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  • Foto do escritorNayara Reynaud

X-MEN: FÊNIX NEGRA | O voo claudicante da Fênix

Atualizado: 26 de fev. de 2021


Sophie Turner em cena do filme X-Men: Fênix Negra (2019) | Foto: Divulgação (20th Century Fox)

Criados por Stan Lee e Jack Kirby em plena ebulição da luta por Direitos Civis nos Estados Unidos – a primeira história em quadrinhos da equipe foi publicada em 1963 –, os X-Men foram logo apontados como uma alegoria sobre a segregação racial, embora a figura dos mutantes sirva de símbolo a todos aqueles rejeitados pela sociedade, que, por serem diferentes, são considerados nocivos. Até o próprio embate ideológico entre o Professor Xavier e Magneto representa esses pontos de vista discordantes na maneira de atuar na proteção de grupos segregados, como ocorria naqueles anos 60. As mesmas metáforas continuaram vigentes quando os personagens foram para os cinemas, há praticamente 20 anos com X-Men: O Filme (2000), e agora são colocadas sob outro prisma em X-Men: Fênix Negra (2019), pretenso capítulo final da franquia.

Seguindo a métrica dessa saga jovem dos X-Men, iniciada com o ótimo X-Men: Primeira Classe (2011), de pular uma década a cada longa – sem, no entanto, os atores serem envelhecidos para isso –, o novo filme é ambientado em 1992. Diferente das produções anteriores que tinham o contexto da época sinalizados de forma clara, seja na trama como o primeiro episódio sessentista e o setentista X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) ou na direção de arte, figurinos e afins do oitentista X-Men: Apocalipse (2016), esta perde de vista o clima da década de 90 em ambos os sentidos, infelizmente. De qualquer modo, os tempos aqui são bem diferentes, já que os X-Men são adorados e vistos como heróis pelos humanos e até Erik, vulgo Magneto (Michael Fassbender), consegue viver em paz com sua comunidade mutante alternativa em uma ilha.

No entanto, o Professor Charles Xavier (James McAvoy) sabe que basta pisar em falso e todo o trabalho de aceitação por eles construído ser posto por terra e uma nova onda de perseguição os abater. Roteirista de vários longas da franquia que agora faz sua estreia na direção, Simon Kinberg se apoia demais em diálogos expositivos desse tipo para levantar bons questionamentos, através de Raven / Mística (com um arco minimamente interessante para fazer a atriz Jennifer Lawrence voltar ao papel), não somente sobre a fragilidade dessa tolerância, mas se viver em função disso era mesmo benéfico para eles. De um modo indireto, fica também a pergunta sobre os benefícios dessa idolatria aos mutantes ecoando para o próprio gênero dos super-heróis, do qual X-Men foi fundamental para o estabelecimento da atual era de ouro em Hollywood, mas que ainda continua trazendo problemáticas e personagens menos irrepreensíveis e mais complexos que a média, apesar dos deslizes, como as figuras alienígenas vilanescas da produção mais recente.

A trama de Fênix Negra se debruça justamente nesta pisada que coloca a segurança dos mutantes em perigo, quando o orgulho do líder do grupo leva a uma malfadada missão espacial, em que a jovem Jean Grey (Sophie Turner) é exposta a uma poderosa força cósmica, que acaba potencializando suas habilidades de telepatia e telecinese, mas deixando-a fora de controle. Com um evento traumático do passado da personagem revelado em um prólogo, o filme logo deixa claro a sua preocupação com outro eixo fundamental da história dos X-Men: o livre-arbítrio. Desde a chegada de Vampira (Anna Paquin) à Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier no primeiro longa, a franquia sempre utilizou os poderes mutantes mais como um peso do que uma dádiva, diferente do que acontece com os heróis, fazendo os personagens humanamente caírem em erros e se questionarem, junto com o público, sobre a maneira que eles estão utilizando seus dons.

O dilema é novamente a base deste encerramento, que está longe de ser um final em grande estilo que o grupo de humanos mutantes merecia. É curioso, aliás, como apesar da duração de quase duas horas, o longa parece abreviado, muito por causa da ação frenética, mas contida no terceiro ato e do anticlímax em sua conclusão – talvez, motivada pela alteração e regravação do final planejado, embora seja bem melhor que o desastre planetário, no sentido literal e figurado, do anterior Apocalipse. Mesmo não empolgando, há uma sensação de satisfação ao ser feita justiça à Jean Grey, personagem vilanizada em X- Men: O Confronto Final (2006), então vivida por Famke Janssen naquela trilogia original.

Na nova quadrilogia, ela é apresentada ainda adolescente, somente no terceiro filme e alçada ao protagonismo neste quarto e último capítulo, cabendo à Sophie Turner a difícil tarefa de fazer o público se afeiçoar em pouco tempo a uma figura tão ambígua, que é algoz e vítima ao mesmo tempo. De um lado, há o surgimento dessa Fênix Negra quase como uma metáfora para questões de saúde mental, na medida em que a obra traça um discurso a la Divertida Mente (2015) sobre a necessidade de não se suprimir sentimentos essenciais como a culpa, a dor e o luto, que ressurgem de forma violenta e vingativa, algo que guia não apenas ela, como outros personagens nesta saga. Assim, o maior poder de todos, o de escolha, e as consequências dele não se restringem à jovem e recaem, principalmente, sobre Xavier, enquanto Kinberg aponta, através das falas citadas por Jessica Chastain, como a trajetória de Jean Grey sempre foi marcada por homens tentando conter esta mulher de força inestimável, e tenta fazer desta a história mais “X-Woman” até então.

Depois de 12 longas, somando a trilogia Wolverine encerrada mais com coração do que pirotecnia em Logan (2017) e as duas aventuras do anti-herói Deadpool, a franquia se caracterizou justamente por tomar essa mesma jornada errática de seus heróis, com seus altos e baixos – vide o eternamente adiado spin-off Os Novos Mutantes (2020), que nem parecia ser tão problemático assim para passar por regravações e ser postergado, quando o trailer foi lançado, dois anos atrás. A saga mutante na Fox pode não terminar da melhor forma, mas Fênix Negra segue justo no olhar humanizado para seus queridos personagens, gerando no espectador uma maior identificação com eles do que com as figuras idealizadas dos colegas heroicos. Basta saber, se essa alma dos X-Men permanecerá quando a Disney fazê-los ressurgir das cinzas, algo que provavelmente acontecerá um dia, talvez não muito distante no horizonte futuro.

 

X-Men: Fênix Negra (Dark Phoenix, 2019)

Duração: 113 min | Classificação: 12 anos

Direção: Simon Kinberg

Roteiro: Simon Kinberg, baseado no arco “A Saga da Fênix Negra”, de Chris Claremont, John Byrne e Dave Cockrum e na HQ “X-Men”, criada por Stan Lee e Jack Kirby

Elenco: Sophie Turner, James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Tye Sheridan, Alexandra Shipp, Evan Peters, Kodi Smit-McPhee, Jessica Chastain, Scott Shepherd, Ato Essandoh, Summer Fontana, Brian d'Arcy James, Kota Eberhardt e Andrew Stehlin (veja + no IMDb)

Distribuição: 20th Century Fox (Fox Film do Brasil)

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