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Foto do escritorNayara Reynaud

ABOMINÁVEL | Mensagem universalista

Atualizado: 27 de fev. de 2021


Cena da animação Abominável (2019) | Foto: Divulgação

Um título infantil para um público familiar, mas os interesses são bem adultos. Abominável (2019) é a primeira coprodução do estúdio hollywoodiano DreamWorks com a empresa chinesa do mesmo ramo Pearl, em uma parceria que visa abocanhar o imenso mercado chinês em termos de bilheteria. Não por menos, o longa de Jill Culton ambienta a sua história no país, com personagens locais e uma figura lendária também de lá, a do Yeti, mais conhecido aqui como o Abominável Homem das Neves – outra espécie mítica perdida que gera um interesse recente neste gênero, vide PéPequeno (2018) e o futuro Link Perdido (2019).

Tudo começa na agitação da metrópole Xangai, onde a garota Yi (voz original de Chloe Bennet e de Mharessa na versão brasileira) se desdobra em mil trabalhos ocasionais, os famosos “bicos”, para juntar dinheiro e embarcar na viagem que seu pai, falecido há pouco tempo, sempre sonhou em fazer com ela. Com esse intuito, porém, ela acaba se afastando da família que lhe resta, sua mãe (Michelle Wong) e a impagável avó Nai Nai (Tsai Chin), além de seus vizinhos, o menino louco por basquete Peng (Albert Tsai) e o primo dele e companhia inseparável da infância dela, o agora popular Jin (Tenzing Norgay Trainor). Quem fará a jovem e a plateia repensar seus valores é um Yeti que ela encontra machucado no terraço do seu prédio e que ela chama carinhosamente de Everest (Joseph Izzo), o lar para onde a protagonista e seus amigos fazem todo o esforço possível para o ser perseguido por pessoas com interesses escusos conseguir retornar.

Já por essa descrição é possível vislumbrar a clássica dinâmica da criança ou jovem com o “monstro” que nada tem de assustador, como vistos de amigos dragões e extraterrestres a robôs e seres mágicos tanto em Hollywood quanto, por exemplo, no clássico japonês Meu Amigo Totoro (1988), de Hayao Miyazaki. Tal qual o famoso personagem da animação do Studio Ghibli, aliás, Everest também tem sua dose de magia, revelando aos poucos o seu dom de controlar a natureza de certa maneira – o que torna ainda mais perigoso se ele cair em mãos humanas erradas. Sua habilidade rende belas sequências em que o festival de cores, com certeza, deslumbrará a plateia, além de um paralelo com o talento de Yi, entregando uma mensagem alegórica meio solta de que a música igualmente tem seu poder transformador – uma pena que o aceno ao Ocidente com Fix You, que poderia ter ficado apenas no arranjo instrumental com violinos do sucesso do Coldplay, se estenda à execução da canção dentro dessa versão, com a bela voz de Chris Martin destoando de uma trilha sonora de acordes e tom orientais.

Se o trio juvenil se joga na aventura para salvar o Yeti, o filme não almeja ir muito além de um caminho seguro para agradar plateias de qualquer ponto do globo. Mesmo assim, observa-se uma redundância visual e nos diálogos repetitivos, desnecessária até para o público-alvo. Apesar de apresentar um plot twist na trama, a virada mais surpreendente da narrativa neste caso é subliminar, no simples fato dos estrangeiros serem os antagonistas ou vilões mesmo, seja o colecionador de animais Burnish, dublado originalmente pelo britânico Eddie Izzard, ou a bióloga Dra. Zara, com a voz da norte-americana Sarah Paulson.

Além disso, a parcela chinesa da produção teve o cuidado para que sua cultura fosse representada respeitosamente, bem como o filme tivesse um clima de transcendentalidade oriental, seja na relação com a natureza e a religião ou em suas simbologias. Por sua vez, a moral da obra defende valores universais e bem comuns dentro do gênero, mas sempre bem-vindos, como a empatia, a família, a amizade e a preservação, sendo esta última um tema recorrente na filmografia da diretora e roteirista Jill Culton, com a questão ecológica presente em seu longa O Bicho Vai Pegar (2006) e no roteiro de Monstros S.A. (2001). Assim, por mais que os acordes sejam batidos para os adultos, mesmo neste arranjo diferente, a mensagem chega eficientemente aos seus principais destinatários: as crianças.

 

Abominável (Abominable, 2019)

Duração: 97 min | Classificação: Livre

Direção: Jill Culton e codireção de Todd Wilderman

Roteiro: Jill Culton

Elenco: vozes originais de Chloe Bennet, Albert Tsai, Tenzing Norgay Trainor, Joseph Izzo, Eddie Izzard, Sarah Paulson, Tsai Chin e Michelle Wong (veja + no IMDb)

Distribuição: Universal Pictures

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