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Foto do escritorNayara Reynaud

COLETTE | Belle et complexe ménage

Atualizado: 17 de fev. de 2021


Keira Knightley, Dominic West e Aiysha Hart em cena do filme Colette (2018) | Foto: Divulgação (Diamond Films)

Um filme de época apenas correto, como tantos outros, Colette (2018) encontra o seu diferencial na subversão de sua personalidade retratada, revolucionária para à Belle Époque e ainda para os dias atuais. A escritora, atriz e multifacetada artista Sidonie-Gabrielle Colette (1873-1954) já foi para o cinema com Becoming Colette (1991), longa de Danny Huston, e para a televisão na minissérie francesa Colette – Uma Mulher Livre (2004), mas muito da vida mais efervescente da autora de Gigi (1944), romance que originou o clássico do cinema Gigi (1958), fica para uma cinebiografia mais ousada sobre a mulher mais famosa da literatura francesa do que o novo trabalho do cineasta Wash Westmoreland. Isso não quer dizer que o olhar específico do realizador para a transmutação da menina do interior para a persona pública controversa conhecida apenas pelo nome de Colette, que passa diretamente por questões de sua sexualidade e dos que a cercavam, não seja o ar fresco dentro de uma narrativa por si só convencional.

A produção falada em inglês, apesar dos personagens franceses escreverem em sua língua materna, o que quase lhe confere um aspecto dublado, traz Keira Knightley como a jovem garota da Borgonha que se casa com o dândi parisiense Henry Gauthier-Villars (Dominic West), em 1892, indo morar com ele na capital. A Paris daquele período ostentava a recém-inaugurada Torre Eiffel e era o principal centro pulsante dessa Europa cosmopolita em transformação cultural e social, na passagem do século XIX para o XX, no que foi chamado de Belle Époque. Se a sociedade extravagante da Cidade Luz a incomoda a princípio, aos poucos se torna o ambiente ideal para sua autodescoberta.

Atendendo pela alcunha de “Willy”, seu marido era um reconhecido escritor e crítico teatral que já “terceirizava” sua escrita com o auxílio de ghost writers, que nunca conseguia pagar direito, por não saber controlar suas finanças, sempre gastando e vivendo no limite. Em dois desses apertos, ele desperta e se aproveita do talento dela para a escrita, com suas memórias sobre os tempos escolares e sua amizade bem próxima de infância e adolescência que resultariam em Claudine na Escola (1900), um best-seller instantâneo que, com seu erotismo e visão feminina inéditos na época, seria o primeiro de uma bem-sucedida série de livros com a personagem – é interessante, aliás, o vislumbre do longa sobre um caso secular da arte sendo visionada de maneira industrial, até com produtos personalizados de Claudine –, só que assinada pelo homem da casa. Há um complexidade intrigante e até sedutora como o texto e Dominic West investem Willy de compreensão, como sendo um marido aberto, até certo ponto, aos casos da esposa com outras mulheres, mas, ao mesmo tempo, caracterizando-o como um explorador de seu trabalho, usurpador de sua autoria e um traidor nato, seja sexualmente ou não.

O retrato da bissexualidade da artista considerada um ícone feminista, que muito poderia ser colocado em conta pela agenda dos tempos atuais, não é uma novidade oportunista para o cineasta, que entrou no radar do público com Para Sempre Alice (2014) – o trabalho que finalmente deu o Oscar para Julianne Moore –, mas já realizou vários filmes com temática e/ou personagens gays em sua carreira, ao lado do diretor e roteirista Richard Glatzer, com quem foi casado por anos. O parceiro faleceu em 2015, em decorrência da esclerose lateral amiotrófica (ELA), porém, chegou a participar do roteiro, junto com Rebecca Lenkiewicz, deste projeto que marca a primeira direção solo de Wash Westmoreland em um longa que, por sinal, navega em vários espectros do universo LGBT, abordando, por exemplo, a transgeneridade através de Missy (Denise Gough), uma nobre que somente por conta de seu status e dinheiro poderia praticar a “subversão” de se vestir como homem – e que está presente na seleção do Mix Brasil deste ano, após passar pelos festivais de Berlim, Toronto e do Rio. Entre as questões identitárias da protagonista, seja sobre sua arte ou sua sexualidade, Colette perde de vista um pouco do íntimo de tão curiosa figura, mas Keira Knightley sempre mantém a humanidade necessária para ver a pessoa na personagem e não o contrário.

 

Colette (Colette, 2018)

Duração: 111 min | Classificação: 14 anos

Direção: Wash Westmoreland

Roteiro: Richard Glatzer, Wash Westmoreland, Rebecca Lenkiewicz

Elenco: Keira Knightley, Dominic West, Eleanor Tomlinson, Denise Gough, Aiysha Hart, Fiona Shaw, Dickie Beau, Al Weaver, Robert Pugh e Ray Panthaki (veja + no IMDb)

Distribuição: Diamond Films

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