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  • Foto do escritorNayara Reynaud

É TUDO VERDADE 2021 | Dia 10 e Encerramento – Encenações do real

Atualizado: 16 de set. de 2022


O festival É Tudo Verdade 2021 termina neste domingo (18) com documentários que usam da encenação para reencarnar a realidade. No último título da competição internacional de longas, o holandês Leonie, Atriz e Espiã (2020), a diretora Annette Apon usa as imagens de filmes locais da primeira metade do século XX para recontar a história digna de ficção de Leonie Brandt (1901-1978), uma atriz teatral que usou o seu ofício para trabalhar como agente dupla para o serviço secreto holandês. Depois, é a vez da sessão de encerramento desta 26ª edição, que traz a produção nacional A Última Floresta (2021), o mais recente trabalho de Luiz Bolognesi que, após passar em Berlim e outros importantes festivais do gênero documental, mostra ao público brasileiro a luta do povo Yanomami para manter suas tradições e a Floresta Amazônica vivas frente tantas ameaças, que são documentadas ou encenadas pelos próprios indígenas na obra. Confira tudo isso a seguir:

 

Cena do documentário nacional A Última Floresta (2021), filme de Luiz Bolognesi | Foto: Divulgação (É Tudo Verdade / Créditos: Pedro J Márquez)

Para encerrar esta 26ª edição do É Tudo Verdade, o evento traz o filme brasileiro mais “viajado” no circuito de festivais deste ano, ate então. A Última Floresta estreou na Mostra Panorama do Festival de Berlim e já passou pelos importantes eventos do gênero documental, Hot Docs e Visions du Réel. Trata-se do terceiro longa do cineasta Luiz Bolognesi, roteirista de renomados trabalhos, como Bicho de Sete Cabeças (2000) e Bingo: O Rei das Manhãs (2017), que, em sua carreira como diretor, se dedica à temática indígena.


Se primeiro abordou essa opressão histórica vivenciada pelos povos nativos do Brasil através da ficção, na animação Uma História de Amor e Fúria (2013), depois foi atrás de documentar a realidade atual deles por meio da figura emblemática de Perpera, antigo líder religioso da tribo Paiter Suruí, que se viu obrigado a frequentar a igreja evangélica instalada no local, no premiado Ex-Pajé (2018), agraciado pelo Prêmio Abraccine no ETV de 2018. Agora, o retrato é mais coletivo no retrato dos Yanomanis de A Última Floresta. Isso não só porque o roteiro do longa é escrito conjuntamente com Davi Kopenawa Yanomami, xamã e líder político da etnia, mas também como as narrativas deles se complementam para abordar, tanto em um plano lendário quanto real, as ameaças ao seu povo e à floresta que eles habitam.


Ocupando o território entre o norte do Brasil e o sul da Venezuela, a Floresta Amazônica é o lar do povo Yanomami há mais de mil anos. Mas tão logo o documentário apresenta a rotina de caça e pesca deles, mantida nos dias atuais, Davi Kopenawa afirma que precisa ir à “terra dos brancos” para falar do perigo que eles e seu habitat estão correndo. A ameaça logo se materializa na sequência seguinte, em que misturando registro e encenação, os indígenas espantam um grupo de garimpeiros, e o líder avisa sobre o risco do rio virar barro como aconteceu com outro na região e do mercúrio usado para o garimpo os deixarem doentes.


A esfera do real, portanto, passa a se mesclar com as lendas da etnia, no mito dos irmãos Omama e Yoasi e da figura feminina de Thueyoma, de onde se originaram os Yanomamis, os rios e os espíritos maléficos que foram escondidos debaixo da terra, junto dos minérios. Somam-se a isso, as tramas do jovem tentado pelos garimpeiros e a promessa de uma vida de fartura dos não-indígenas e da mulher cujo marido foi caçar e não voltou, enfeitiçado por uma entidade da floresta, enquanto se acompanha um ritual xamânico. Bolognesi torna o hibridismo discreto de Ex-Pajé mais evidente com essas ferramentas, a partir do momento em que equilibra a narrativa ocidental com a originária em A Última Floresta, perpetuando através do cinema uma parte da cultura yanomami e, simultaneamente, fazendo do filme um manifesto urgente do avanço dos garimpeiros na Amazônia, já que detidos de agir sobre o território deles desde a repercussão do Massacre de Haximu, em 1993, agora, com o discurso do governo federal atual, se sentem livres para ocupar descontroladamente suas terras e, inclusive, levar a Covid-19 para dentro de suas tribos.

 

Duração: 74 min | Classificação: 14 anos

Direção: Luiz Bolognesi

Produção: Brasil (São Paulo/SP)

Áudio e Legendas: yanomami | legendas em português

> Sessão – 18/04/2021 (domingo), às 19h00

Disponível no Looke, com limite de 2.000 visualizações


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