa quanto o filme são os preferidos desta editora que vos escreve –, fazendo com que o rock se sustentasse na fraca sequência 007 – Quantum of Solace (2008), por meio dos conterrâneos Jack White e Alicia Keys em Another Way to Die. Seria com a artista britânica Adele e seu hit Skyfall, do bem-sucedido 007 – Operação Skyfall (2012), que a franquia ganharia seu primeiro Oscar de Melhor Canção Original e o inédito Grammy de Melhor Canção para Mídia Visual; feitos repetidos, respectivamente, com Writing’s on the Wall, do inglês Sam Smith para 007 Contra Spectre (2015), e “antecipadamente” – já que a faixa concorreu antes da estreia da produção cinematográfica adiada desde março de 2020 – por No Time to Die, da jovem norte-americana Billie Eilish para o recente 007 – Sem Tempo Para Morrer, emulando, sem o mesmo brilhantismo do feito pioneiro, a orquestração melancólica empregada pela estrela pop.



 

Músicas ao estilo James Bond



É possível encontrar playlists, oficiais ou não, contendo alguns ou todos estes temas, além de canções secundárias que fizeram parte da trilha dos filmes dos James Bond, nas mais diversas plataformas digitais. Contudo, a ideia de juntar aquelas músicas que, por vezes, soam até mais 007 do que certas originais, com bandas e artistas perfeitos para compor tais faixas, sempre pairou por aqui no NERVOS e resulta, agora, na playlist “Quase 007 | Músicas ao estilo James Bond”, disponível na Deezer e no Spotify.


Mas tal lista não poderia começar sem falar do Hooverphonic, banda belga que provavelmente produz os sons mais bondianos que já se ouviu. A mistura de dream pop, trip hop e música ambiente do trio, então com Geike Arnaert nos vocais, gerou o clássico Mad About You, que traduz toda a sensualidade perigosa comum no universo do 007. Já a fase de Noémi Wolfs como vocalista trouxe toda a orquestração mais clássica que se assemelha ao período inicial da franquia em Anger Never Dies, por exemplo.


Aliás, aparentemente pode ser curioso o fato de um gênero musical que se encaixa tanto ao perfil dos temas de James Bond como o trip hop, sendo, ainda por cima, originalmente inglês ao surgir na região de Bristol, nos anos 1990, com as bandas Massive Attack e Portishead – representadas na nossa playlist com os singles Paradise Circus e Glory Box, respectivamente –, nunca ter figurado em destaque na série cinematográfica. Contudo, além de não ter sido um ritmo que, isoladamente, se tornou tão mainstream, mesmo que tenha influenciado fortemente o pop daquela década, pode se observar no resgate das canções originais o quanto a EON estava voltada ao mercado dos Estados Unidos na escolha dos artistas para interpretá-las naquele período. Junto dos conjuntos já citados, há vários outros nomes que, costumeira ou momentaneamente, navegam por este tipo de som, mas que, ao contrário da franquia, são lembrados nesta lista: o grupo londrino Moorcheba, presente com a faixa The Moon de seu mais recente álbum; a cantora sueca, radicada no Reino Unido, Neneh Cherry, com seu sucesso Woman e a mais nova Spit Three Times; indo para um nome dos anos 2010, a artista norte-americana Lana Del Rey, com o hit Born to Die e a mais desconhecida 24; e até brasileiros como Thiago Pethit e sua Noite Vazia, e Bebel Gilberto com O Que Não Foi Dito do disco Agora (2020) – o músico estadunidense Moby só não foi incluído porque o seu remix James Bond Theme (Moby's Re-Version) embalou o trailer e estava presente na compilação da trilha sonora de 007 – O Amanhã Nunca Morre, além de ser o responsável pelo indefectível tema da franquia Bourne (2002-16), que conferiu um tom mais realista aos filmes de espionagem.


Entretanto, o inverso ocorreu nos primeiros passos de James Bond nos cinemas, durante a década de 1960, quando Nina Simone lançava Feeling Good e I Put a Spell on You, dois clássicos do jazz que demonstravam como a cantora norte-americana poderia interpretar um tema de suas aventuras, se os produtores tivessem apostado e a artista conhecida por sua militância política topasse embalar o personagem embrenhado nas disputas geopolíticas da Guerra Fria e uma conservadora nostalgia do Império Britânico. Seguindo para a aura setentista, o soul rock de Looking For You é a prova de que o cantor franco-italiano Nino Ferrer seria uma boa opção se a EON olhasse para outros mercados naquela época. E já que não custa sonhar com uma diva brasileira na trilha do 007, também é possível sentir aquela orquestração bondiana no arranjo de Jaime Alem para a conhecida versão de Maria Bethânia para Fera Ferida, oposição de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.


Voltando para casa, a banda inglesa de rock eletrônico Kasabian é outra que, através de suas músicas, parecia clamar para entrar nesse rol com, por exemplo, Club Foot e aquela que possui o clima espião até no título, Days Are Forgotten, e poderia ter sido incluída na década passada – atualmente, eles estão em reformulação após a saída do vocalista Tom Meighan, que foi condenado por agressão à noiva, em 2020, dificultando qualquer convite do gênero agora. Outros compatriotas que soam tal estilo, mas com uso de orquestração, são o pessoal do The Last Shadow Puppets, supergrupo formado por Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, ao lado de Miles Kane, James Ford e Zach Dawes, cujo álbum de estreia do projeto, The Age of Understatement (2008), traz faixas como My Mistakes Were Made For You e In My Room, que cairiam como uma luva para o agente. E se um clima mais psicodélico fosse necessário, Scorpio Rising, single do grupo Death in Vegas com a participação do também inglês Liam Gallagher, seria uma boa pedida, ao passo em que o retorno de uma história espacial teria Control, do artista alternativo estadunidense k.s. Rhoads.


Contudo, hoje em dia, um dos nomes mais indicados para tal tarefa seria o londrino Michael Kiwanuka que, com sua obra que passeia entre diversos gêneros, que tem demonstrado sua habilidade para tanto com Falling e Solid Ground, por exemplo. Já a presença de 4 Minutes nesta playlist não é pelo fato de ser uma música mais bondiana da Madonna do que aquela que a mesma fez para a franquia, e sim para imaginar como seria se Timbaland, produtor norte-americano que dominou a parada pop em meados dos anos 2000 – assim como o próprio Justin Timberlake que participa do hit –, tivesse criado um tema para o 007, enquanto In Your Eyes, faixa do recente mergulho na disco music da inglesa Jessie Ware, remonta ao som oitentista da trilha. O R&B tem espaço garantido, seja numa roupagem que remete às tradições do gênero em One Day, do escocês Paolo Nutini; no flerte com o reggae das aventuras caribenhas de Bond em This World, da belga Selah Sue; ou num estilo mais contemporâneo nos duetos Don’t Blame It On Love, da malaia Yuna com o ianque Pink Sweat$, e Let Me Down, dos britânicos Jorja Smith e Stromzy trazendo o rap para este molho.


Para encerrar esta lista, não pode faltar aquelas canções que trazem outras perspectivas, como Paradise da banda inglesa de rock gótico Creeper, que, tal qual o trabalho do Garbage, traz o vilão no eu lírico, enquanto o ícone punk norte-americano Iggy Pop apresenta uma visão feminina do personagem em James Bond, single de seu último disco. Se o EP Don’t Explain (2016) da sueca Snoh Aalegra renderia muito material para um filme do 007, as escolhidas aqui foram Under the Influence e Chaos, esta uma composição que poderia remontar às narrativas de espionagem de terrorismo biológico como a de 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade. No entanto, mais recentemente, é a britânica Little Simz com o desenvolvimento ainda maior de seu rap orquestrado no novo álbum Sometimes I Might Be Introvert (2021), particularmente na faixa de abertura Introvert e na confessional I Love You, I Hate You – perfeita para o caso de uma filha perdida de James Bond aparecer para cobrar a ausência paterna em uma futura história –, que se mostra um nome interessante para uma franquia que tem prometido se revitalizar, mesmo que a passos lentos.



OBS: a título de curiosidade, existe um grupo paraense chamado Banda 007, importante na cena de tecnobrega / tecnomelody local, com músicas como Está Escrito



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