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Foto do escritorNayara Reynaud

MARAVILHOSA SRA. MAISEL – 2ª temporada | Mantendo o timing atual

Atualizado: 24 de fev. de 2021


Rachel Brosnahan em cena de "Algum dia...", oitavo episódio da segunda temporada da série Maravilhosa Sra. Maisel (2017-) | Foto: Divulgação

Os diversos prêmios e indicações no último Emmy e nas premiações dos sindicatos, como o SAG Awards 2019, vieram para confirmar a excelência de Maravilhosa Sra. Maisel (2017-), que, para muitos, foi uma surpresa ao ser premiada como a Melhor Série Cômica no Globo de Ouro de 2018. O intervalo de um ano aliado ao crescimento da plataforma de streaming Amazon Prime Video no Brasil, em um mercado dominado pela Netflix, permitiu que o público passasse a conhecer a produção que conta com a assinatura de Amy Sherman-Palladino, criadora de Gilmore Girls: Tal Mãe, Tal Filha (2000-07). Mudando o cenário idílico da fictícia Stars Hallow para uma pulsante Nova York dos anos 1950, a atração apresentou, em sua primeira temporada, como uma separação fez a então dona de casa Sra. Maisel (Rachel Brosnahan) se ver mais do que uma filha, esposa e mãe através da comédia.

Se Miriam, ou simplesmente Midge, passou o primeiro ano aprendendo a como fazê-la, ajustando o seu talento natural para o uso profissional no stand-up, nesta segunda e nova safra, a bela jovem judia de Upper West Side recebe alguns louros, mas ela e sua agente Susie Meyerson (Alex Borstein) também enfrentam uma resistência maior para tentar alavancar a carreira além do palco do Gaslight Café. Da mesma forma, Amy, filha do comediante judeu do Bronx, Don Sherman, tem o desafio de se aprofundar neste universo da comédia nos clubes noturnos e na televisão daquele período – até uma das primeiras edições do Teleton entra na história – na medida em que a protagonista tenta alçar voos maiores. No entanto, isso significa manter o bom equilíbrio desta comédia dramática romântica no roteiro escrito por ela e o marido Daniel Palladino, com os respiros melancólicos necessários para o humor deste texto velocista, como já é de costume em suas obras.

O ritmo frenético de diálogos da dupla continua a guiar a fluidez de sua direção – tendo Jamie Babbit na posição em dois episódios e Scott Ellis novamente à frente de um – que segue o compasso das piadas e de seus intervalos, na sua distinta mise-en-scène circular que, literalmente, rodopia a steadycam acerca dos vários aspectos da vida de Midge, agora em giros e planos-sequências até mais complexos, como na abertura desta segunda temporada ou na cena de dança de Estamos indo para as Catskills!. O quarto dos 10 episódios que compõem esta leva, aliás, não é apenas a demonstração de que Maravilhosa Sra. Maisel conseguiu se tornar ainda mais “kosher” com as férias no resort da comunidade judaica, mas de sua excelência na direção de arte, figurino, maquiagem, penteados e trilha sonora que primam tanto pela reconstituição de época quanto pelo humor. Se a nostalgia virou uma espécie de moeda de troca no entretenimento para atrair o público, a série usa a sua visão aparentemente leve do ano de 1959 para falar do presente, reforçando ainda mais as facetas do machismo daquele momento que ressoam nos tempos atuais, seja por ela ser uma mulher separada ou uma mulher – ainda por cima bonita – na comédia.

Assim, tão logo o público vê que Miriam não mais está no balcão de maquiagem, mas trabalhando de telefonista na B. Altman, também descobre que a virada em sua vida no ano anterior afetou o casamento de seus pais. Marin Hinkle se destaca nos três primeiros episódios com Rose sendo essa mãe que, frustrada pelos problemas familiares, busca seus próprios sonhos na Paris de sua juventude e que traz certas verdades para a universidade. Contudo, toda a pauta feminista inerente da produção não impede um desenvolvimento maior do personagem de Tony Shaloub, que, na pele de Abe, vai do carinho à intransigência como o pai que se surpreende com os seus filhos – porque até o primogênito Noah (Will Brill) e sua nora Astrid (Justine Lupe) recebem mais atenção nesta temporada – e ganha seu próprio arco também no campo profissional, dando espaço para a sátira da paranoia norte-americana de um macarthismo ainda rondando.

No entanto, a coadjuvante que roubou a cena de cara permanece sob os holofotes neste segundo ano, com Alex Borstein, vencedora do Emmy na categoria, mantendo um timing perfeito de sua Susie. Na medida em que a relação dela com sua pupila se aprofunda em uma amizade não declarada por ela, igualmente revela as diferenças sociais evidentes entre as duas. Algo ainda mais evidenciado com a longa parada que a Sra. Maisel, seja a personagem ou a série, fazem em Catskills, na qual as exuberantes férias de verão são um luxo que não pertence à vida da sua agente, que precisa que a carreira da comediante dê certo não apenas por crescimento e satisfação pessoal, mas por necessidade mesmo.

Contudo, há uma complexidade nessa protagonista mimada que torna Midge tão encantadora, graças à atuação de Rachel Brosnahan, já premiada duas vezes com o Globo de Ouro e também com o “Oscar da TV”. Se a habilidade para falar um texto como o de Amy Sherman-Palladino sem gaguejar já seria digna de prêmio, a atriz demonstra as nuances dessa dona de casa de origem privilegiada, tendo de enfrentar o mundo como uma mulher independente, com uma força que ela vai conhecendo, mas também com a elegância que já lhe acompanhava; às vezes, faz isso em uma única cena, como a da apresentação do quinto episódio, À Meia-Noite no Concord, na qual mantém o show continuando, mais rápido do que lhe é comum, enquanto processa suas emoções ao ver quem está na plateia. E mesmo que o público a julgue, como no seu proposital comportamento relapso como mãe ou no final que divide opiniões, há de se notar que as ações e decisões corajosas ou destemperadas de Midge são tomadas por ela mesma.

Mas se o roteiro privilegia até o que seria apenas uma vilã como Sophie Lennon, que ganha mais camadas, ainda que na breve participação especial de Jane Lynch novamente como a comediante, sente-se mais alguns “buracos” de facetas da vida da protagonista que são preteridas quando outra está em foco, assim como a insistência em Joel Maisel (Michael Zegen). É interessante que o ex-marido de Miriam perceba os erros do passado, ainda mais com a aproximação de Benjamin (Zachary Levi, que um dia foi o Chuck da série de ação cômica de 2007 a 2012), um médico que surge como novo interesse romântico dela, mas a redenção do homem que um dia a traiu e abandonou não precisa passar de novo por um sentimento ainda existente na Sra. Maisel, nome artístico que preferiu manter nos palcos e ainda oficial já que não se divorciaram. Talvez, por isso, o último episódio seja um tanto anticlimático em relação ao clímax atingido no nono, mas a season finale deixa tantas expectativas e complicações a serem resolvidas por Midge e pelos criadores na já confirmada terceira temporada, que o espectador continua torcendo pelo sucesso de ambos.

 

Maravilhosa Sra. Maisel (The Marvelous Mrs. Maisel, 2017-)

Série | 2ª temporada: 10 episódios, a partir de 5 de dezembro de 2018

Direção: Amy Sherman-Palladino, Daniel Palladino, Jamie Babbit e Scott Ellis

Criação: Amy Sherman-Palladino | Roteiro: Amy Sherman-Palladino e Daniel Palladino

Elenco: Rachel Brosnahan, Alex Borstein, Tony Shalhoub, Marin Hinkle, Michael Zegen, Nunzio Pascale, Matteo Pascale, Matilda Szydagis, Brian Tarantina, Caroline Aaron, Kevin Pollak, Zachary Levi, Joel Johnstone, Bailey De Young, Luke Kirby, Will Brill, Justine Lupe e Jane Lynch (veja + no IMDb)

 

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