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  • Foto do escritorNayara Reynaud

É TUDO VERDADE 2019 | A história do jornalismo está aqui

Atualizado: 25 de fev. de 2021


Cena do documentário Mike Wallace Está Aqui (2019) | Foto: Divulgação (É Tudo Verdade)

Os tempos difíceis para o jornalismo aqui nos Estados Unidos e, não por mera coincidência, no Brasil acabam propiciando o destaque para obras que apresentem grandes nomes desta área, como Mike Wallace Está Aqui (2019). Exibido no último Festival de Sundance, o terceiro longa do cineasta israelense Avi Belkin abre nesta quarta (3) o 24º É Tudo Verdade, maior festival de documentário da América Latina, retratando a carreira e a vida de Mike Wallace (1918-2012), jornalista norte-americano que ficou conhecido pelo lendário programa 60 Minutes (1968-) e pelas entrevistas de confronto que fazia lá e em atrações ainda nos anos 1950, algo inédito para a época e copiado mundialmente depois. No entanto, o grande mérito do filme está em incorporar a linguagem de seu personagem biografado dentro de sua própria narrativa e estética.

O documentário usa como recurso principal o material de arquivo sobre o apresentador, mas não de modo óbvio. São exatamente as entrevistas que tornaram o jornalista célebre, o dispositivo utilizado por Belkin para adentrar na sua biografia, quase como um talking head indireto em que, apesar de seguir uma linha cronológica na narrativa, viaja no tempo para buscar as imagens que contam sua história. Apropriando-se do formato do próprio 60 Minutes, o diretor divide a tela por diversas vezes, entre entrevistador e entrevistado, externando a ambivalência da obra ao mostrar e, diversas vezes, confrontar Wallace enquanto estava entrevistando e quando era entrevistado.

Com tal proposta, o documentário somente se sustenta pela excelente montagem de Billy McMillin, que não só mantém o ritmo como um relógio correndo contra o tempo – algo bem exemplificado com Tick Of The Clock, do Chromatics, na trilha sonora – quanto é perspicaz ao usar as palavras de alguns dos seus “interrogados” para fazer uma leitura direta ou indireta do aspecto da vida de Mike que está em jogo naquele momento da narrativa. Várias questões pessoais da sua biografia, porém, são deixadas de lado, com Belkin se valendo apenas das passagens que importam para traçar o seu perfil profissional, como o seu problema com acnes na adolescência e a morte do filho influindo na sua necessidade de ser levado a sério como repórter. Um dos pontos que ganha destaque no longa são as disputas judiciais e corporativas, seja com o General William Westmoreland nos anos 1980, inconformado pela sua reportagem sobre a Guerra do Vietnã, ou com a indústria do tabaco e todo o seu lobby para impedir de pôr no ar a sua entrevista com um ex-representante da área, como foi contado no filme de Michael Mann, O Informante (1999), em que Christopher Plummer encarnou o jornalista.

No entanto, o cineasta e o editor são sagazes ao usar as próprias palavras de Wallace para contradizê-lo. Apesar de exaltar a importância do seu nome, Mike Wallace Está Aqui não é condescendente com o homem do título. Desde o início, ao colocar o repórter e comentarista da Fox News, Bill O’Reilly, dizendo que é uma cria dele, para desagrado de Mike, Belvin questiona o estilo inquisitório de seu personagem retratado, levantando críticas em relação ao seu trabalho e ao jornalismo, de modo geral, mas é ainda mais duro ao fomentar o debate sobre os interesses de quem deseja calar a imprensa.

 

Mike Wallace Está Aqui (Mike Wallace Is Here, 2019)

Duração: 94 min

Direção: Avi Belkin

Produção: Estados Unidos

> IMS Paulista / São Paulo – 04/04/2019 às 16h00

> Centro Cultural São Paulo – CCSP (Sala Paulo Emílio) / São Paulo – 06/04/2019 às 15h00

> Estação NET Botafogo (Sala 3) / Rio de Janeiro – 12/04/2019 às 21h00

> Estação NET Botafogo (Sala 1) / Rio de Janeiro – 13/04/2019 às 16h00

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