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  • Foto do escritorNayara Reynaud

OLHAR 2021 | Dia 8 – O que é um lar?

Atualizado: 27 de out. de 2021

A noção de lar entra em discussão neste oitavo e último dia da 10ª edição do Olhar de Cinema, seja como o país natal do qual foram forçados a sair no caso dos refugiados sírios do documentário canadense Sonhos de Damasco (Damascus Dreams, 2021), no conforto encontrado ou violado em alguns dos curtas do segundo programa de curtas-metragens da Mostra Competitiva, na casa temporária do amor compartilhado por um marinheiro africano e uma mulher local no capixaba A Matéria Noturna (2021) ou na eterna busca dele com os viajantes de Nós (2021), filme brasileiro que encerra a programação do festival. Confira mais a seguir:

 

Chão de Fábrica (2021), Meu Tio Tudor (Nanu Tudor, 2021), Uma Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui (2021), Vikken (Vikken, 2021) e Tecidos Brancos (Sër Bi, 2020)


Chão de Fábrica (2021)

Diversas questões de gênero permeiam o Programa 02 de curtas-metragens da Mostra Competitiva do Olhar 2021, mas particularmente no que diz respeito às limitações e variadas violências impostas às mulheres.


É justamente em um ambiente circunscrito de um banheiro, porém, o único que lhes permite intimidade e certa liberdade, que se desenrola o curta Chão de Fábrica (2021). Tal qual A Máquina Infernal (2021) no outro programa da competição, a estreia de Nina Kopko na direção encorpa esse movimento recente de curtas-metragistas brasileiros de resgatar, ainda que tardiamente para os trabalhadores, o cinema operário em tempos de ápice da desindustrialização no país. E se o trabalho de Francis Vogner dos Reis trazia o protagonismo feminino, a jovem cineasta faz de seu dèbut um retrato exclusivo em homenagem à presença das mulheres no setor industrial e nos movimentos sindicalistas.


A narrativa acompanha as conversas travadas no banheiro feminino entre as operárias interpretadas por Alice Marcone, Helena Albergaria, Carol Duarte e Joana Castro, durante os intervalos de seu trabalho em uma fábrica em São Bernardo do Campo, em 1979 – em uma ambientação marcada pela escolha estética da imagem semelhante aos filmes da época e da década seguinte, ecoando particularmente o filme de Lúcia Murat, Que Bom Te Ver Viva (1989). Consciência de classe e sexismo no contexto das greves que marcaram aquela região naquele período surgem entre os comentários pessoais e profissionais delas, demonstrando a invisibilidade das mulheres no contexto destas lutas e na memória que se tem hoje delas. Por isso, talvez, se releve o caminho mais didático da narração revelando qual foi/seria o futuro daquelas personagens.


Meu Tio Tudor (Nanu Tudor, 2021)

Outro ambiente que deveria ser de conforto e segurança é apresentado em Meu Tio Tudor (Nanu Tudor, 2021), primeiro e extremamente pessoal curta de Olga Lucovnicova. A diretora nascida na Moldávia e radicada na Bélgica parece iniciar um retrato sobre questões de nacionalidade e herança cultural na visita que faz à família, entretanto, após alguns minutos, o documentário revela como esta aparente redoma foi violada para ela na mais tenra idade. A cineasta, então, confronta o tio do título pelo abuso que sofreu dela quando criança, em uma dura conversa da qual só se ouve o áudio, enquanto as imagens da casa e da ranha enredam o discurso de alguém que ainda não tem noção do mal que fez.


Uma Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui (2021)

O confronto do nacional Uma Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui (2021), por sua vez, não é um embate, mas um encontro de gerações da comunidade lésbica de Niterói, cidade do Rio de Janeiro onde a diretora e roteirista Érica Sarmet nasceu. As fotos e matérias de jornal antigas mostram a luta para ganhar seu espaço, direitos e visibilidade, enquanto o encontro de Vange, personagem de Zélia Duncan em uma das várias homenagens à cantora e ativista Vange Leonel do hit Noite Preta, também presente na trilha sonora, com as jovens interpretadas por Bruna Linzmeyer, Camila Rocha, Clarissa Ribeiro e Lorre Motta traz a memória de tempos de conquistas para o desfrute da liberdade de expressar sua sexualidade que elas hoje gozam. Essa mesma dinâmica acompanha as intervenções à narrativa, entre as lembranças da primeira representatividade lésbica que recordam e a expressão máxima na orgia cinematográfica desta liberdade de ser.


Vikken (Vikken, 2021)

Na sequência, o programa caminha para um panorama mais amplo da temática de gênero, com o francês Vikken (Vikken, 2021) resgatando, em sua primeira parte, a androgenia e transsexualidade presentes na antiguidade e na modernidade. Enquanto o curta de Dounia Sichov exibe um espetáculo de drag kings – mulheres que performam figuras masculinas – em slow motion, a narração traz essas informações, relembrando Caenis e Tirésias na mitologia grega, as santas que viveram como homens em monastérios, o caso dos Tupinambá no Brasil entre outros exemplos pelo mundo no campo antropológico. Somente na segunda metade, Vikken começa a relatar a sua narrativa pessoal e de como o Estado a obriga a se despedir do seu corpo para ser considerado o homem que ele já é.


Tecidos Brancos (Sër Bi, 2020)

Encerrando essa saga, vem o senegalês Tecidos Brancos (Sër Bi, 2020), em que o diretor Moly Kane constrói um drama a partir do conservadorismo da sociedade local, embora a prática não seja única do país africano, mesmo nos dias de hoje. Na véspera de seu casamento, a jovem Zuzana tem o seu segredo descoberto pelas suas familiares, que ao saber que ela já não é mais pura, exige que a noiva faça alguma coisa para reverter a situação de sua virgindade e não levar o nome da família à desgraça. A narrativa acompanha, portanto, a jornada da personagem em busca de uma solução, mas todas as alternativas, de um modo viável, não se tornam viáveis para uma mulher que não aceita se mutilar para se esconder de si.

 

Duração: 24 min | Classificação: 14 anos

Direção: Nina Kopko

Roteiro: Nina Kopko e Tainá Muhringer

Elenco: Alice Marcone, Helena Albergaria, Carol Duarte e Joana Castro (veja + no site)

Produção: Brasil

Meu Tio Tudor (Nanu Tudor, 2021)

Duração: 20 min | Classificação: 14 anos

Direção: Olga Lucovnicova (veja + no site)

Produção: Bélgica, Portugal, Hungria e Moldávia

Duração: 25 min | Classificação: 14 anos

Direção: Érica Sarmet

Roteiro: Érica Sarmet

Elenco: Zélia Duncan, Bruna Linzmeyer, Camila Rocha, Clarissa Ribeiro e Lorre Motta (veja + no site)

Produção: Brasil

Vikken (Vikken, 2021)

Duração: 27 min | Classificação: 14 anos

Direção: Dounia Sichov

Elenco: Vikken (veja + no site)

Produção: França

Tecidos Brancos (Sër Bi, 2020)

Duração: 20 min | Classificação: 14 anos

Direção: Moly Kane (veja + no site)

Produção: França e Senegal


> Sessão – 14/10/2021 (quinta), disponível das 6h às 5h59 do dia seguinte

No site do Olhar de Cinema


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