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  • Foto do escritorNayara Reynaud

OLHAR 2021 | Abertura – O fim do princípio



Nesta quarta (06) se iniciou o 10º Olhar de Cinema, festival tradicionalmente realizado em Curitiba, mas que retorna em mais uma edição no formato virtual por conta da pandemia, que, desta vez, estrela o filme de abertura O Dia da Posse (2021), de Allan Ribeiro. O pontapé inicial do evento – que segue até o dia 14 – com o novo longa do cineasta de Esse Amor Que Nos Consome (2012) e Mais do Que Eu Possa Me Reconhecer (2015) tem ares de encerramento de uma era, a medida que o seu retrato do cotidiano na quarentena aponta, através de seu carismático personagem principal, para uma crise maior que abrange a juventude brasileira. Leia mais sobre a produção carioca a seguir:

 


Há um prenúncio da dicotomia que reside em O Dia da Posse que pode ser percebido de antemão à sessão do filme que abre esta edição do Olhar de Cinema. Se o título leva à ideia de que o terceiro longa de Allan Ribeiro se debruçará sobre a data em que o atual mandatário assumiu a presidência, a sinopse já indica que o foco está na experiência cotidiana da quarentena vivida por ele e o personagem principal, o baiano Brendo Washington. É claro que existe uma óbvia conexão entre o presidente do país e a pandemia de Covid-19, já que o primeiro contribuiu consideravelmente para que a tragédia mundial ganhasse contornos mais graves, aterrorizantes e sádicos no Brasil – que está prestes a chegar à terrível marca de 600 mil mortes causadas pelo vírus –, e o cineasta carioca faz questão de pontuar isso a princípio com um áudio daquele fatídico dia em que o governante tomou o poder, mas tal associação direta ao evento não é repetida, embora várias reflexões políticas relacionadas sejam levantadas ao longo da produção que confere um significado mais pessoal ao termo que lhe dá nome.


No entanto, elas se diferenciam na medida em que se nota dois filmes em um, sendo cada narrativa conduzida por uma das personagens da obra híbrida em sua ficcional documentação, por vezes, convergindo entre si ou se distanciando. Um deles é o de Ribeiro, que o torna em um, agora, já clássico “filme de quarentena”, com todos os aspectos, pertinentes ou clichês, que caracterizam este recente “subgênero” surgido no ano passado: a câmera entediada de Allan registra sua rotina no confinamento, o voyeurismo na observação dos vizinhos, a tentativa de manter as relações humanas através das videochamadas e a necessidade de expressar sua crítica ao presidente brasileiro por piorar a situação pandêmica no país. Neste sentido, o público pode experimentar, simultaneamente, tanto a identificação quanto o cansaço no retrato deste cotidiano que nos persegue, especialmente a repetição se o espectador já assistiu várias produções do tipo neste período.


Enquanto isso, o cineasta apresenta Brendo como seu protagonista, ao mesmo tempo em que este leva um olhar mais amplo para a narrativa ao expressar suas metas altas – embora não impossíveis – para o futuro e relembrar momentos passados, traçando um panorama da crise existencial dos jovens desta geração, particularmente aqueles que, como o baiano, cresceram com a perspectiva de ascender socialmente, mas, mesmo em melhores condições do que outrora, viram seus grandes sonhos se tornarem uma miragem mais distante nos últimos anos – apesar da citação final à letra de Clube da Esquina II buscar uma mensagem mais esperançosa. As encenações claramente conduzidas pelo diretor não são tão fluídas quanto as cenas em que o personagem fala mais naturalmente sobre diversos assuntos, subentendendo ou frisando, como na discussão sobre o Big Brother Brasil (2002-) e elitismo, a diferença de classes sociais entre os dois que vai influenciar enormemente no resultado final de O Dia da Posse. Ribeiro o traça como um filme sobre o evento que alterou não só sua rotina como sua percepção sobre o mundo que o rodeia, enquanto a vivência de Washington o redesenha como resultado de um processo histórico que não se iniciou, apenas culminou a partir do momento em que tal inapto presidente assumiu seu mandato.

 

Filme de Abertura

Duração: 70 min | Classificação: 12 anos

Direção: Allan Ribeiro

Roteiro: Allan Ribeiro e Brendo Washington

Elenco: Brendo Washington (veja + no site)

Produção: Brasil

Distribuição: Embaúba Filmes


> Sessão – 06/10/2021 (quarta), disponível das 20h às 19h59 do dia seguinte

No site do Olhar de Cinema


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