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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2020 | Valentina, presente

Atualizado: 17 de set. de 2021


Thiessa Woinbackk como a protagonista do filme brasileiro Valentina (2020), do cineasta mineiro Cássio Pereira dos Santos | Foto: Divulgação (Créditos: Leonardo Feliciano)

Três amigas se encontram antes de irem a uma matinê, que será a festa de despedida de Valentina (Thiessa Woinbackk). O temor da adolescente se confirma na porta da boate, quando o segurança percebe o seu RG falso. Mas se tanto o profissional quanto o público podem acreditar que a jovem fez isso por causa da idade, logo descobrem que seu documento original ainda traz o nome Raul. A descoberta dos “outros” sobre o fato de que a protagonista é uma garota trans e as reações preconceituosas que surgem a partir disso ocorrem mais uma vez naquele mesmo evento e outras vezes ao longo do filme Valentina (2020).


O primeiro longa-metragem do cineasta mineiro Cássio Pereira dos Santos aparece como a segunda bem-vinda produção brasileira recente desse gênero adolescente, a ter uma protagonista trans, assim como sua atriz principal. A primeira foi Alice Júnior (2019), que segue as lições de várias histórias teen, através de um viés mais fabular e até cômico, para contar a chegada da personagem-título a uma nova cidade e escola. Já em Valentina, que tem o mesmo ponto de partida, mas busca uma abordagem mais realista para a questão, o filme é constantemente impossibilitado de seguir essa cartilha do coming of age mais leve na medida em que a protagonista é impedida de ser uma jovem comum nas festas as quais participa e no ambiente escolar. O mundo real obriga Valentina a viver um drama, enquanto Alice toma a adolescência cinematográfica para si, sendo ambos os caminhos necessários para o aprendizado do público em geral.


Isso porque a mudança da garota e de sua mãe (Guta Stresser), para Estrela do Sul, uma pequena cidade do interior de Minas Gerais a qual Márcia foi trabalhar como técnica de enfermagem após passar em um concurso, vem da tentativa das duas de começarem do zero, sem que as pessoas se apeguem ao corpo com o qual Valentina nasceu e sim a quem ela realmente é hoje. Contudo, a ausência do pai (Rômulo Braga), acaba sendo um empecilho para isso, já que é necessária a assinatura de Renato como outro responsável legal para que a estudante seja matriculada com seu nome social no colégio. Algo que pode parecer pequeno para a experiência de alguém cisgênero, mas que contribuiu para a enorme taxa de 82% de evasão escolar entre pessoas trans.


Tudo que a adolescente deseja, como tantos nessa idade, é passar despercebida ao se enturmar com a nova turma. Ela até fica amiga de Amanda (Letícia Franco) e Júlio (Ronaldo Bonafro), mas não só o machismo vem atacá-la sorrateiramente na forma de um abuso durante a comemoração de Ano Novo, quanto o preconceito que sofreu no passado volta a atormentá-la de maneira violenta. Fica à garota o dilema de fugir novamente ou enfrentar o problema de frente.


Cássio Pereira procura uma naturalidade no registro, embora o texto, por vezes, oscile neste sentido, seja em diálogos ou na caracterização de personagens secundários. No entanto, há uma maturidade na sua direção estreante e no elenco principal que valorizam a obra em seu conjunto, com destaque para a revelação Thiessa Woinbackk e Guta Stresser muito bem como essa mãe aliada e preocupada. O projeto ainda conta com uma canção original do trio Tuyo e da artista também paranaense Xan, chamada Eu Nasci Ali, na trilha sonora.



=> Confira as críticas de outros filmes desta 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

 

Valentina (2020)

Duração: 95 min | Classificação: 14 anos

Direção: Cássio Pereira dos Santos

Roteiro: Cássio Pereira dos Santos

Elenco: Thiessa Woinbackk, Guta Stresser, Rômulo Braga, Letícia Franco e Ronaldo Bonafro (veja + no site)

Produção: Brasil

Distribuição: Anagrama Filmes

> Disponível no Mostra Play, das 22h de 22/10 (quinta) a 04/11/2020 (quarta), com limite de até 2.000 visualizações

+ Repescagem de 05 a 08/11/2020 na Mostra Play



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