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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2021 | A geopolítica pela lente do esporte

Atualizado: 13 de nov. de 2021

Se a máxima de que esporte e política não devem se misturar ainda é defendida por algumas pessoas, inclusive, profissionais da área esportiva, em contrapartida, há vários esforços atuais de esportistas e da mídia especializada em demonstrar como é impossível desassociar uma coisa da outra. Dentro da seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, existem alguns filmes como os documentários As Bruxas do Oriente (Les Sorcières de L’orient, 2021), do francês Julien Faraut, e Capitães de Zaatari (Captains of Za`atari, 2021), do egípcio Ali El Arabi, que explicitam como o esporte pode ser reflexo da geopolítica mundial e também seu instrumento. O primeiro longa resgata a história do incrível time de vôlei feminino japonês que conquistou inúmeros triunfos durante a recuperação do país após a II Guerra Mundial e deixou um legado para a modalidade, enquanto o segundo título acompanha o sonho de jovens sírios, alocados no campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, de encontrar no futebol uma saída para si e suas famílias. Conheça mais das duas produções logo abaixo:

 

As Bruxas do Oriente (Les Sorcières de L’orient, 2021)


Cena do documentário francês As Bruxas do Oriente (Les Sorcières de L’orient, 2021), de Julien Faraut, sobre o mítico time japonês de vôlei feminino | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Todo mundo que acompanha ou assistiu, ao menos, a uma competição internacional de vôlei feminino, já ouviu falar sobre a escola japonesa – outros ampliam para a escola asiática – e seu forte sistema defensivo como característica. Nem todos, porém, sabem sobre as origens desse estilo de jogo na vitoriosa seleção do Japão do início da década de 1960, que são justamente o foco do documentário francês As Bruxas do Oriente. O título vem da alcunha dada às jogadoras que quebraram a então hegemonia da União Soviética na modalidade, fazendo “mágica” para não deixar a bola cair na sua quadra com defesas espetaculares, mas o longa de Julien Faraut mostra o árduo caminho para elas alcançarem tal excelência.


A produção exibida no Festival de Roterdã e no IndieLisboa inicia com o reencontro, mais de 50 anos depois, das campeãs septuagenárias relembrando os velhos tempos em um jantar. A equipe do Nichibo Kaizuca foi formada com trabalhadoras de uma fábrica têxtil, no fim dos anos 1950, e, sob o rígido comando de Hirofumi Daimatsu com suas exaustivas sessões de treino que varavam a noite – um dos lemas dele era “faça bons passes para que os ataques sejam incisivos” –, se fortaleceu a ponto de compor toda a base da seleção japonesa que faria história no Campeonato Mundial de 1962, na União Soviética, e em casa, nas Olimpíadas de Tóquio 1964. A narrativa mergulha tanto na exaustão do treinamento, que chegou a chamar a atenção da imprensa estrangeira, quanto no afeiçoamento pela figura paterna ou romântica que o exigente técnico se tornou para elas, além de demonstrar como os Jogos Olimpícos na capital, que deveriam ter ocorrido em 1940, se não fosse a II Guerra Mundial, foram usados como uma vitrine para o Japão recuperar sua imagem no pós-guerra – o diretor evita adentrar nos “pecados” da nação durante este conflito, apenas mostrando a destruição deixada pelas bombas atômicas norte-americanas – e apresentar o desenvolvimento industrial e modernização urbana que seria a marca do país nas décadas seguintes.


No início do longa, Faraut parece jogar apenas o básico, intercalando a memória audiovisual das Bruxas do Oriente em seu auge, enquanto acompanha a rotina atual de algumas delas. Contudo, o jogo do cineasta que trabalhou durante 15 anos no Instituto Francês de Esportes (INSEP) vai ganhando velocidade e distribuição através da montagem de Andrei Bogdanov, seja ao dar um ar videoclíptico à sequência do treinamento ao tenso ao som de Machine Gun do Portishead ou mesclar as imagens de arquivo com o anime Ataque nº1 (1969-71), baseado nos mangás de Chikako Urano. Este último recurso, além de conferir dinamismo, cabe tanto como reverência a uma linguagem tão marcante na cultura japonesa quanto registro da “febre do vôlei” que essas jogadoras causaram no país, também sofrendo com a pressão decorrente disso – o choro delas e o silêncio do treinador ao final da partida revelam o alívio antes de tudo –, mas orgulhosas de terem feito história no esporte.

 

As Bruxas do Oriente (Les Sorcières de L’orient, 2021)

Duração: 100 min | Classificação: Livre

Direção: Julien Faraut

Roteiro: Julien Faraut (veja + no site)

Produção: França


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 1200 visualizações

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 4 – 01/11/2021, segunda às 21h20

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 3 – 02/11/2021, terça às 13h30

+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play

 

Capitães de Zaatari (Captains of Za`atari, 2021)


O jovem jogador de futebol sírio Fawri em cena do documentário egípcio Capitães de Zaatari (Captains of Za`atari, 2021), de Ali El Arabi | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

A abertura de Capitães de Zaatari não é uma das mais animadoras. Apesar da beleza estética, o clima de vídeo institucional da FIFA sobre a presença e importância do futebol em vários lugares, acentuado pela trilha, pode assustar espectadores de festivais como Sundance, CPH:DOX e, agora, a Mostra, fazendo-os se perguntar se o tom sentimentalista perduraria pelos 93 minutos do documentário egípcio. Entretanto, o longa de estreia do jornalista e diretor Ali El Arabi logo deixa isso de lado para atingir o coração do público através da intimidade que adquire de seus personagens, para retratar a amizade de dois jovens refugiados sírios e o sonho deles de construir, através do futebol, um futuro diferente da realidade que vivem desde que precisaram sair de seu próprio país em guerra.


Trabalhando com o tema já há algum tempo, o realizador leva o público ao grande campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, e apresenta os amigos adolescentes Mahmoud e Fawzi, sejam batendo bola ou depositando todas as suas esperanças nela durante as conversas travadas com seus familiares. O primeiro, aliás, recebe a reprimenda paterna por não frequentar direito a escola, enquanto o segundo precisa lidar com a ausência desta figura, já que seu pai se encontra preso em outro acampamento por ter trabalhado ilegalmente fora do assentamento. O destino deles muda quando uma peneira é realizada no local para escolher quais meninos terão a oportunidade de passar por um treinamento intensivo em Doha, no Catar, e participar de um torneio internacional, mas os resultados são diferentes para cada um deles.


Ainda que, no curso do longa, decisões sejam revistas, essa coexistência do sonho e da frustração guiam a jornada dos dois garotos. A experiência na Aspire Academy lhes dá a chance de conhecer grandes nomes do futebol, tanto assistindo ao treinamento do estrelado time alemão Bayern de Munique ou recebendo os conselhos do ex-jogador francês David Trezeguet e do espanhol Xavi, mas o dia-a-dia do treinamento e o desempenho nas partidas servem de lembrete das dificuldades de um esporte tão amado como o futebol, que alimenta o desejo de milhares de se tornarem craques, mas só oferece a poucos a chance de se profissionalizarem. É na amizade genuína de Fawzi e Mahmoud, em conversas que transparecem a vivência da adolescência e as incertezas da vida adulta, que ambos e o próprio filme se sustentam.

 

Capitães de Zaatari (Captains of Za`atari, 2021)

Duração: 93 min | Classificação: Livre

Direção: Ali El Arabi (veja + no site)

Produção: Egito


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 800 visualizações

> Museu da Imigração – 22/10/2021, sexta às 21h00

> CCJ Ruth Cardoso – 24/10/2021, domingo às 16h00

> Circuito Spcine - CCSP - Sala Lima Barreto – 27/10/2021, quarta às 16h30


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