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Foto do escritorNayara Reynaud

PREDADORES ASSASSINOS | Corações dilacerados e mentes afundadas

Atualizado: 27 de fev. de 2021


Kaya Scodelario e Barry Pepper em cena do filme Predadores Assassinos (2019) | Foto: Divulgação

Desgraça pouca é bobagem, já bradava o dito popular que resumiria bem a sucessão de acontecimentos desastrosos que se sucedem na trama de Predadores Assassinos (2019). No novo filme do francês Alexandre Aja, não basta um furacão de nível 5. Crocodilos à solta, inundações e o que mais puder vir de um cenário apocalíptico na Flórida também serão usados contra Haley (a anglo-brasileira Kaya Scodelario) e Dave (o canadense Barry Pepper) e, ao mesmo tempo, a favor do desenvolvimento de uma alegoria da fragilizada relação desta filha e seu pai.

O diretor de Alta Tensão (2003) promove então uma junção do terror de feras animais, que já exercitou em Piranha 3D (2010), com os típicos filmes catástrofes. Se existem exageros, talvez na luta por sobrevivência que se desenrola neste ambiente tão inóspito, não há necessariamente na probabilidade de sua premissa, vide os crocodilos que quase escaparam de uma fazenda durante o ciclone Idai em Moçambique, no início do ano. Na realidade, o roteiro dos irmãos Michael e Shawn Rasmussen, responsáveis pelo script do Aterrorizada (2010) de John Carpenter, é bem sincero desde o início ao justificar as ações de sua protagonista no decorrer da trama, apresentando Haley como uma nadadora universitária já na abertura do longa.

Direto, talvez, seja a melhor palavra para definir a produção rodada na Sérvia para emular a Flórida, partindo de sua violência explícita, na exposição sanguinária que sempre marcou a filmografia de Aja. O diretor explora eficientemente a tensão deste ambiente restrito e tem a vantagem de não depender muito da burrice dos personagens para o andamento da narrativa, como ocorre geralmente no gênero. Entre a brutalidade das rajadas e dentes, porém, este filme B encontra seu coração na genuína relação humana dos agentes desta ação.

Dave foi o treinador da filha, convenientemente chamando-a de “predadora” desde pequena, entretanto, depois de sua separação, tem se afundado na tristeza e na bebida. Enquanto isso, Haley se afastou dele, sentindo talvez uma parcela de culpa na ruptura familiar, bem como a pressão de precisar ser a melhor dentro e fora da água. O texto alterna momentos ternos e outros mais sentimentalistas, mas por mais explícita que seja sua construção alegórica deste drama familiar, a obra funciona de maneira eficaz na sua simplicidade e com o empenho dos atores.

Ainda que seja conveniente para os desastres da trama, o fato de Dave estar na parte subterrânea da antiga casa da família tem a sua simbologia desse estado depressivo em que ele se encontra, bem como os crocodilos que os atacam e a água que os submerge carregam as metáforas de um relacionamento dilacerado entre pai e filha, também afogados em seus dilemas pessoais. Da mesma maneira, o protagonismo feminino confere outra dimensão no momento em que a jornada da personagem de Scoledario, na psicologia intrínseca à fisicalidade de sua interpretação, traz toda uma identificação na busca dela por autoconfiança frente às mil armadilhas que a vida lhe impõe. Se a música de Bill Haley & His Comets nos créditos finais diz See You Later, Alligator, o filme também sabe que os verdadeiros predadores da dupla nunca vão embora, mas que afastar-se do perigo deles já é suficiente.

 

Predadores Assassinos (Crawl, 2019)

Duração: 97 min | Classificação: 16 anos

Direção: Alexandre Aja

Roteiro: Michael Rasmussen e Shawn Rasmussen

Elenco: Kaya Scodelario, Barry Pepper, Morfydd Clark, Ross Anderson, Jose Palma, George Somner, Anson Boon, Ami Metcalf e Tina Pribicevic (veja + no IMDb)

Distribuição: Paramount Pictures

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