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  • Foto do escritorNayara Reynaud

FEEL THE BEAT | Coreografia simples e didática

Atualizado: 4 de set. de 2020



Não é preciso ouvir, ou sentir, a primeira batida de Feel the Beat (2020) para saber que uma coreografia de clichês invadirá a tela com o novo filme da Netflix. Mas a simplicidade e conhecimento dos passos, por vezes, trazem um conforto bem-vindo ao público, fazendo da produção estrelada por Sofia Carson um bom azarão no seu nível de competição, ao pensar na categoria “Sessão da Tarde” e telefilmes do Disney Channel. No entanto, um olhar mais atento até pode reparar pequenas variações nesta dança, desde o início, por exemplo, com uma trama que começa de modo oposto ao ideal de final feliz deste tipo de história infanto-juvenil.


A atriz da franquia musical Descendentes interpreta April, a quem o espectador depois descobre uma dessas “garotas do interior”, vistas em tantos filmes do gênero, que lutou pelo seu sonho de chegar à Broadway, ensaiando e estudando muito até chegar lá. No entanto, ela é apresentada em um momento posterior, quando a realidade se mostra mais difícil do que o imaginário coletivo: as outras milhares de pessoas que tem o mesmo desejo e tornam a concorrência ainda mais acirrada até pelos menores papéis, tornando o sonho insustentável. A dançarina do coro – ou seja, do corpo de dança e canto que compõe o elenco de um espetáculo musical, mas que, geralmente, não tem falas sozinhos ou caracterização de personagem – mal consegue se sustentar em Nova York, mas é um episódio infeliz logo na abertura do longa que a torna persona non grata entre os colegas da área e a faz perder qualquer possibilidade de trabalho.


Tendo como única alternativa voltar para a casa do pai (Enrico Colantoni), a moça regressa para sua cidade natal no Wisconsin, onde reencontra alguns assuntos pendentes com o ex-namorado Nick (Wolfgang Novogratz, ator de outros telefilmes da Netflix, como o recente Você Nem Imagina, igualmente de 2020). Contudo, o romance não é o centro da narrativa, que sabiamente reside na escola de dança da antiga professora dela, Barb (Donna Lynne Champlin), que April visita com toda má vontade até descobrir ali um atalho para um retorno à Broadway: no caso, aceitar instruir a turma em uma competição, com o intuito de chegar à final, quando terá a chance de se apresentar junto com as alunas para o poderoso diretor Welly Wong (Rex Lee). Mas a tarefa não será fácil, pois as meninas não seguem o padrão esperado no exigente e, por vezes, muito elitizado mundo do showbusiness, com o maior exemplo dentro deste grupo sendo a personagem surda interpretada por Shaylee Mansfield, também deficiente auditiva, e que dá sentido ao título da obra.


Em certo sentido, a escalação criativa desta produção também foge ao padrão. A diretora Elissa Down realizou o romance dramático Sei Que Vou Te Amar (2008) e o drama The Honor List (2018), enquanto o roteirista Michael Armbruster tem no currículo, além da minissérie policial “da casa” Silêncio na Floresta (2020), outros títulos do gênero, End of Sentence (2019) e Tarde Demais (2010), este último na primeira parceria com Shawn Ku na escrita, que se repete aqui. Isso confere um tom de comédia dramática a este filme familiar, que encontra nas personagens infantis e seus responsáveis na trama a fonte de humor e ternura da produção.


O trio, porém, tem seu trunfo quando evita um drama maior em sutis fugas de estereótipos, como ao ninguém na história esboçar nenhum tipo de preconceito quando um menino (Justin Caruso Allan) decide dançar em um ambiente predominantemente feminino ou na hilária cena da briga dos pais. Não tornar temas que constantemente são motivo de conflito para os personagens e discussão em tantas narrativas traz um estágio posterior muito bem vindo, o da naturalização, que também tem sua função educadora – outro exemplo recente disso é a “inversão silenciosa” de estereótipos racistas na dinâmica entre patroa e empregada do drama musical britânico As Loucuras de Rose (2018). Nem tudo é perfeito nesta dança: o roteiro e a direção pulam uns passos, esquecendo algumas subtramas e de fechar o arco de certos personagens, além de encontrar resoluções fáceis, sendo que aquilo que poderia ser resolvido facilmente no dilema final de April é motivo para um conflito forçado. No entanto, é interessante que a lição moral aplicada à protagonista é para dosar sua ambição, mas não suprimi-la, sem transformar em um tudo ou nada no qual a realização profissional não possa encontrar a pessoal.


Por isso, mesmo sem o ritmo irresistível de Escola de Rock (2003), uma das combinações mais famosas de professor e alunos na tela, Feel the Beat tem uma batida envolvente o suficiente para entreter as crianças e deixar algumas lições para o espectador de qualquer idade que estiver de coração aberto.

 

Feel the Beat (Feel the Beat, 2020)

Duração: 109 min | Classificação: Livre

Direção: Elissa Down

Roteiro: Michael Armbruster e Shawn Ku

Elenco: Sofia Carson, Donna Lynne Champlin, Enrico Colantoni, Wolfgang Novogratz, Eva Hauge, Kai Zen, Carina Battrick, Lidya Jewett, Justin Caruso Allan, Shiloh Nelson, Shaylee Mansfield, Sadie Lapidus, Johanna Colón, Dennis Andres, Rex Lee e Pamela MacDonald (veja + no IMDb)

Plataforma: Netflix (streaming)



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