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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2020 | Santinho na mão é vendaval

Atualizado: 7 de jan. de 2023


Thomás Aquino e Rodrigo García em cena do filme brasileiro Curral (2020), longa do cineasta pernambucano Marcelo Brennand | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo / Créditos: Daniela Nader)

Em seu primeiro longa ficcional, o cineasta recifense Marcelo Brennand retorna ao universo das intensas campanhas eleitorais no Nordeste brasileiro, voltando a mesma Gravatá, cidade do interior de Pernambuco em que documentou as eleições municipais de 2008 no seu début Porta a Porta (2010). A velha dinâmica da disputa binária entre os representativos partidos vermelho e azul, vista também no recente documentário Camocim (2017) – e que também é reproduzida com suas particularidades em outros cantos do país –, nesta trama, ganha uma nova cor para figurar sobre os telhados do município: o amarelo de uma sigla nova, chamada Avança Brasil, cujo candidato a vereador se diz diferente, livre da velha política. Sim, se esse discurso não soa estranho é porque, provavelmente, a realidade nacional engoliu a ficção ao longo do projeto filmado logo após as eleições de 2018 e que chega ao público, na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, às vésperas de mais uma eleição.


O protagonista desta história, porém, é a figura que faz a ponte entre candidato e eleitor: o assessor de campanha. Chico Caixa, personagem interpretado por Thomás Aquino, de Bacurau (2019) e da série Boca a Boca (2020), é apresentado ao público antes de alçar o posto, ainda como um funcionário municipal que, à revelia das decisões da prefeitura local, pega o caminhão-pipa e leva água para a zona rural da cidade, que sofre com a seca e o desabastecimento. Em um contraste simbólico das discrepâncias socioeconômicas brasileiras e igualmente observadas em outros locais, ele vem suprir a falta deste item essencial com uma camiseta da Coca-Cola, marca ícone de um capitalismo incapaz de fornecer a todos o básico para se viver.


Demitido por causa da ação ilegal, Chico, que também vive em condições limitadas no bairro Caixa D’Água, região periférica também desfavorecida de serviços públicos essenciais na cidade chamada de “Suíça brasileira” pelo tempo frio do inverno, mas sem lograr do desenvolvimento do país europeu, acaba aceitando o convite do amigo para participar de sua campanha. O advogado Joel, papel de Rodrigo García, de Tatuagem (2013) e da novela Amor de Mãe (2019-), que o conhece desde a infância, já foi defensor público e decide enveredar pelo ramo político, prometendo não se aliar nem aos vermelhos, que procuram a reeleição do prefeito envolto em denúncias de corrupção Vitorino (José Dumont em participação especial), nem aos azuis, na oposição do “ficha suja” Aloísio, personagem nunca visto no longa, já que mora em Recife e só vai em Gravataí na época de eleição. Contudo, não é preciso muito para se observar as velhas práticas de compra de voto e pedidos de favores de eleitores, infelizmente tão comuns quanto os jingles chicletes, surgirem na campanha do candidato que dizia trazer mudanças neste panorama, até que outras facetas desse “dízimo político” e de sua “penitência” venham à tona.


A constatação fatalista de Curral, delineada no próprio título, já era manifestada na desconfiança de parte da população durante os encontros de campanha e certamente pressentida pelo espectador, mas falta ao roteiro do diretor e de Fernando Honesko apresentar um pouco mais da relação de amizade entre Caixa e Joel para entender melhor o impacto das ações posteriores deste jogo político em ambos. De certo modo, a narrativa é abastecida totalmente por política, com o desenvolvimento do protagonista sempre perpassado pelo clima ininterrupto de disputa na cidade, seja em seu relacionamento com o filho e a ex-esposa (Mayara Millane) ou no caso com a combativa Mariana (Carla Salle), sem tanto aprofundamento. Brennand empresta sua experiência documental no registro eleitoral deste tema para imprimir certo naturalismo ao filme, mas mantendo o ritmo de um thriller político nessa escalada de tensão que resulta na água, que pauta as promessas dos velhos e novos candidatos e marcada pelo desenho de som de Nicolau Domingues, se tornando o fantasma da consciência do protagonista.

 

Curral (2020)

Duração: 87 min | Classificação: 12 anos

Direção: Marcelo Brennand

Roteiro: Marcelo Brennand e Fernando Honesko

Elenco: Thomás Aquino, Rodrigo García, Carla Salle, José Dumont, Mayara Millane, Thardelly Lima, Clébia Sousa, Fernando Teixeira e Ane Oliva (veja + no site)

Produção: Brasil

Distribuição: Pandora Filmes

> Disponível no Mostra Play, das 22h de 22/10 (quinta) a 04/11/2020 (quarta), com limite de até 2.000 visualizações

> Sessão – Belas Artes Drive-in – 28/10/2020 (quarta), às 18h40



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