Nayara Reynaud
Feliz Aniversário! | Novo ano de vida, nova música
Atualizado: 9 de jul. de 2020
Sim, o NERVOS está completando um ano e ainda é um bebê, seja pela pouca idade de site ou pelo que ainda tem que apreender e melhorar para o público. Por isso, o presente para comemorar esta data especial é para você, leitor: uma playlist de aniversário que mostra como é envelhecer através da música, com canções que revelam os sentimentos, angústias e alegrias de cada idade, a exemplo de 7 Years, da banda dinamarquesa Lukas Graham, em que o eu lírico relembra de como vivia aos 7 e 11 anos, analisa os seus 20, projeta os 30 que estão por vir e imagina como estará aos 60.
A curiosidade e inocência infantil
O início desta passagem por aqui começa com muitas dúvidas e a cantora Paula Toller colocou aquelas típicas e, às vezes, complexas perguntas das crianças, que ouvia de seu filho Gabriel, em Oito Anos, canção que gravou em seu primeiro álbum solo, no ano de 1998, mas que fez grande sucesso na versão de Adriana Calcanhoto para o seu disco infantil de 2004. Chico Buarque coloca a saudade das brincadeiras e travessuras de menino em Doze Anos, música que compôs para a peça Ópera do Malandro (1978).
O autodescobrimento e a agitação desenfreada adolescente
A adolescência mal chega e alguns já encontram seu talento, como Paulinho da Viola e Guilherme Arantes, que com a mesma idade descobriram que iam levar o violão para a vida: aos 14 Anos, o sambista ia contra os planos do pai de vê-lo doutor, enquanto o compositor da MPB também decidia ser cantor, mas para aplacar a inadequação que sentia.
E se a paixão que faz Nasi lembrar de quando tinha 15 Anos, na canção do Ira!, traz um aspecto de aprendizado, Taylor Swift tenta dizer a si mesma, com esta idade, no meio das lembranças do primeiro ano no ensino médio em Fifteen, que o primeiro amor e a primeira decepção são só o início e não o fim.
Mas, às vezes, é tudo ou nada para os adolescentes como o João Roberto, cuja morte não tão acidental assim é contada em Dezesseis, do Legião Urbana. Menos trágica, nesta fase, é o desejo de Chris Brown – que, quando surgiu, parecia ter eternamente dezesseis anos – em conquistar uma garota em Gimme That Remix, a imaturidade amorosa de Rolf e Liesl von Trapp de A Noviça Rebelde (1965) no dueto Sixteen Going on Seventeen ou a Sweet Little Sixteen de Chuck Berry queria apenas dançar e curtir rock'n'roll pelo país.
Aos 17, você também pode ser a rainha do salão, como a Dancing Queen, do clássico disco do ABBA, ou uma rebelde como a Natasha do Capital Inicial, querendo congelar o tempo como Alessia Cara em Seventeen. As lembranças amorosas também podem ser vivas e alegres, a exemplo das de Avril Lavigne em 17, Nando Reis em Quase Que Dezoito, dos meninos do One Direction em 18 ou das cantadas pela banda Daughtry em 18 Years.
E se no auge dessa mudança para a vida adulta, se toma um atalho para ser mais velha, como a garota de She's Only 18, do Red Hot Chili Pepper, aos 18 anos, o mundo bate a sua porta e você não sabe bem o que fazer, como Alice Cooper em I'm Eighteen, ou o que sentir, como a linda rainha com problemas consigo mesma de She Will Be Loved, do Maroon 5. Aos 19, também vão-se embora os velhos amores e o adeus é cantado por Tegan and Sara em Nineteen e por Adele em First Love. A cantora inglesa colocou esses e outros sentimentos vividos nesta idade, como a paixão não correspondida e sonhadora de Best For Last, em seu primeiro álbum, justamente intitulado 19 (2008).
Os sonhos e crises dos vinte anos
Se tudo é energia e determinação nos 20 e Poucos Anos, como canta Fábio Jr., as coisas nem sempre saem como planejado nesse período. Se o pai não aprova o que Belchior faz e tampouco o mesmo aprova o filho que ele fez, em Lira dos Vinte Anos, Elis Regina se espanta com seus mais de 20 Anos Blue, com mais de mil perguntas sem respostas. Quando Adele colocou suas desilusões amorosas no segundo disco, aquele que a catapultaria ao sucesso mundial, tinha os 21 (2011) do título e oscilava entre a frustração e raiva do hit Rolling in the Deep e a súplica esperançosa de I'll Be Waiting.
E se tudo parece uma maravilha aos 22 para Taylor Swift, Lily Allen vê que o futuro brilhante esperado por muitas moças desta idade, se torna uma vida desprezada pela sociedade aos 30, sem uma carreira ou uma marido à vista que possam as tornar distintas aos outros, na crítica mordaz que faz em 22. As separações e abandonos ainda são sentidos aos vinte e poucos anos, como nos 23 de Twenty Three do Yellowcard, ou em algumas faixas do terceiro álbum de Adele, a exemplo de Send My Love (To Your New Lover) em que deixa esse sentimento ir embora, mas os 25 (2015) mostra à cantora inglesa um amor que ela não esperava em seu filho, na bela Sweetest Devotion.
No entanto, essa virada para a segunda metade dos vinte anos, traz um período muito reflexivo e de crises internas, como demonstram várias canções. Belchior tinha vinte e cinco anos de sonho e de sangue que ele via caírem na sua juventude em plena Ditadura Militar no Brasil. Erasmo Carlos cantava que muita coisa que fez ele não quis e sabia de muita coisa que quis mas não fez em 26 Anos de Vida Normal. Enquanto a banda punk paulistana Joelho de Porco falava de um rapaz e sua irmã que frustravam os desejos de seu pai em Meus Vinte E Seis Anos, a banda de rock cristão coloca seu eu lírico decepcionado consigo mesmo aos Vinte e Seis. A depressão que marca esses 26, também aparece na música de mesmo nome do último disco do Paramore e contrasta com o furor que faz o compositor de 26, da banda galesa Catfish and Bottlemen, se apaixonar pela musa da canção.
Mas logo aos 27, talvez você se conforme, como o cantor inglês Passenger, a não saber nada, apenas que está ficando velho e que precisa correr, mesmo sem saber para onde. E aos Vinte e Nove, aprenderá com o que perdeu nestes anos e as suas preocupações serão outras.
Juventude balzaquiana
Em Aquela dos 30, a antes cantora mirim e então balzaquiana Sandy resumia o dilema da idade recém-adquirida no verso "sou jovem pra ser velha e velha pra ser jovem". Uma idade que pesa nos sonhos adolescentes dela e nas costas, assim como nas de Herbert Vianna em Trinta Anos, do Paralamas do Sucesso. A rotina às vezes parece não fazer sentido aos 33, mas há um amor para salvar em Thirty-Three, faixa do clássico álbum do The Smashing Pumpkins, Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995).
A experiência passa a apurar a mente, tal qual o atestado de independência feminina do poema da norte-americana Dorothy Parker (1893 –1967), cantado pela francesa Carla Bruni em Ballade At Thirty-Five, e o corpo, assim como das musas de Tenacious D, em 39, e de Roberto Carlos, em Mulher de 40.
O peso dos anos
Elton John e os Beatles se imaginaram na velhice, mas se o cantor inglês tinha uma visão melancólica e solitária de como seriam seus sessenta anos – que ele viveu nesta última década – em Sixty Years On, de 1970, o quarteto de Liverpool esperava que essa solidão não se realizasse e que seu amor ainda estivesse ao seu lado, quando tivesse 64, em When I'm Sixty-Four.
Além da suposição, o peso da idade acaba ganhando novos e mais diferentes significados em hipérboles etárias utilizadas pelos compositores em suas metáforas, a exemplo de Pitty em 130 Anos, no seu projeto do duo Agridoce, falando da falta de perspectiva e de autoreconhecimento. Frank Zappa colocou os Estados Unidos como a mulher tão má de 200 Years Old quando o país comemorava seu bicentenário, enquanto Raul Seixas contava a história da humanidade em Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás.
E se você, assim como Raulzito, também sabe demais e viu alguma idade que foi cantada em verso e música, mas que passou batida pela nossa seleção, é só deixar a dica nos comentários que, pelo menos até o próximo aniversário, ela entra nessa playlist!