top of page
  • Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2019 | Dia 8 – Novas e velhas experiências

Atualizado: 28 de fev. de 2021


Cobertura do 8º dia da 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, com crítica do filme norte-americano Adam (2019) e outros.

 

(Adam, 2019)

Nicholas Alexander, Margaret Qualley, Chloë Levine, Colton Ryan e outros em cena do filme norte-americano Adam (2019), de Rhys Ernst | Foto: Divulgação (ABMIC)

Exibido no Festival de Sundance, Adam (2019) é um daqueles casos em que a polêmica chega antes do filme em si. É claro que muita da discussão já vem de seu material original, o livro homônimo de Ariel Schrag, que aqui adapta para a tela o próprio romance publicado em 2014. Mas, como na maioria das vezes, a controvérsia antecipada inviabiliza a espera para ver como a obra irá tratar de tal questão, o que Rhys Ernst faz com genuína sinceridade em seu primeiro longa.

A história que se passa em 2006, acompanha o adolescente do título, interpretado por Nicholas Alexander, nas suas férias de verão com a irmã Casey (Margaret Qualley), que está estudando em Nova York e, lá não esconde a sua homossexualidade como faz com seus pais. Adam, então, é apresentado à comunidade LGBT da Big Apple naquela época e, por causa de seu jeito um pouco andrógeno, o garoto cisgênero e hetero acaba sendo confundido com um homem trans, mas mantém o “engano” para poder ficar com Gillian (Bobbi Salvör Menuez), uma jovem lésbica que é uma espécie de modelo por um episódio na sua época de escola. Ele chega a consultar vídeos no “pré-histórico” para entender mais sobre a transição e vivência transgênero a fim continuar a farsa, ao mesmo tempo em que se mortifica com a mentira.

Feito por um diretor e atores trans em seus devidos papéis – uma evolução na carreira do próprio Ernst em relação à série que produziu, Transparent (2014-19) –, o filme se desculpa, de modo claro em seu texto, de sua premissa possivelmente transfóbica. A ambientação na década passada também explica a desinformação ao tema em relação aos tempos atuais – e a bem da verdade, seria até bem maior, se o cenário fosse fora dessa comunidade. Ainda assim, a produção se coloca mais como uma introdução conscientizadora ao universo queer do que um produto para quem já está inserido neste mundo, a partir do momento em que o protagonista é transformado por esta experiência fora da sua realidade suburbana na Califórnia, mas não é premiado pelos seus atos errôneos.

Ernst estabelece esta desconstrução de forma genuína, mesmo que imperfeita, já que a perfeição não é algo que a obra almeje. Assim, falta desenvolvimento em alguns personagens como a irmã dele, já que a talentosa Qualley poderia oferecer bem mais se Casey fosse mais do que a garota dependente em seus relacionamentos, mas há o crescimento do arco do colega de quarto Ethan (Leo Sheng) e o aprendizado também à Gillian que diz respeito à questão da dificuldade da visibilidade bissexual dentro do próprio meio LGBT+. Por isso, o final de Adam acerta em cheio na sua mensagem sobre como projeções e expectativas podem ser confusas e não devem impedir de ver a beleza além de rótulos ou nomes.

 

Duração: 96 min | Classificação: 12 anos

Direção: Rhys Ernst

Roteiro: Ariel Schrag, baseado no livro “Adam” de Ariel Schrag

Elenco: Nicholas Alexander, Bobbi Salvör Menuez, Margaret Qualley, Leo Sheng, Chloë Levine, Colton Ryan, Maxton Miles Baeza e Dana Aliya Levinson (veja + no IMDb)

Produção: Estados Unidos

> Espaço Itaú Frei Caneca 3 – 24/10/2019, quinta às 17h10

> Cinemateca – Sala BNDES – 26/10/2019, sábado às 20h20

> Cinearte 1 – 28/10/2019, segunda às 20h00

 

(Kopfplatzen, 2019)

Se o espectador já não sabe previamente o conteúdo de Mente Perversa / Head Burst (2019), o filme do alemão Savas Ceviz não faz questão de esclarecer logo no início o que aflige o bonito e quieto arquiteto Markus. Interpretado por um Max Riemelt em boa performance – o ator é mais conhecido pela série Sense 8 (2015-18) e pelo longa A Onda (2008) –, o protagonista é apresentado ao público se masturbando na primeira cena, mas a abertura não revela o conteúdo pornográfico que o excita nem o porquê do seu choro posterior. Ainda nesses minutos iniciais, os olhares e o isolamento deste personagem deixam a questão em aberto, mas não tarda à narrativa esclarecer à plateia de que ela acompanhará a vida e, especialmente, essa mente perturbada de um homem com predisposição à pedofilia.

Tratando-se de um tema delicado por si só, a simples abordagem dele gera um potencial polêmico que não deixa de atingir o segundo longa de Ceviz na direção, o primeiro ficcional do produtor-executivo com larga experiência na TV. A obra traz um olhar inédito para o assunto, levando à compreensão sobre o transtorno psiquiátrico como uma condição inata e incurável para o indivíduo diagnosticado como pedófilo. Tanto que o roteiro de Savas tenta delimitar de modo bem claro o embate de Markus entre o seu desejo incontrolável e a necessidade e responsabilidade dele por suas ações, estas sim, controláveis.

No entanto, ao mergulhar no ponto de vista dele, o diretor abusa de closes carregados de erotismo em partes das crianças “observadas” pelo personagem, que acabam por incorrer na exposição e na própria sexualização indevida infantil a qual discorre. O filme, então, fica preso no mesmo dilema de seu protagonista: como viver se seus desejos são, além de proibidos, imorais e você é uma ameaça constante aos outros? Se Ceviz evita os julgamentos anteriormente, ao final, o cineasta prefere a condenação mais vil e simplista possível para uma questão tão complexa e pertinente.

 

Duração: 99 min | Classificação: 18 anos

Direção: Savas Ceviz

Roteiro: Savas Ceviz

Elenco: Max Riemelt, Oskar Netzel, Isabell Gerschke e Luise Heyer (veja + no IMDb)

Produção: Alemanha

> MIS / Museu da Imagem e do Som – 24/10/2019, quinta às 19h30

> Circuito Spcine Paulo Emílio / CCSP – 26/10/2019, sábado às 15h

0 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo
bottom of page