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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MARCIA HAYDÉE – UMA VIDA PELA DANÇA | A primeira bailarina

Atualizado: 25 de fev. de 2021


Os bailarinos Marcia Haydée e Richard Cragun nos palcos, em cena do documentário Marcia Haydée - Uma Vida pela Dança (2019) | Foto: Divulgação (Anagrama Filmes)

Em determinado momento de Marcia Haydée – Uma Vida pela Dança (2019), a própria estrela do documentário de Daniela Kallmann destaca a importância que se dá para a arte – todas elas, incluindo a dela, é claro – na Alemanha, onde os teatros estão sempre lotados para um espetáculo. É o momento em que o filme, por mais convencional que seja estética e narrativamente, justifica a sua existência: apresentar a carreira de Marcia Haydée, um nome brasileiro tão importante para o balé mundial e para a dança, de um modo geral, sendo exaltada no exterior, mas desconhecida para muitos compatriotas. Não por menos, a produção faz questão de entrevista-la no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde a menina de Niterói começou a sua carreira, mas não só dentro como no topo de seu telhado, para reforçar o status de importância da bailarina, coreógrafa e diretora de companhia em seus 81 anos de vida, dedicados desde os três anos de idade às sapatilhas.

Na realidade, ela já esteve destinada ao estrelato desde o nascimento, quando o seu avô sugeriu a mãe dela que lhe desse um nome que fosse possível falar em qualquer idioma quando ela fosse famosa. Esse e outros causos de sua vida são contados pela própria Marcia, que afirma que sabia o que queria fazer, mas não onde a vida iria leva-la. Com um empurrãozinho de Bibi Ferreira (1922-2019), que deu um rápido depoimento à produção, a vida levou a jovem de apenas 15 anos para a Europa, indo estudar no Royal Ballet School de Londres, entrando no Grand Ballet du Marquis de Cuevas em Paris e ganhando a chance da sua vida no Stuttgart Ballet.

Destaca-se o seu encontro com John Cranko, coreógrafo inovador que, como diretor da companhia de balé alemã, a convidou para ser a primeira bailarina, a despeito da desconfiança de outros, e firmou uma parceria frutífera que trouxe um prestígio inigualável para o Stuttgart Ballet. Se Haydée comenta os elogios que recebia pela sua interpretação dos papéis, além da simples reprodução de passos, como a “Maria Callas da dança”, em referência à cantora grega ícone da ópera no século XX, outros nomes célebres no balé brasileiro e internacional reforçam os talentos da personagem-objeto do documentário. Ana Botafogo, Deborah Colker, Reid Anderson, Andressa Randisek, Pablo Nuñes, John Neumeir e Tomas Dietrich são alguns dos rostos que surgem para falar de sua potência ao dançar, mas também como diretora de companhias de balé – até hoje, ela está à frente da direção do Ballet de Santiago, no Chile, mas roda o mundo passando o seu conhecimento e suas ideias.

Se a sua vida foi dedicada ao balé, como intui o subtítulo do longa, ele deixa um espaço limitado para apresentar a vida pessoal da artista, embora exista uma franqueza nas esparsas abordagens de detalhes de sua biografia. Os pais separados e a relação dispare entre o padrasto e o pai biológico são citadas. Destaca-se sua parceria com o primeiro bailarino Richard Cragun, que durou de 1961 a 1996 nos palcos – um recorde – mas cujo casamento de 16 anos foi interrompido quando o marido, que permaneceu seu amigo, se revelou homossexual. A ligação retomada com a irmã Monica Athayde, que idealizou este documentário, e a sinergia com seu novo marido são também lembradas.

O filme se vale de significativas imagens de arquivo e da presença da própria Marcia Haydée nos lugares-chaves para montar a sua trajetória, além das entrevistas estilo talking head. Outro dispositivo interessante é a leitura em off das cartas que a bailarina trocava constantemente com sua mãe e outros familiares para mostrar seus sentimentos ao se encontrar sozinha na Europa, naquele primeiro momento. No entanto, só em uma sequência final, Kallmann traz um lampejo em incorporar a dança como elemento estético da obra, mas, como é comum tanto em filmes sobre balé quanto sobre outras diversas artes ou temas, falta ao filme bailar no mesmo ritmo de sua personagem.

 

Marcia Haydée – Uma Vida pela Dança (2019)

Duração: 80 min | Classificação: Livre

Direção: Daniela Kallmann

Roteiro: Julia de Abreu (veja + no AdoroCinema)

Distribuição: RioFilme / Anagrama Filmes

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