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  • Foto do escritorNayara Reynaud

O HOTEL ÀS MARGENS DO RIO | O mesmo rio, com águas mais turbulentas

Atualizado: 20 de jun. de 2020


Gi Ju-bong, Kim Min-hee e Song Seon-mi em cena do filme sul-coreano O Hotel às Margens do Rio (Gangbyeon Hotel, 2018), de Hong Sang-soo | Foto: Divulgação (Pandora Filmes)

Quem já assistiu a pelo menos um dos filmes de Hong Song-soo pode reconhecer os maneirismos do cineasta sul-coreano novamente em O Hotel às Margens do Rio (2018). Mesmo que o protagonista seja um poeta em crise, interpretado por Gi Ju-bong, está lá novamente a figura do cineasta no filho coadjuvante (Yoo Joon-sang), assim como as conversas nas mesas de café e os longos planos com zooms até mais contidos do que o habitual. No entanto, como diz o ditado que serve de analogia ao cenário desta história, não dá para se banhar no mesmo rio duas vezes, pois suas águas já não são as mesmas, o que se aplica a este drama familiar até bem diferente do escopo do realizador.


O penúltimo longa do diretor e roteirista, que estreou no Festival de Locarno de 2018 e foi exibido na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e no Festival do Rio do mesmo ano, está sendo lançado agora, diretamente ao VOD, na plataforma digital Belas Artes à la Carte, onde o espectador pode conferir um trabalho mais melancólico dentro de sua filmografia. Algo que não vem necessariamente da escolha pela fotografia em preto e branco, que pautou igualmente os títulos anteriores a este, O Dia Depois (2017) e Grass (2018). Na realidade, o tom vem de uma obra marcada por reflexões sobre finitude, sem aquela mesma visão cômica do quotidiano ou o interesse por exercícios narrativos cronológicos que Hong costuma utilizar e executou tão bem em Certo Agora, Errado Antes (2015).


Parte delas vêm da sensação de proximidade da morte que acomete o poeta Young-hwan (Gi Ju-bong), apesar de não estar doente. Hospedado de graça em um hotel às margens do rio Han, a convite do dono do estabelecimento que é admirador do seu trabalho, o artista recebe a visita de seus filhos, o mais velho e recém-separado Kyung-soo (Kwon Hae-hyo) e o caçula e jovem cineasta Byung-soo (Yoo Joon-sang). O encontro soa mais como uma obrigação paterna para este homem que, tomado por tais pensamentos mórbidos, precisa de alguma forma se despedir de seus rebentos e ter este confronto com suas ações do passado, já que a sua ex-esposa e mãe deles ainda o maldiz por os abandonarem.


Da outra hóspede do local, que se encontra bem vazio pelo rigoroso inverno, surgem os sentimentos finitos após uma separação traumática que deixou até marcas físicas nesta jovem mulher, interpretada por Kim Min-hee, atual musa dentro e fora de cena do cineasta, que aqui tem uma personagem mais apagada do que as de outras colaborações. Ela também recebe uma visita de sua melhor amiga (Song Seon-mi), que lhe demonstra todo o afeto para lhe ajudar neste momento, em um contraste com a intimidade que falta no retrato familiar do protagonista.


Há, neste sentido, um esforço irregular do roteiro em conectar as duas tramas, principalmente através da oposição, que rende a interessante discussão sobre mulheres e masculinidade, tanto pelo viés masculino quanto feminino, mas que também ocorre com detalhes jogados displicentemente na narrativa, como a ligação dos personagens por meio do carro. O principal problema nisso, porém, é a falta de desenvolvimento das duas personagens femininas, cuja subtrama, além de não se integrar tão bem, está sempre à função da principal. Mais que isso, não há chance de ver quem elas são, já que suas conversas se restringem aos homens de suas vidas ou àqueles estão ali ao lado no hotel ou restaurante.


Se a tal amiga define o jovem diretor de cinema da história como um “cineasta ambivalente”, Hong novamente fala de si com um humor autorreferente neste filme que também guarda sua ambivalência. A narrativa frouxa parece característica desses projetos intermediários do prolífico cineasta, tal qual outra produção “rápida” dessa fase mais autocentrada do autor, A Câmera de Claire (2017). Mas ainda assim, o espectador mais fiel se agarrará em alguns bons momentos no drama familiar e na troca de diálogos, bem como o público geral conseguirá tirar reflexões a partir do simbolismo do estado transitório de se estar em um hotel e deste fluxo do rio com os momentos dos personagens, entre seguir com a vida depois de um fim ou lidar com o próprio término dela.

 

O Hotel às Margens do Rio (Gangbyeon Hotel, 2018)

Duração: 96 min

Direção: Hong Sang-soo (ou Sang-soo Hong)

Roteiro: Hong Sang-soo

Elenco: Gi Ju-bong (ou Ju-bong Gi), Kim Min-hee (ou Min-hee Kim), Kwon Hae-hyo (ou Hae-hyo Kwon), Song Seon-mi (ou Seon-mi Song) e Yoo Joon-Sang (ou Joon-Sang Yoo) (veja + no IMDb)

Distribuição: Pandora Filmes

Plataforma: Belas Artes à la Carte (streaming), a partir de 28 de maio de 2020



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