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Foto do escritorNayara Reynaud

POKÉMON: DETETIVE PIKACHU | Evoluções pokémons e cinematográficas

Atualizado: 1 de ago. de 2021


Cena do filme Pokémon: Detetive Pikachu (2019) | Foto: Divulgação

No meio dessa onda constante em Hollywood de adaptações de franquias das mais variadas origens para atrair o público através da nostalgia, Pokémon: Detetive Pikachu (2019) surgiu, à primeira vista, como a realização mais estranha desse movimento. Não que a simples produção de um live action de Pokémon fosse motivo de estranheza depois de Transformers, Legos e Power Rangers, por exemplo, serem levados para as telas da mesma maneira. Mas a escolha por se basear em um video game spin-off e recente como Detetive Pikachu (2018), no qual o famoso personagem não só é um investigador como também fala, diferente de toda a mitologia mais conhecida pela plateia através dos jogos clássicos, do anime de muito sucesso no Brasil e outras mídias, fez muitos se questionarem se a escolha desse produto seria a mais adequada para representar a franquia nos cinemas.

Portanto, é surpreendente como a ideia aparentemente maluca de colocar um Pikachu falante como detetive em uma metrópole habitada por humanos e pokémons, sem treinadores e as conhecidas batalhas entre os seres capazes de evoluir – pelo menos, oficialmente –, funciona no filme de Rob Letterman, diretor vindo do mundo das animações como O Espanta Tubarões (2004) e experiente na integração da técnica com live action ao fazer As Viagens de Gulliver (2010) e Goosebumps – Monstros e Arrepios (2015). Primeiro, o longa apresenta o jovem Tim Goodman (Justice Smith, da série The Get Down), que só sai da sua zona de conforto em uma pequena cidade do interior para a grande Ryme City, por conta da morte de seu pai, um investigador da polícia. Porém, quando o rapaz encontra o parceiro Pokémon de Harry Goodman, que vem a ser justamente a icônica figura amarela com uma boina ao estilo Sherlock Holmes, mas a textura fofa de pelúcia, parece que existe algo a mais no acidente que provocou a explosão do carro onde a dupla estava.

O garoto é o único que pode ouvi-lo, originalmente com a voz e ironia a la Deadpool do ator Ryan Reynolds, nas poucas cópias legendadas que chegarão ao Brasil, ou de Phillipe Maia na versão dublada, o que garante boas risadas nessa dinâmica entre humanos e pokémons. Algo que se intensifica com a adição de mais uma dupla das duas espécies na aventura: a jovem aspirante à repórter Lucy (Kathryn Newton, de Big Little Lies e do novo seriado The Society) e seu Psyduck tentando ficar relaxado. Se ela também surge como um ligeiro interesse romântico, a cota dramática do filme fica por conta das dificuldades do protagonista em lidar com essa figura paterna que sempre lhe foi ausente, sendo que um problema semelhante acontece no clã que domina a cidade.

Ao fazer esse caminho com Tim, cuja paixão por aqueles seres e o sonho de ser um Treinador Pokémon estavam adormecidos, o roteiro de Dan Hernandez, Benji Samit, Rob Letterman e Derek Connolly – que também contam com os créditos de Nicole Perlman no argumento – usa o prólogo, com aquela caçada juvenil por pokémons, quase como se guiasse o fã pela mão e o carregasse junto com o protagonista daquela memória de infância nostálgica para a narrativa do game e sua ambientação mais adulta, apesar do tom de aventura. Assim, o cenário de Ryme City trabalha tanto com a moral destinada à plateia infantil, na mensagem de aceitação da convivência mútua e harmoniosa entre humanos e pokémons, quanto leva o público original a outros tipos de referências visuais além das já conhecidas na franquia. A mistura de Londres com Tóquio e muito neon na cidade planejada por Howard Clifford (Bill Nighy) remete à estética tech noir de Blade Runner – O Caçador de Androides (1982) e dos próprios animes japoneses com o cult O Fantasma do Futuro / Ghost in the Shell (1995) e seu malfadado remake live action de 2017.

Esta influência do (sub)gênero se encontra igualmente na iluminação e na trama policial que se apresentam por boa parte do primeiro e segundo ato, mas que é dissipada na ação grandiosa e mais genérica que surge depois, assim como as diversas viradas no roteiro se mostram um pouco confusas para as crianças e rocambolescas demais para os adultos. Uma pena, pois é nessa fonte, estranha em um primeiro momento, que Pokémon: Detetive Pikachu encontra o seu diferencial. O noir estava presente naquele que é um marco dos híbridos de animação e live action, Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), mas, ainda sim, é surpreendente vê-lo em uma produção atual, voltada para uma faixa etária mais baixa e, especialmente, em uma história com pokémons.

 

Pokémon: Detetive Pikachu (Pokémon Detective Pikachu, 2019)

Duração: 104 min | Classificação: Livre

Direção: Rob Letterman

Roteiro: Dan Hernandez, Benji Samit, Rob Letterman e Derek Connolly, com argumento de Dan Hernandez, Benji Samit e Nicole Perlman, baseado no game “Detetive Pikachu”, escrito por Tomokazu Ohara e Haruka Utsui e nos personagens criados por Atsuko Nishida, da franquia criada por Satoshi Tajiri, Ken Sugimori e Junichi Masuda

Elenco: Ryan Reynolds, Justice Smith, Kathryn Newton, Bill Nighy, Ken Watanabe, Chris Geere, Suki Waterhouse, Josette Simon, Rita Ora, Karan Soni, Max Fincham e Diplo (veja + no IMDb)

Distribuição: Warner Bros. Pictures

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