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  • Foto do escritorNayara Reynaud

O PROTETOR 2 | Um motorista cinco estrelas

Atualizado: 17 de mai. de 2021


Denzel Washington em O Protetor 2 (2018) | Foto: Divulgação (Sony Pictures)

O cenário de um trem em movimento para a sequência de ação que abre O Protetor 2 (2018) remete tanto a cenas no mesmo ambiente que povoam filmes de espionagem ou faroestes, mas é neste último gênero que a estreia estrelada por Denzel Washington encontra maiores semelhanças com o cerne de sua história: a figura paterna protetora e salvadora que povoa o imaginário norte-americano e é também muito utilizada pelo cinema de ação. Tanto que, antes de resgatar do vagão a menina sequestrada pelo próprio pai e levada para a Turquia, o astro já assumia este papel salvando outra lourinha, uma então pequena Dakota Fanning, no sucesso Chamas da Vingança (2004), de Tony Scott.

Aliás, esta é a primeira sequência que Denzel faz em mais de quarenta anos de carreira e a razão esta na oportunidade de trabalhar pela quarta vez com Antoine Fuqua. Com o diretor, o ator ganhou seu segundo Oscar, por Dia de Treinamento (2001), e também fez o remake de Sete Homens e Um Destino (2016) e, claro, o primeiro O Protetor (2014). Richard Wenk, roteirista de Os Mercenários 2 (2012) e Jack Reacher: Sem Retorno (2016), também volta à produção para assinar mais uma vez a adaptação da série The Equalizer (1985-1989), em que Edward Woodward era um ex-agente secreto que, ao se aposentar, se transformou em um justiceiro que vendia seus serviços pelos classificados.

Sem a preocupação de apresentar o personagem ao público que desconhecia o seriado oitentista, esta continuação, além de já começar com a ação, apenas mostra a nova rotina de Robert McCall (Washington), que, não mais na loja de construção da história anterior, agora é motorista de aplicativo – no caso, da norte-americana Lyft e não do mais famoso Uber. O espectador que não tiver assistido ou não se lembrar do primeiro longa não está desassistido, pois, entre uma corrida e outra, o texto e a direção deixam pistas do passado e do comportamento deste viúvo que vive em Boston, é um leitor voraz por causa de uma lista deixada pela falecida esposa – porém, sem tanto destaque para os clássicos, como antes, o título que ganha mais evidência é o sucesso contemporâneo sobre racismo nos Estados Unidos, Between the World and Me (“Entre o Mundo e Eu”, de 2015), de Ta-Nehisi Coates – e, com todo o seu perfeccionismo, quase TOC, derruba criminosos quando sente que precisa fazer justiça e/ou vingança; até porque os limites são bem borrados neste tipo de história de justiceiros, com sua bússola moral bem conflituosa. No entanto, a plateia já habituada ao vocabulário visual da franquia se diverte mais quando, por exemplo, o protagonista aciona o seu cronômetro e já se espera a quebradeira que virá em seguida.

Se a proteção da jovem prostituta vivida por Chloë Grace Moretz faz o ex-militar e ex-agente de operações especiais da CIA voltar a usar a violência – graficamente explícita em ambos os filmes – no primeiro, agora, além de mexerem com sua amiga e ex-chefe Susan Plummer (Melissa Leo), entra o jovem vizinho Miles (Ashton Sanders, o Chiron adolescente de Moonlight: Sob a Luz do Luar, 2016) com seu talento para o desenho e a pintura, mas sob o perigo de amizades criminosas para colocar McCall em jogo, além de outros “pequenos serviços” a exemplo da garota do início. Na rotina de justiceiro cotidiano de Robert, entre suas atitudes cidadãs na sua “rotina civil” e seus golpes na “vida secreta de vigilante”, também aparecem o senhor judeu Sam Rubinstein (Orson Bean), vítima do Holocausto que vive em um asilo e é seu cliente fixo, e Dave York (Pedro Pascal), seu antigo companheiro de equipe como agente secreto. A trama central começa mesmo quando um ex-informante da CIA e sua mulher são assassinado na Bélgica, mas o roteiro está longe de ser criativo ou revelador e, quando o principal vilão finalmente se revela, sem tanta surpresa para o público, o personagem em questão, de uma hora para outra, passa a se comportar de maneira maléfica como em uma novela ou desenho animado.

Fuqua, que também tem em sua filmografia o drama de boxe Nocaute (2015) e sua versão do Rei Arthur (2004), continua brincando com a velocidade, mas como o público já conhece a habilidade de McCall em fazer uma rápida leitura do ambiente antes de entrar em combate, usa menos slow motions que dão a sensação de parar o tempo. Nesta sequência, toda a ação é mais rápida e, dentro do possível, carrega mais realismo e a entrada do diretor de fotografia Oliver Wood, de O Ultimato Bourne (2007), pode ser uma explicação. No entanto, todo esse estilo se dissipa em um clímax exagerado, em que além da chuva presente no anterior, se adiciona muito vento, para tornar tudo mais fantasioso.

O Protetor 2 encontra seu equilíbrio no protagonista, constante na atuação de Denzel. Ora precisando demonstrar gravidade, ora sendo terno na interessante relação que estabelece com Sanders; ora violento e inabalável mesmo tendo de manter o controle no volante, ora bem-humorado ao “solicitar” a avaliação de sua corrida, o ator passa credibilidade para um personagem que se diferencia dentro do gênero.

 

O Protetor 2 (The Equalizer 2, 2018)

Duração: 121 min | Classificação: 16 anos

Direção: Antoine Fuqua

Roteiro: Richard Wenk, baseado na série "The Equalizer", de Michael Sloan e Richard Lindheim

Elenco: Denzel Washington, Pedro Pascal, Ashton Sanders, Orson Bean, Melissa Leo, Bill Pullman, Jonathan Scarfe, Sakina Jaffrey, Kazy Tauginas, Garrett Golden, Rhys Olivia Cote e Tamara Hickey (veja + no IMDb)

Distribuição: Sony Pictures

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