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CCXP 2019 | Dia 4 – Por trás dos traços

Atualizado: 28 de fev. de 2021


Painel "Furiosas: Mulheres que chutam bundas" na CCXP19 | Foto: Nayara Reynaud

Painel "Furiosas: Mulheres que chutam bundas" na CCXP19 | Foto: Nayara Reynaud



O domingo (8) não foi de descanso no quarto e último dia da CCXP19, realizada de 5 a 8 de dezembro no São Paulo Expo. O encerramento da sexta edição da Comic Con Experience guardou multidões e surpresas, desde o painel da Netflix, com um grande número de fãs se aglomerando para ver os atores da série espanhola de grande sucesso no Brasil, La Casa de Papel (2017-), Pedro Alonso (o Berlim), Alba Flores (a Nairóbi), Esther Acebo (a Estocolmo), Darko Peric (o Helsinki) e Rodrigo de la Serna (o Palermo), e a passagem não anunciada de Henry Cavill pelo evento para divulgar a nova atração da plataforma de streaming, The Witcher (2019). A empresa ainda trouxe Ryan Reynolds, Adria Arjona, Mélanie Laurent, Corey Hawkins e Manuel Garcia-Rulfo, que fazem parte do elenco de Esquadrão 6 (2019) para comentar sobre o novo filme do cineasta Michael Bay para o serviço.

Na sequência, sem a presença de Dafne Keen, a HBO apresentou uma conversa sobre His Dark Materials (2019), com Ruth Wilson e Clarke Peters, sendo seguida pelo lineup dos próximos lançamentos da Warner e a aguardada vinda da diretora Patty Jenkins e da atriz Gal Gadot revelando todos os detalhes do próximo Mulher-Maravilha 1984 (2020), com direito a lançamento mundial do primeiro trailer durante o encontro com o público brasileiro. No meio de toda esta lotação e agitação, as mulheres também eram destaque na abertura do Auditório Ultra, com o painel “Furiosas: Mulheres que chutam bundas” reunindo diversas quadrinistas, ilustradoras e editoras de HQ para falar sobre as questões de gênero na Nona Arte.

Trata-se da quinta edição deste debate na CCXP, que contou com mediação da roteirista Rebeca Puig que levantou entre as convidadas a corrente discussão sobre a presença ou não de política na arte, com cada uma destacando como isso se dá em maior ou menor grau no trabalho delas. A colorista Cris Peter disse que não tem muita autonomia para incluir isso nas obras em que trabalha, mas comentou sobre a última graphic novel que participou, Shadow of the Batgirl (2020), um lançamento mais infanto-juvenil da DC, pelo fato de ser protagonizado pela personagem de ascendência oriental Cassandra Cain. A ilustradora Cinthia Saty considera que o simples fato de levantar e cuidar de duas crianças “já é feminismo”, mas também citou a sua tirinha Maternidade Sincera, em que expressa a sua experiência como “mãe solo”, e seu novo projeto, o artbook Inked Woman, em que retrata mulheres guerreiras asiáticas em nanquim, fora da figura das gueixas ou guerreiras de lingerie, como resgatar a história da pirata Madame Ching.

Sendo uma mulher trans, a artista Luiza Lemos afirmou que “política é seu dia-a-dia”, mas também citou seu recente trabalho na coletânea em quadrinhos O Rancho do Corvo Dourado, uma versão do “Sítio do Picapau Amarelo pós-apocalíptico” para o universo criado por Monteiro Lobato. “Todo o meu quadrinho é silencioso, não tem balões, porque é assim que eu vejo o mundo” ressaltou Ju Loyola, logo depois, com a ajuda de intérpretes de LIBRAS, a quadrinista que faz disso uma forma de representatividade para as pessoas surdas como ela. Já a colega Ana Cardoso citou tanto a sua dedicação à causa pet, na defesa da proteção aos animais que faz em seus trabalhos, quanto na política que vem de maneira implícita na construção dos personagens, por ter vindo de uma família matriarcal: “todas as mulheres da minha família trabalham com cozinha, mas não são vistas com o reconhecimento de chefs”, declarou a mineira que colocou cozinheiras em suas histórias como forma de visibilidade àquelas que a inspiraram.

A desenhista Germana Viana, que explora diversos gêneros, indo do terror ao pornô, relembrou a sua preocupação em alertar a nova geração sobre a AIDS e ensinar formas de proteção durante o sexo. A quadrinista Fefê Torquato disse que, a princípio, por criar empatia com os personagens masculinos que estampavam todas as HQ’s, replicava isso no início da carreira até mudar seu pensamento e chegar ao convite para fazer Tina – Respeito (2019), graphic novel da personagem do universo de Mauricio de Sousa que trata do problema do assédio, mas tem também “uma protagonista que ouve o que as outras estão falando”. Para Adriana Melo, que fazia ilustrações ao vivo, durante o painel, “mais importante do que ser um homem ou uma mulher é você captar o espírito do personagem”, afirma a artista que acredita em tais divisões mais presentes “na cabeça do leitor do que em quem produz”.

Representando tanto as mulheres na edição de quadrinhos quanto os profissionais da Região Norte nesta área, como bem frisou ao falar da necessidade de descentralizar a produção, Sâmela Hidalgo declarou que há detalhes somente observados por ela, no meio de seus colegas homens, na forma como personagens femininas são apresentadas. No entanto, ela reforçou os títulos com protagonistas no catálogo da Devir Editora em que trabalha, a exemplo do quarteto de Paper Girls (2015-19) e as cinco escoteiras de Lumberjanes (2014-), além de Estranhos no Paraíso (1993-2006) e a série Saga (2012-). O lado analítico para a Nona Arte e a cultura pop, em geral, não ficou de fora com a presença de Anne Caroline Quiangala, acadêmica que criou o blog Preta, Nerd & Burning Hell como uma forma de outras pessoas terem acesso ao material que ela pesquisava durante o mestrado e, especialmente, para o público nerd “entender as coisas que a gente consome”.

 

Datas: 05 a 08 de dezembro de 2019

Endereço: São Paulo Expo (Imigrantes, São Paulo-SP)

*Cobertura realizada em parceria com o Feito Por Elas


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