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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2021 | A terra que já não mais os pertence

Atualizado: 4 de jan. de 2022

Entre as seis produções da Turquia que integram a seleção desta 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em duas delas, os protagonistas vivem uma relação de proximidade e, ao mesmo tempo, desconexão com a terra. Em O Compromisso de Hasan (Baglilik Hasan, 2021), a dedicação do protagonista do título às terras herdadas do pai encontra obstáculos na intransigência estatal e empresarial, além da sua própria consciência. No drama Terra Distante (Uzak Ülke, 2020), um militar e um garoto se encontram exilados dentro do próprio país natal. Mais detalhes de ambos os filmes a seguir:

 

O Compromisso de Hasan (Baglilik Hasan, 2021)


Umut Karadağ em cena do filme turco O Compromisso de Hasan (Baglilik Hasan, 2021), de Semih Kaplanoğlu | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

O tempo próprio do filme turco O Compromisso de Hasan, certamente, não é para todos, contudo, mesmo o espectador mais entediado precisa admitir que o ritmo e a maneira como a narrativa se desenvolve são os mais fidedignos possíveis com os personagens e o ambiente em que eles habitam. O cineasta Semih Kaplanoğlu, responsável pela trilogia Yusuf – Ovo (2007), Leite (2008) e Um Doce Olhar / Mel (2010) –, novamente demonstra a sua predileção pela natureza como parte fundamental da vida de seus protagonistas neste que é o segundo longa de uma nova trinca iniciada por Baglilik Asli / Commitment Asli (2019). Exibido na seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes, o novo trabalho do diretor faz do compasso do campo um guia para uma história com seus próprios estágios de desenvolvimento, no momento em que Hasan (Umut Karadağ) se encontra no limiar de um futuro que se mostra incerto e do passado pesando sua consciência.


Logo no início, o agricultor é avisado de que torres de energia de alta voltagem passarão pelo seu terreno, e, por mais que esteja prevista uma compensação pela parte desapropriada, ele teme os estragos que poderão ocorrer, sem entender o porquê de escolherem traçar o projeto no meio de sua plantação, enquanto há uma terra árida e improdutiva ao lado. Ao mesmo tempo em que enfrenta essa e outros problemas na propriedade herdada de seu pai – sem não muita disputa familiar – descobre que o pomar de pêssegos de um vizinho foi tomado pelo banco por não ter conseguido pagar um empréstimo. Uma boa notícia, ao menos, chega quando ele e a esposa (Filiz Bozok) são selecionados para integrar um grupo de peregrinação a Meca, porém, realizar a viagem que é o ponto alto para todo muçulmano será custoso para o seu bolso e sua memória, ao precisar fazer um exame de consciência para estar preparado para os rituais religiosos.


A sensação é que, tal qual na natureza, a narrativa se transforma ao longo do filme com o encadeamento desses focos de interesse. Assim, o cinema contemplativo de Kaplanoğlu e outros de seus compatriotas encontra a crítica social na representação dos burocratas e banqueiros aumentando as dificuldades dos pequenos agricultores turcos que, assim como tantos outros pelo mundo, veem suas terras ameaçadas por um progresso desregulado e desigual. Junto ao drama coletivo, O Compromisso de Hasan se constrói como um conto moral, no qual o protagonista necessita se reconciliar consigo mesmo antes de qualquer outra pessoa.

 

O Compromisso de Hasan (Baglilik Hasan, 2021)

Duração: 147 min | Classificação: 12 anos

Direção: Semih Kaplanoğlu

Roteiro: Semih Kaplanoğlu

Elenco: Umut Karadağ, Filiz Bozok, Gökhan Azlağ, Ayşe Günyüz Demirci e Mahir Günşiray (veja + no site)

Produção: Turquia


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 600 visualizações

> Reserva Cultural - Sala 3 – 31/10/2021, domingo às 17h45

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 5 – 03/11/2021, quarta às 13h30

+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play

 

Terra Distante (Uzak Ülke, 2020)


Abdurrahman Gönan e Haydar Şişman em cena do filme turco Terra Distante (Uzak Ülke, 2020), de Erkan Yazıcı | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Em seu primeiro longa-metragem, o cineasta Erkan Yazıcı remonta a um ponto pouco conhecido da história mundial em Terra Distante. Em 1923, como resultado da Guerra Greco-Turca, decorrente do fim e partilha do Império Otomano, foi decretada uma troca populacional entre turcos e gregos, com base em sua origem religiosa. Assim, cidadãos da Turquia de origem grega ortodoxa foram forçados a atravessar o mar Egeu, enquanto cidadãos muçulmanos da Grécia foram mandados para o outro lado.


É neste cenário, em 1925, que o público conhece Paris (Abdurrahman Gönan), um menino grego de 12 anos que, após fugir do campo de concentração para buscar uma lembrança deixada pelo pai, retorna e encontra o local vazio. Os refugiados, incluindo a sua mãe, já partiram, restando apenas o major Osman (Haydar Şişman) como companhia no local, até que as autoridades turcas encontrem uma maneira de despachá-lo para a Grécia. O garoto e o militar condecorado, que também foi relegado por eles, precisam aprender a conviver, mesmo em seus espaços delimitados, em uma relação que, aos poucos, se constrói a partir dos pontos em comum entre os dois.


Dos flashbacks com a família que compõem a psique deste traumatizado jovem, vai se revelando gradualmente, por trás da disciplinada postura do oficial, um homem que foi obrigado a escolher honrar sua alma em vez de suas medalhas. Ambos estão, portanto, exilados naquele país, a nova Turquia que em nada parece a terra em que nasceram e cresceram, sendo dominados tanto pelo medo de partir quanto o de ficar. Yazıcı nem sempre consegue manejar essa dinâmica de oposição e identificação entre os personagens no seu jogo de luzes narrativas, mas há um coração no filme que não o torna distante das dores desses dois expatriados.

 

Terra Distante (Uzak Ülke, 2020)

Duração: 93 min | Classificação: 16 anos

Direção: Erkan Yazıcı

Roteiro: Erkan Yazıcı

Elenco: Haydar Şişman e Abdurrahman Gönan (veja + no site)

Produção: Turquia


*Este filme será exibido na plataforma Sesc Digital (ESGOTADO) e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


> Espaço Itaú Augusta - Sala 3 – 29/10/2021, sexta às 14h00

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 5 – 30/10/2021, sábado às 18h30


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