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  • Foto do escritorNayara Reynaud

PRIMEIRO ANO | Como estudar para salvar vidas sem perder a sua?

Atualizado: 25 de fev. de 2021


Vincent Lacoste e William Lebghil em cena do filme francês Primeiro Ano (2018) | Foto: Divulgação (A2 Filmes)

Tendo como trunfo o fato de ser clínico geral além de cineasta, Thomas Lilti tem usado toda a sua experiência na medicina para mergulhar de cabeça nesse mundo também em seus filmes. Um jovem residente recém-chegado a um hospital é o protagonista de Hipócrates (2014), longa que se tornou uma série de TV no ano passado, enquanto um médico rural com câncer recebe a ajuda de uma colega para fazer o seu trabalho em Insubstituível (2016). Agora, para completar essa espécie de trilogia médica francesa, ele traz toda a pressão da vida acadêmica em Primeiro Ano (2018).

No entanto, o requinte de crueldade do sistema educacional francês está em unir a tensão do vestibular e sua loucura com a da universidade e sua correria – algo que o governo local prometeu alterar dentro em breve. No primeiro ano de faculdade, milhares de estudantes entram em um curso preparatório da área de saúde e, conforme sua pontuação na prova final, podem escolher a área que desejam estudar ou ficam com o que sobram, já que existem pouquíssimas vagas para medicina. Ou ainda é possível abdicar da vaga e refazer esse primeiro ano para tentar mais uma vez entrar no curso desejado.

Esse é o caso de Antoine, interpretado por Vincent Lacoste, trabalhando novamente com Lilti, após ser protagonista tanto do filme quanto da série Hipócrates, e que também estrela Conquistar, Amar e Viver Intensamente (2018) e Amanda (2018). Só que, depois de fazer isso duas vezes, ele já está no limite deste recurso e tem agora a última chance de conseguir entrar. Antes, porém, o público conhece um calouro que é filho de um cirurgião (Michel Lerousseau), Benjamin, vivido por William Lebghil, indicado como ator revelação no César pelo papel e que já esteve em Assim é a Vida (2017) e Amor à Primeira Briga (2014).

Para o aluno veterano, a medicina é um sonho de vida, mas ele não consegue traduzir tudo que estuda e seu interesse genuíno pela área na hora da prova. Já para o novato, é uma obrigação familiar: apesar de ter facilidade para aprender, não tem a vocação para seguir o mesmo caminho paterno, como faz o seu irmão (Alexandre Blazy). Os opostos logo se atraem e conseguem estabelecer uma amizade benéfica para ambos, como Lilti faz questão de frisar nas sequências de estudos deles e de questionar quando impõe este ambiente competitivo como uma barreira na relação dos dois.

Conseguindo criar uma empatia em plateias fora da França – especialmente aqui, onde o ensino está, cada vez mais, voltado para a “decoreba” do vestibular do que para a formação de cidadãos –, o cineasta também faz uma clara crítica a um sistema que prioriza a memorização automática de milhares de informações em vez de um aprendizado mais humano que, na realidade, acaba desumanizando os estudantes. Algo que o diretor e roteirista salienta na deterioração não só da amizade de Benjamin e Antoine, mas também da saúde mental de um dos personagens, ainda que a desenvolva de maneira simplista. Não à toa, uma propaganda de cursinho pré-vestibular numa estação de trem e metrô em São Paulo, esses dias, colocava o apoio psicológico como um dos seus diferenciais, mas remediar esse estresse é praticamente inútil enquanto sua causa está em uma pressão sistêmica e desnecessária.

 

Primeiro Ano (Première Année, 2018)

Duração: 92 min | Classificação: 12 anos

Direção: Thomas Lilti

Roteiro: Thomas Lilti

Elenco: Vincent Lacoste, William Lebghil, Michel Lerousseau, Darina Al Joundi, Benoît Di Marco, Graziella Delerm, Guillaume Clérice, Alexandre Blazy e Noémi Silvania (veja + no IMDb)

Distribuição: A2 Filmes

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