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  • Foto do escritorNayara Reynaud

OLHAR 2021 | Dia 6 – Muros invisíveis e opressões visíveis

Atualizado: 27 de out. de 2021

As divisões sociais transparecem ao longo dos filmes deste sexto dia de programação da 10ª edição do Olhar de Cinema. Se ela se materializa no confronto entre manifestantes e polícia em Hong Kong no documentário Por Trás da Muralha de Tijolos Vermelhos (理大圍城, 2020), ela emerge no resgate da ancestralidade havaiana no norte-americano Rock Bottom Riser (Rock Bottom Riser, 2021) e nos retratos dos marginalizados no paulista A Cidade dos Abismos (2021), da juventude periférica do carioca O Sonho do Inútil (2021) e dos indígenas paraguaios em Apenas o Sol (Apenas el Sol, 2021). Leia mais a seguir:

 

Por Trás da Muralha de Tijolos Vermelhos (理大圍城, 2020)

O caráter revelatório, evocado desde o título de Por Trás da Muralha de Tijolos Vermelhos, vai bem além do que o público possa imaginar. A descrição da produção realizada por um grupo de documentaristas de Hong Kong que preferiu manter o anonimato para evitar retaliações do governo chinês já é suficiente atrativa para o espectador. O registro das manifestações que insurgiram na região autônoma chinesa a partir do momento em que o Estado decidiu instituir uma lei que previa a extradição de pessoas para serem julgadas na China continental, por si só, é um chamariz pela dificuldade de realizar algo do gênero em um regime tão fechado.


A princípio, o documentário acompanha, em meio aos manifestantes, os protestos do dia 11 de novembro de 2019 – eles ocorriam desde junho daquele ano –, que interromperam o trânsito em frente à universidade PolyU. As imagens de violência recordam outras tantas vistas em manifestações reprimidas pelas forças de segurança em diversos países, mas há uma peculiaridade aqui, na forma como a polícia ameaça e coloca músicas para abafar e ignorar as reinvindicações populares – do outro lado, canções também são utilizadas como forma de criticá-los. Contudo, é a partir do momento em que, contrariando o que haviam prometido, os policiais prendem estudantes, jornalistas e médicos que saíram pacificamente do campus, apertando o cerco no local, que o filme ganha novos contornos.


Para além do entendimento sobre a tensão em Hong Kong e o retrato da violência e repressão em um Estado totalitarista – que não são exclusividades chinesas, nem tampouco se limitam a um viés político –, a posição privilegiada dos realizadores permite uma investigação em tempo real do arrefecimento de um ato revolucionário, entendendo isso como qualquer protesto e não apenas revoltas que procuram por alterações estruturais drásticas. Junto deles dentro do campus, observa-se o cansaço dos manifestantes cansados, mexendo em seus celulares, as tentativas frustradas de sair do cerco e os dilemas sobre fugir ou deixar os feridos desprotegidos para trás, além da vinda de grupos de adultos para resgatá-los, mas sem lhe dar garantias de segurança e gerando uma divisão entre os estudantes acerca de qual ação tomar. A partir do caso honconguês e ampliando para um contexto geral, é possível chegar à conclusão de que, muitas vezes, não falta ímpeto na revolução, mas sim estratégia para concretizá-la, não somente naquele momento-chave, como também parte de um processo contínuo e longo de mudanças para se alcançar seus objetivos.

 

Duração: 88 min | Classificação: 14 anos

Direção: Hong Kong Documentary Filmmaker (veja + no site)

Produção: Hong Kong, Região Admin. Especial da China


> Sessão – 12/10/2021 (terça), disponível das 6h às 5h59 do dia seguinte

No site do Olhar de Cinema


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