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  • Foto do escritorNayara Reynaud

O CONTO DAS TRÊS IRMÃS | Um quadro fixo

Atualizado: 19 de jan. de 2021


Helin Kandemir e Ece Yüksel em cena do filme turco O Conto das Três Irmãs (Kız Kardeşler, 2019), de Emin Alper | Foto: Divulgação

A referência à peça russa As Três Irmãs (1901) vem à mente já no título nacional de O Conto das Três Irmãs (Kız Kardeşler, 2019), mas o filme turco de Emin Alper não é uma adaptação do clássico do dramaturgo Anton Pavlovitch Tchékhov, e sim uma inspiração para a transmutação de seu espírito para outro trio fraterno. Exibido no Festival de Berlim do ano passado, o terceiro longa do cineasta de Abluka / Frenzy (2015) é ambientado em uma pequena e antiga aldeia em meio as montanhas da região de Anatólia, onde três irmãs de diferentes idades desejam, cada uma a sua maneira, escapar do provincianismo que domina o lugar. Contudo, até a rota de fuga dali para a cidade demonstra o ciclo de vida a qual elas e os demais personagens estão fadados.


A produção começa justamente no retorno para o vilarejo da caçula Havva (Helin Kandemir), com a pré-adolescente ainda chorando pela morte do menino a qual cuidava. Quem a traz para casa é o Dr. Necati (Kubilay Tunçer), médico que tem um papel importante para o clã do patriarca Sevket (Müfit Kayacan). Dias depois, ele devolve sua filha do meio, a adolescente Nurhan (Ece Yüksel), por cansar de seu gênio forte e ter batido em seu filho, sendo que essa função de “beslemes”, empregada doméstica e babá tratada como filha adotiva por famílias ricas da cidade, era exercida antes por sua irmã mais velha, Reyhan (Cemre Ebüzziya), até esta voltar ao lar grávida.


O trabalho é, ao mesmo tempo, o sustento da família e uma forma de vislumbrarem outra vida, o que faz o pai se esforçar para que o médico leve sua dedicada Havva, enquanto uma debilitada Nurhan luta para retornar ao seu posto e Veysel (Kayhan Açikgöz), o parvo marido da primogênita, vai até Necari para pedir um emprego e que sua esposa volte a cuidar do filho dele. Isso porque o pastor, que na sua apresentação na história já se mostra assombrado por seu erro infantil e por dois homens que rondam a aldeia, deseja um futuro melhor para o seu próprio menino, que assumiu ao se casar com Reyhan, que não demonstra recíproco afeto, mas tampouco se veste da castidade que o público poderia esperar deste contexto. A abordagem bêbada e inoportuna do genro é repreendida por Sevket e o chefe local (Hilmi Özçelik), que costumeiramente o maltratam verbalmente e, não é preciso muito para adivinhar que, um homem tolo e ferido, sob o efeito do álcool, é um perigo.


Isso abre margem para um trágico terceiro ato no que condiz às atitudes extremas e igualmente à imobilidade da situação das protagonistas, no qual o isolamento físico se torna alegórico do estado dessas irmãs. É certo que o retrato dessa vida aldeã, em que Alper imprime fortemente os traços de seus tipos locais e suas estranhezas em determinados casos, por tabela, torna o filme restrito ao caráter cíclico deste ambiente, mas o tom episódico do roteiro cabe a ideia de conto ao qual a obra se presta. É como se, tal qual a cena que precede o nevado epílogo, o espectador se despedisse das personagens e, pela janela do carro ou da tela, visse a tristeza nos olhos delas pela vida que ali continua a mesma, só com menos esperança do que antes.

 

O Conto das Três Irmãs (Kız Kardeşler, 2019)

Duração: 108 min | Classificação: 14 anos

Direção: Emin Alper

Roteiro: Emin Alper

Elenco: Cemre Ebüzziya, Ece Yüksel, Helin Kandemir, Kayhan Açikgöz, Müfit Kayacan, Kubilay Tunçer, Hilmi Özçelik e Başak Kivilcim Ertanoglu (veja + no IMDb)

Distribuição: Supo Mungam Films

Plataformas: NOW e Vivo Play (VOD), a partir de 15 de outubro de 2020



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