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  • Foto do escritorNayara Reynaud

CASAL IMPROVÁVEL | Minha querida candidata

Atualizado: 27 de fev. de 2021


Seth Rogen e Charlize Theron em cena na comédia romântica Casal Improvável (2019) | Foto: Divulgação (Paris Filmes)

Mais exata que as Leis da Física é a dedicação das comédias românticas à máxima de que os opostos se atraem. O novo filme de Jonathan Levine, Casal Improvável (2019), é mais um exemplar que aposta no romance de diferenças, seja ao colocar Charlize Theron e Seth Rogen interpretando dois tipos bem distintos ou na sua curiosa mistura dentro do gênero. Se tramas amorosas na Casa Branca não são inéditas e se tornaram um filão nos anos 1990 e início dos 2000, Dan Sterling, que já satirizou a geopolítica internacional em A Entrevista (2014), e Liz Hannah, que também abordou o tema no drama jornalístico The Post: A Guerra Secreta (2017), roteirizam um longa que opta pelo humor escrachado para versar sobre os encontros e desencontros do amor e da política.

A dose ácida já era de se esperar de um filme estrelado por Seth Rogen, que já trabalhou com Levine em 50% (2011) e Sexo, Drogas e Jingle Bells (2015). O ator segue com seu tipo de sempre, que funciona na pele de Fred Flarsky, um cara desleixado quanto aos seus figurinos, mas um jornalista incansável cujos princípios inabaláveis o fazem pedir demissão quando o jornal independente em que trabalhava é comprado pelo conglomerado de mídia de Parker Wembley (Andy Serkis, irreconhecível atrás da maquiagem para transformá-lo em uma espécie de Rupert Murdoch). Uma nova e inesperada chance de emprego surge quando ele reencontra, ao som de Boyz II Men, Charlotte Field (Charlize Theron), a atual Secretária de Estado que, nos tempos de colégio, foi a sua baby-sitter – pela qual o jovem era encantado – e agora resolve nomeá-lo como o redator de seus discursos na sua pré-campanha para uma candidatura à Presidência dos Estados Unidos.

Se no seu trabalho anterior, Meu Namorado é um Zumbi (2013), Jonathan Levine conseguiu uma junção mais orgânica de gêneros na comédia romântica com elementos de terror, o diretor não consegue o mesmo equilíbrio, com altos e baixos no ritmo da narrativa, em suas duas horas de duração. As piadas de sexo, drogas e humor físico presentes no roteiro e na direção diluem um pouco do desenvolvimento do casal, mas o empenho dos atores consegue sustentar o envolvimento do público pela relação que está sendo construída, ainda mais tendo Roxette como trilha sonora. Tanto que ganhou o prêmio da audiência no festival South by Southwest deste ano.

Esse reconhecimento também vem do fato de que as intenções da obra fazem boa parte dos espectadores não prestarem tanta atenção na execução, por vezes, irregular. Embora a ideia do encontro entre a Princesa e o Plebeu não seja nova, não é tão comum à mulher estar na posição de poder nesta dinâmica romântica. Geralmente, é a figura feminina inferior que precisa se transformar na Bela Dama pelas mãos de seu Pigmaleão, mas aqui Fred goza da liberdade masculina para não passar pelo mesmo tipo de transformação, apesar do personagem precisar amadurecer durante o seu arco dramático.

Apesar do seu idealismo ao vislumbrar a possibilidade de uma mulher na presidência norte-americana, o filme assinala constantemente a necessidade de Field sempre se reafirmar, de precisar provar sua competência no seu cargo ministerial, sendo um “braço direito” melhor do que o próprio líder dos EUA, com Bob Odenkirk ótimo encarnando Chambers, um ator que interpretou um presidente em uma série televisiva e eventualmente se tornou um. Inserções jornalísticas entram para pontuar cada um dos passos de Charlotte, com destaque para os comentaristas machistas que entram quase como a Gail e o John de Elizabeth Banks e John Michael Higgins em A Escolha Perfeita, com a diferença de que os ironizados são eles mesmos. Assim, por mais que a plateia seja brindada com a oportunidade de ver uma Charlize Theron mais solta em sua verve cômica, é o seu comprometimento com os dramas da personagem, em seus sacrifícios para manter sua imagem pública, que criam empatia com o público.

Além do machismo nosso de cada dia, o texto de Sterling e Hannah também toca em diversas questões políticas, desde problemas ambientais à imprensa em crise e também o racismo, com direito a um prólogo com o jornalista infiltrado em um grupo neonazista. No entanto, em uma cena do protagonista com o amigo Lance (O'Shea Jackson Jr.), já no terceiro ato, a obra demonstra que a sua preocupação com pautas progressistas em tempos de maior conservadorismo não a impede de ser crítica ao discurso, por vezes, contraditório dos liberais com outras visões de mundo. Por isso, Casal Improvável fala do desafio das diferenças, não só na combinação desses opostos amantes e na sua estrutura, mas também no desenvolvimento de seus protagonistas: se Charlotte está no dilema de seus princípios e aspirações versus as necessidades do jogo político, Fred é um purista irredutível com seus ideais, que precisa aprender a importância da diplomacia e do diálogo com ambas as partes, em uma lição para todos atualmente.

 

Casal Improvável (Long Shot, 2019)

Duração: 125 min | Classificação: 16 anos

Direção: Jonathan Levine

Roteiro: Dan Sterling e Liz Hannah, com argumento de Dan Sterling

Elenco: Charlize Theron, Seth Rogen, June Diane Raphael, O'Shea Jackson Jr., Ravi Patel, Bob Odenkirk, Andy Serkis, Randall Park, Tristan D. Lalla, Alexander Skarsgård e Aladeen Tawfeek (veja + no IMDb)

Distribuição: Paris Filmes

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