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HISTÓRIAS ASSUSTADORAS PARA CONTAR NO ESCURO | O poder da palavra

Atualizado: 27 de fev. de 2021


Zoe Margaret Colletti em cena do filme Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (2019) | Foto: Divulgação

Já no início de Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (2019), a voz off da protagonista exalta o poder das narrativas, tanto para curar ou machucar. Uma capacidade apreciada por aquele responsável pelos livros infanto-juvenis que inspiraram o longa de André Øvredal, diretor norueguês de O Caçador de Troll (2010) e A Autópsia (2016). A força das histórias contadas e repetidas por gerações foi o que, desde o princípio, interessou o escritor norte-americano Alvin Schwartz, cuja ampla pesquisa sobre folclore e lendas urbanas rendeu Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (1981), o primeiro de uma bem-sucedida série de três coletâneas de contos de terror, ilustrada por Stephen Gammell e publicada até 1991.

No entanto, querendo fugir da estrutura antológica original, o produtor Guillermo del Toro, novamente trabalhando no gênero que tanto lhe apetece, percebeu a necessidade de se criar uma outra história que pudesse ligar algumas daquelas descritas pelo autor. Cria-se, então, os personagens que serão protagonistas e/ou observadores do terror desses contos, além de um livro no qual os horrores de cada um deles ganha vida nesta trama. O objeto, então, ultrapassa a vocação de MacGuffin para servir como artifício narrativo introdutório do material literário, no roteiro adaptado pelo cineasta mexicano e pelos irmãos Dan Hageman e Kevin Hageman, vindos das animações infantis Hotel Transilvânia (2012) e Uma Aventura Lego (2014).

É escolhido o emblemático ano de 1968 como pano de fundo dessa nova narrativa, ambientada na pequena e fictícia Mill Valley, na Pensilvânia, onde a adolescente Stella Nicholls (Zoe Margaret Colletti, do filme Vida Selvagem, de 2018) vive sozinha com o pai e o peso do abandono da mãe. Além das histórias de terror, que adora ler e ver ou escrever as suas próprias, os também excluídos Auggie (Gabriel Rush, presente em O Grande Hotel Budapeste, de 2014) e Chuck (Austin Zajur, da comédia Te Pego na Saída, de 2017) são sua única companhia. É com os dois amigos que ela passa o Halloween e, por força das circunstâncias, esbarra no jovem viajante Ramón Morales (Michael Garza, de Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1, de 2014), com quem o trio decide visitar, convenientemente, a casa mal-assombrada da região, que guarda a lenda de Sarah Bellows, a estranha filha da família fundadora da cidade e a dona do tal livro que movimenta a trama.

Isso porque o tal artefato é capaz de “ler” aqueles que ousam se aproximar dele, materializando seus piores medos da infância e juventude, em alegorias bem diretas ao pesadelo que é a adolescência. O retrato da cidade interiorana sem muita perspectiva para os jovens, aliás, traz um pouco à memória o que seria um IT – A Coisa (2017) sessentista, abrindo com Season of the Witch do britânico Donovan – e fechando com a versão de Lana Del Rey da mesma música, feita especialmente para esta trilha sonora. No entanto, além de não conseguir atingir em cheio o feito anunciado no seu título, Histórias Assustadoras carece de um maior desenvolvimento dos personagens, para fazer o público criar mais empatia pelos seres humanos que habitam estas fábulas ao lado dos monstros, seja mesmo enquanto um grupo, como a adaptação de Andy Muschietti para o best-seller­ de Stephen King consegue.

O que Øvredal e toda a equipe criativa conseguem assinalar bem é o terror real que ocorria naquele período, em paralelo à fantasia contada. A campanha de reeleição de um contestado presidente como Richard Nixon e Guerra do Vietnã surgem na TV e no caminho dos personagens, traçando a simetria da narrativa construída naquela época com a atualidade em seu cenário político e, especialmente, na questão da imigração no preconceito e insultos proferidos constantemente ao latino Ramón. O resultado final, portanto, é regular, com um filme que fica abaixo de seu potencial como uma obra que fala justamente da importância das narrativas, mas abre caminho para outras histórias, talvez, mais assustadoras virem às telas em prováveis sequências.

 

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (Scary Stories to Tell in the Dark, 2019)

Duração: 111 min | Classificação: 14 anos

Direção: André Øvredal

Roteiro: Dan Hageman, Kevin Hageman e Guillermo del Toro, com argumento de Marcus Dunstan e Patrick Melton, baseado na série de livros “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” de Alvin Schwartz

Elenco: Zoe Margaret Colletti, Michael Garza, Gabriel Rush, Dean Norris, Gil Bellows, Lorraine Toussaint, Austin Zajur, Natalie Ganzhorn, Austin Abrams e Kathleen Pollard (veja + no IMDb)

Distribuição: Diamond Films

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