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  • Foto do escritorNayara Reynaud

GODZILLA II: REI DOS MONSTROS | Um Godzilla turbinado, mas sem o motor principal

Atualizado: 13 de jun. de 2021


A hidra de três cabeças Ghidorah contra o famoso Godzilla em cena do filme Godzilla II: Rei dos Monstros (2019) | Foto: Divulgação

Na atual era das franquias em Hollywood, um réptil monstruoso tem reclamado o seu lugar de estrelato como uma das mais antigas do cinema. A figura do Godzilla seria apresentada para o mundo no longa japonês Godzilla / Gojira (1954), que logo seria adaptado pelos norte-americanos em Godzilla, O Monstro do Mar (1956). A produtora e distribuidora Toho produziu mais de trinta filmes sobre o seu famoso kaiju, como são conhecidos esses monstros que se assemelham a animais gigantescos e bestiais, enquanto ele aparecia vez ou outra nos Estados Unidos, como no remake de 1998, assinado por Roland Emmerich.

Há cinco anos, porém, como resultado de um acordo da Toho com a produtora Legendary e a Warner, foi lançado Godzilla (2014) com a intenção de fazer o réptil conquistar Hollywood de vez. Para isso, o personagem foi cercado de toda uma mitologia, de outros kaijus e, depois de Kong: Ilha da Caveira (2017), de outro gigante animalesco famoso dos cinemas, dentro de um mesmo universo. Agora, o chamado Monsterverso ganha um novo e terceiro capítulo na continuação Godzilla II: Rei dos Monstros (2019), que se passa cinco anos depois dos acontecimentos do longa anterior, apresentando novos personagens em conflito familiar, trazendo velhos conhecidos da agência especializada Monarch, introduzindo novos “titãs” como a grande mariposa Mothra e a hidra ou dragão de três cabeças Ghidorah, mas se esquecendo de alguns itens essenciais pelo caminho.

Em grande parte, isso se deve à troca de comando: Gareth Edwards, cineasta à frente do primeiro filme, deu lugar a Michael Dougherty, diretor de Krampus: O Terror do Natal (2015) e roteirista de X-Men 2 (2003) e X-Men: Apocalipse (2016). Escrevendo o roteiro em conjunto com Zach Shields, o texto da dupla traz uma enorme quantidade de diálogos expositivos que tenta se apoiar na “tradição” dos filmes japoneses do “Gojira”, mas que revela grandes deficiências nessa adaptação para um mercado global. Há um momento, por exemplo, no qual um personagem fala exatamente uma localização e informação indicada segundos antes no grafismo na tela, deixando claro o didatismo desnecessário.

Isso não seria um problema tão sensível, se houvesse uma construção narrativa que firmasse a ação e não a deixasse como um mero acessório dela. O longa de 2014 recebeu críticas acerca de seu exagero no tempo dedicado aos dramas humanos do clã de Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson), em detrimento do pouco destaque ao próprio Godzilla. Na tentativa de reverter isso, o resultado foi inverso e se revelou pior quando, ainda por cima, se perde aqui o desenvolvimento gradual da expectativa e tensão que o antecessor fazia bem.

Desta vez, os protagonistas são o ex-casal de pesquisadores da Monarch, Dr. Emma Russell (Vera Farmiga) e o agora recluso Mark Russell (Kyle Chandler), junto com a filha deles, Madison (Millie Bobby Brown), mas esta família foi destroçada por aqueles eventos catastróficos em São Francisco, acontecidos cinco anos antes, no clímax do capítulo anterior. Se o trio de atores, com destaque para Millie na cena em que revela toda a sua decepção com as atitudes de quem admirava, confere um pouco de emoção e envolvimento com o pouco material que têm em mãos, os outros personagens mal têm chance de fazer isso, enquanto voam de um ponto a outro do mundo – como se estivessem em uma “novela internacional” da Glória Perez –, despertando ou tentando conter esses outros monstros pré-históricos radioativos adormecidos debaixo da Terra e, por vezes, servindo como um insosso alívio cômico. Sem desenvolvimento deles ou da narrativa, se encontra uma trama frágil que leva aos confrontos do Godzilla com outros monstros ou humanos, com estes resultando em mais destruições em larga escala, sem tanta preocupação com as vidas existentes nestas cidades ou mares que se transformaram em campos de batalha.

Até aí, um fã do Godzilla diria que não há problema algum, pois o que ele quer ver mesmo é o Rei mostrando seu poder nesta disputa pelo título de macho alfa desse bando de monstros com Guidorah – aparentemente, Mothra é a única fêmea até então, e nem vamos falar do destino dela nessa história... A questão é se o espectador conseguirá, de fato, enxergar o que acontece na tela. A mise-en-scène confusa de Dougherty, com sua movimentação de câmera frequente emulando um found footage em certos momentos, junto à fotografia escura de Lawrence Sher, com uma paleta de cores predominante azulada e grande parte das lutas sendo encenadas no meio de tempestades, de noite ou em lugares fechados, não é uma boa combinação, definitivamente – a sensação é como se um Michael Bay sem o seu inseparável flair dirigisse a Batalha de Winterfell em Game of Thrones (2011-19).

Ainda por cima, sendo o personagem um fruto ficcional do temor nuclear da época e dos traumas deixados no Japão pelas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos, é curioso a maneira que este longa trata a radiação como um combustível para turbinar o Rei dos Monstros, enquanto prega constantemente o discurso ambiental e geopolítico da franquia. A interferência humana na natureza e suas consequências fizeram ressurgir esses Titãs pré-históricos para proteger a Terra da destruição, mas o paradoxo entre fala e ação diminui a mensagem, trabalhada de modo mais eficiente nas produções anteriores. Agora é esperar que o próximo episódio desta saga, o futuro Godzilla vs. Kong (2020) – há uma menção à Ilha da Caverna durante os créditos, deixando a porta aberta para a sequência, além uma cena pós-créditos –, faça justiça aos dois personagens lendários e consiga encontrar o tão falado equilíbrio entre monstros e humanos no filme.

 

Godzilla II: Rei dos Monstros (Godzilla: King of the Monsters, 2019)

Duração: 131 min | Classificação: 12 anos

Direção: Michael Dougherty

Roteiro: Michael Dougherty e Zach Shields, com argumento de Max Borenstein, Michael Dougherty e Zach Shields

Elenco: Kyle Chandler, Vera Farmiga, Millie Bobby Brown, Ken Watanabe, Ziyi Zhang, Bradley Whitford, Sally Hawkins, Charles Dance, Thomas Middleditch, Aisha Hinds, O'Shea Jackson Jr., David Strathairn, Anthony Ramos e Elizabeth Ludlow (veja + no IMDb)

Distribuição: Warner Bros. Pictures

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