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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2021 | Tragédia à brasileira

Atualizado: 2 de nov. de 2021

A partir desta segunda (25), tem início a programação gratuita da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na plataforma de streaming Itaú Cultural Play. De hoje até o dia 2 de novembro, sempre às 19h, ficarão disponíveis, pelo período de quatro horas, alguns dos títulos da Mostra Brasil presentes na seleção do festival, muitos deles com enfoque no trágico Brasil contemporâneo. É o caso de Antígona 442 a.C. (2021), um peculiar exercício do diretor Maurício Farias e da atriz e roteirista Andrea Beltrão a partir da peça teatral de Sófocles que ecoa a repetição da tragédia grega até os dias atuais da humanidade, especialmente no cenário nacional. Um ciclo repetitivo na nação também move o documentário Memória Sufocada (2021), de Gabriel Di Giacomo, que traça os paralelos entre o período da Ditadura e a recente situação política brasileira. E a trágica história da pandemia no país é o foco de SARS-CoV-2 – O Tempo da Pandemia (2021), dirigido por Eduardo Escorel e Lauro Escorel. Conheça mais sobre esses filmes nacionais a seguir:

 

Andrea Beltrão em cena do filme brasileiro Antígona 442 a.C. (2021), do cineasta carioca Maurício Farias | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Em 2019, a atriz Andrea Beltrão subia aos palcos do país para encenar uma nova montagem de Antígona, tragédia grega composta por Sófocles por volta do ano 442 a.C., que ganhou diferente roupagem no texto de Millôr Fernandes e na direção de Amir Haddad. O ciclo de turnês do espetáculo foi interrompido pela chegada da pandemia de Covid-19, mas isso não impediu que a artista, junto de seu parceiro criativo e de vida, o diretor Maurício Farias, estendesse a obra para outro meio, no caso, o cinema, na medida em que a peça se tornou cada vez mais atual neste contexto. Assim, surgiu Antígona 442 a.C., um filme que é um misto de teatro filmado e documentário sobre o mesmo, sublinhado por comentários críticos da atualidade neste monólogo.


Beltrão chega ao teatro e, direto da sala de ensaios nos bastidores, expõe todos os seus estudos dos personagens da peça e da mitologia grega para contextualizar o público, enquanto, no palco, encena sozinha os trechos desta história. Antígona é uma jovem princesa que desafia a ordem do rei Creonte, que determina que um dos irmãos dela, que lutou na guerra contra ele, fique sem sepultura. Pelo ato sagrado e, mais que tudo, verdadeiramente humano de honrar os mortos, ela é perseguida e punida pelo governante, tomado pela vaidade do poder e todas as mais vis motivações terrenas.


É inevitável a sensação transmitida pelo longa carioca de ser um Telecurso 2000 intensivo de tragédia grega, conduzido pela atriz. Mas, dependendo do interesse e atenção do espectador, seu conteúdo funciona tanto pelo magnetismo da atuação e performance de Andrea Beltrão quanto pelos ecos com o presente, particularmente no contexto nacional, ao instigar, direta ou indiretamente, inúmeras reflexões sobre a tragédia brasileira neste período pandêmico, seja do ponto de vista sanitário, político, social ou moral. Contudo, enquanto obra audiovisual, mais do que certa irregularidade na qualidade de captação de uma “produção de quarentena”, o que se sente são as oportunidades desperdiçadas de explorar recursos para além das ferramentas teatrais, vislumbrados muito rapidamente como no “efeito do microfone” e, principalmente, a breve montagem que liga o teatro à realidade que o cerca.

 

Duração: 70 min | Classificação: 12 anos

Direção: Maurício Farias

Roteiro: Andrea Beltrão

Elenco: Andrea Beltrão (veja + no site)

Produção: Brasil


*Este filme será exibido na plataforma Itaú Cultural Play (gratuita) e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível gratuitamente no Itaú Cultural Play, no dia 25/10/2021 (segunda), das 19h às 23h

> Circuito Spcine - CCSP - Sala Paulo Emílio – 29/10/2021, sexta às 19h00

 

Cena do documentário brasileiro Memória Sufocada (2021), do cineasta paulista Gabriel Di Giacomo | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

A temática da violência de Estado permeia a curta carreira do realizador Gabriel Di Giacomo no cinema. O produtor, roteirista e diretor de vários programas de humor que marcaram a história da MTV Brasil estreou na telona em um tom totalmente diferente com Marcha Cega (2018), documentário que retratava a repressão policial durante as manifestações ocorridas em São Paulo nos últimos anos. Esse interesse segue em seu segundo longa, Memória Sufocada (2021), no resgate da violência durante a Ditadura, das torturas à propaganda ideológica, traçando paralelos com o cenário sociopolítico atual, em que o país é governado por um indivíduo que exalta aquele período.


O cineasta propõe uma arqueologia digital do passado e do presente, usando a tela de um computador como dispositivo para viajar entre os dois tempos e encontrar a reiteração das mesmas ideias e erros enquanto sociedade. São reproduzidas várias gravações de depoimentos da Comissão da Verdade, realizada de 2011 a 2014, que escancaram o tratamento desumano que os militares destinavam aos presos políticos durante o seu regime, assim como as propagandas governamentais da época, um recurso utilizado recentemente, aliás, em outro documentário paulista, Os Arrependidos (2021). Porém, diferente do longa de Ricardo Calil e Armando Antenore, premiado na última edição do festival É Tudo Verdade, que subentendia o paralelo com a atualidade, Giacomo faz questão de frisá-lo com “notificações das redes sociais” que apresentam vídeos de declarações do atual presidente brasileiro e manifestações de seus apoiadores.


Trata-se de uma obra que se desenha sobre a máxima marxiana de que “a História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”, mas que deixa muito a cargo do espectador as reflexões sobre onde a sociedade e os agentes políticos brasileiros erraram para ir da exposição da memória sufocada de um passado sombrio para permitir a sua reprodução no presente.

 

Duração: 76 min | Classificação: 14 anos

Direção: Gabriel Di Giacomo

Roteiro: Gabriel Di Giacomo (veja + no site)

Produção: Brasil


*Este filme será exibido na plataforma Itaú Cultural Play (gratuita) e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


> Circuito Spcine - CCSP - Sala Paulo Emílio – 29/10/2021, sexta às 16h00

>>> Disponível gratuitamente no Itaú Cultural Play, no dia 29/10/2021 (sexta), das 19h às 23h

 

Maurício Ceschin, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde, em cena do documentário brasileiro SARS-CoV-2 – O Tempo da Pandemia (2021), de Lauro Escorel e Eduardo Escorel | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Um grande grafite de pessoas com máscara em um muro da periferia de São Paulo abre o documentário SARS-CoV-2 – O Tempo da Pandemia e, ao mesmo tempo em que a imagem é um indicativo claro do tema do projeto dos irmãos Lauro e Eduardo Escorel, também promete algo que o longa não consegue entregar, de fato: a real experiência destes tempos pandêmicos ou uma análise sobre isso. Filmado em maio de 2021, a produção usa seus minutos iniciais para apresentar, rapidamente, profissionais da saúde de hospitais como o M’Boi Mirim, na capital paulista, e o João Lúcio, em Manaus. Porém, tão logo, o filme vai ao estúdio para ouvir um grupo de especialistas, a narrativa se detém nisto e se revela como um vídeo documentário institucional de um banco brasileiro.


Com uma estética publicitária formal, são colocados no quadro os depoimentos de sete especialistas que formaram o comitê da iniciativa, hoje instituto, Todos Pela Saúde, criada pela fundação do Itaú Unibanco. Paulo Chapchap, diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês; Maurício Ceschin, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde; Gonzalo Vecina, ex-diretor-presidente da Anvisa; o médico oncologista e escritor Drauzio Varella; Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein; Eugênio Vilaça, consultor do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS); e Pedro Barbosa, diretor-presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (Fiocruz) falam como foram surpreendidos pela chegada e dimensão do vírus SARS-CoV-2, citam algumas medidas tomadas pelo grupo de trabalho e comentam impressões gerais sobre a pandemia no Brasil, como o impacto da primeira e da segunda onda em Manaus e o Sistema Único de Saúde (SUS). O fato de ser uma propaganda da ação até poderia passar batido se o filme superasse seu caráter institucional, como, para ficar em um exemplo próximo, João Rocha Rodrigues faz no média-metragem documental Esquina do Mundo (2020), ao construir um retrato humano dos profissionais envolvidos na tarefa de um hospital de cuidados paliativos isolar-se do mundo para proteger seus pacientes da entrada do Covid-19 naquele ambiente.


Por fim, mesmo que se saiba das limitações de rodar uma produção nestes tempos, o documentário não consegue ser eficiente nem como um relatório de resultados para os acionistas e clientes, pois não se acompanha o trabalho do comitê, apenas o relato pouco ilustrativo dele pelos seus integrantes, que mal têm espaço para detalhar e avaliar as suas ações, a exemplo do raro momento em que comentam a experiência fracassada de propor o isolamento das pessoas em alojamentos improvisados em escolas nas periferias. Da mesma maneira, esses especialistas não têm tempo para aprofundar qualquer análise sobre a condução da pandemia no país, apesar de boas, mas breves constatações como a de Drauzio que “a repetição leva à insensibilidade, assim como a violência” ou a de Ceschin: “Não sei se nós tiramos uma lição enquanto sociedade disso”. Há alguns respiros na narrativa quando o filme dá a palavra para os médicos, enfermeiros e cuidadores que trabalharam na linha de frente, mas é insuficiente neste panorama superficial do trauma e luto suprimido pelos brasileiros que vivenciaram esta tragédia.

 

Duração: 70 min | Classificação: 10 anos

Direção: Lauro Escorel e Eduardo Escorel (veja + no site)

Produção: Brasil


*Este filme será exibido na plataforma Itaú Cultural Play (gratuita) e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


> Circuito Spcine - CCSP - Sala Paulo Emílio – 02/11/2021, terça às 16h00

>>> Disponível gratuitamente no Itaú Cultural Play, no dia 02/11/2021 (terça), das 19h às 23h


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