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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2020 | Herdeiras da revolução

Atualizado: 21 de nov. de 2020


Dentre os títulos da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, dois deles se caracterizaram justamente pelo protagonismo de figuras femininas ligadas, direta ou indiretamente, a nomes importantes do socialismo mundial. Seja na herdeira de um de seus teóricos, em Miss Marx (2020), cinebiografia de Susanna Nicchiarelli sobre Eleanor Marx (1855-1898), a filha caçula de Karl Marx (1818-1883); ou na lendária professora boliviana que teria acolhido o revolucionário Che Guevara (1928-1967) em seus últimos momentos, antes de falecer, que precisa comprovar sua história em Os Nomes das Flores (2019), de Bahman Tavoosi. Veja um pouco mais sobre esses filmes a seguir.

 

Miss Marx (Miss Marx, 2020)


Patrick Kennedy e Romola Garai em cena do filme ítalo-belga Miss Marx (2020), de Susanna Nicchiarelli | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Depois do benquisto retrato biográfico da vocalista da banda The Velvet Underground em Nico, 1988 (2017), a cineasta italiana Susanna Nicchiarelli volta a infundir o rock em outro perfil feminino em Miss Marx, seu último longa que traz a figura de Eleanor Marx. Contudo, apesar de começar com o punk do Downtown Boys – o grupo norte-americano é responsável pelas versões na trilha sonora –, o caráter subversivo dessa promessa inicial ou daquilo que se esperaria ao contar a história da ativista socialista, especialmente dedicada à causa sindical e feminista, é frustrado no decorrer de uma cinebiografia até bem convencional sobre a filha caçula de Karl Marx.


Interpretada pela atriz Romola Garai, bem em mais um filme de época, sua personalidade e seu tão importante trabalho vislumbram um pouco de rebeldia nos momentos de interrupção musical ou quando Nicchiarelli arrisca uma quebra de quarta parede. Mas isso não impede que Eleanor, ou Tussy, como era chamada pela família e os amigos, se torne uma personagem presa, tal qual a própria narrativa, em um romance de contornos dramáticos e até trágicos. Desde a primeira cena em que a filha discursa sobre o amor de seus pais, no enterro de Karl, e que a mesma começa a conversar com o autor Edward Aveling (Patrick Kennedy), que viria a se tornar o seu companheiro dali até a sua morte, a protagonista está fadada a ter a sua trajetória dependente dessas figuras masculinas que a decepcionam.


É evidente o quanto a cineasta fica intrigada pelo sentimento paradoxal de Tussy, ao advogar pela igualdade de gênero dentro do ambiente trabalhista, enquanto ficou sob a sombra do pai por anos e, depois, presa a um relacionamento tóxico com um parceiro que gastava seu dinheiro e a traia indiscriminadamente. Há cenas, como no duplo sentido implícito na encenação da peça Casa de Bonecas (1879), do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen que ela traduziu, em que a obra tenta demonstrar seus pensamentos sobre sua relação com o pai e Edward, mas, de resto, a questão não chega a ser aprofundada, ao mesmo tempo em que atrapalha a personagem de ganhar outras facetas além disso. Isso não faz de Miss Marx uma produção ruim, mas a sensação de impotência da protagonista inunda o filme que não consegue revelar a Eleanor por trás da imagem de filha e esposa.

 

Miss Marx (Miss Marx, 2020)

Duração: 108 min

Direção: Susanna Nicchiarelli

Roteiro: Susanna Nicchiarelli

Elenco: Romola Garai, Patrick Kennedy, John Gordon Sinclair, Felicity Montagu, Karina Fernandez, Oliver Chris e Philip Gröning (veja + no site)

Produção: Itália e Bélgica

 

Os Nomes das Flores (Los Nombres de Las Flores, 2019)


Bárbara Cameo de Flores em cena do filme Os Nomes das Flores (Los Nombres de Las Flores, 2019), produção do Canadá, EUA, Bolívia e Catar, dirigida pelo cineasta iraniano Bahman Tavoosi  | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Uma fábula a partir de um acontecimento histórico é criada pelo cineasta iraniano Bahman Tavoosi, em seu primeiro longa-metragem, Os Nomes das Flores. O diretor, hoje residente no Canadá, transformou o seu interesse pela Bolívia e a história de Ernesto “Che” Guevara em uma ficção sobre a importância da morte do revolucionário socialista no país da América do Sul para a população local, mesmo muitos anos depois. A trama se passa durante as preparações da celebração do cinquentenário de seu falecimento, quando as autoridades bolivianas vão atrás de Julia (Bárbara Cameo de Flores), uma professora aposentada da escola que abrigou o guerrilheiro ferido e, segundo a lenda que circula na região, serviu uma sopa a ele e ouviu de sua boca um poema chamado Os Nomes das Flores, em seus momentos finais.


O problema é que outras mulheres vêm reclamar o posto de ser a verdadeira professora e passam a desconfiar da protagonista e acusar que seu único filho explorava o turismo ilegal a partir dessa lenda. Há ideias interessantes nesta resistência feminina da personagem em fazer valer a sua história ou na contradição da repressão das autoridades para celebração de uma figura libertária, mas o potencial narrativo é diluído por uma proposta hermética de Tavoosi. A sua direção contemplativa até encanta, mas não progride a trama, cujo tom fabular indicado pela narração, não é capaz de desenvolver suficientemente as pessoas que compõem este retrato bucólico para que o público crie empatia por elas.

 

Competição Novos Diretores

Os Nomes das Flores (Los Nombres de Las Flores, 2019)

Duração: 79 min

Direção: Bahman Tavoosi

Roteiro: Bahman Tavoosi

Elenco: Bárbara Cameo de Flores, Jorge Hidalgo e Jose Luis Garibaldi Duran (veja + no site)

Produção: Canadá, EUA, Bolívia e Catar



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