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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2018 | Dia 2 – A ousadia de ser diferente

Atualizado: 15 de fev. de 2021


Mostra SP 2018: As Quatro Irmãs | O Mau Exemplo de Cameron Post | Verão | Rafiki | Fotos: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

O segundo dia da 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo tem a relação familiar da atriz Vera Holtz em destaque no longa As Quatro Irmãs (2018) e destaques de festivais internacionais como o russo Verão (2018), o indie norte-americano O Mau Exemplo de Cameron Post (2018) e o queniano Rafiki (2018), todos com protagonistas lutando para serem o que são. Confira estes e outros destaques desta sexta a seguir:

 

Vera Holtz e as suas irmãs em cena do filme As Quatro Irmãs (2018) | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Vera Holtz e as suas irmãs mais velhas Teresa, Rosa e a caçula Regina são as estrelas de As Quatro Irmãs (2018), novo longa do prolífico Evaldo Mocarzel que não se encaixa bem em nenhum rótulo. Utilizando-se de uma proposta ficcional e um dispositivo documental, o filme acompanha esta atriz com lapsos de memória de volta às suas raízes interioranas, voltando a conviver com as irmãs no casarão da família em Tatuí e passeando por outros lugares-chave da vida dela. Entretanto, aproveitando a base de formação dela em artes plásticas – tanto que a artista Lea van Steen faz a montagem – e um caminho adotado no anterior Até o Próximo Domingo (2017), o diretor faz da performance uma via para decifrar a sua personagem-objeto.

Em uma coletiva de imprensa na exibição da produção aos jornalistas, Vera Holtz afirmou que falar de família e pertencimento sempre foram um norte em sua carreira. A maneira, aliás, com que o cineasta costura certos recursos para contar sua história remonta a diretores teatrais que, direta ou indiretamente, passaram pela trajetória da atriz, como Antônio Abujamra, Gerald Thomas e Bertolt Brecht. Em um desses momentos, aliás, ela ficou impressionada do quão parecida é com sua mãe. "Sempre guardo um pouco da memória física das pessoas que eu perco pelo vestuário", confessou aos jornalistas.

Para dar vida o seu roteiro com “um pé no psicodrama”, Mocarzel disse que teve o desafio de conduzir não atores e uma atriz lúcida, destacando o trabalho “sem truques” de Teresa, que faleceu em julho passado. Contudo, além da ligação fraternal, o diretor está interessado na relação conturbada de Vera com a autoridade paterna que, segundo ele, pode ser nefasta às vezes. Ele declara que o filme precisava de algum conflito e não ser apenas a egotrip de uma artista, mas, em certo ponto, aconteceu a “irrupção do real”, com Holtz voltando a ficar menstruada aos 64 anos de idade e lhe causando um susto.

O longa pontua bem essa diferença entre a memória fragmentada dela e a das irmãs, e como a maneira como ela guardou essas lembranças dessa rígida figura paterna definiram a sua vida e seus relacionamentos amorosos inclusive. Também explicou que quando conseguiu finalmente conseguiu sua liberdade econômica, seu pai se tranquilizou e que, uma vez em depoimento ao Domingão do Faustão, ele disse que “a Vera não me deu trabalho, me deu saudade”. O seu espírito artístico é que se diferenciava naquele cenário do interior paulista e fazia até sua tia aconselhar de maneira simples a sua mãe: "Teresinha, imagina que tem um monte de vaca, a Vera é uma vaca que muge diferente", brincou a atriz, falando também que os pais, já falecidos eram justamente aqueles para quem ligava sempre que tinha alguma novidade para contar a alguém. Agora, conversa com as irmãs no Facetime.

O preto e branco que surge em vários momentos do longa nem sempre, especialmente no início, é belo, mas os tons de branco mais predominantes nele conversam com os “brancos de memória” de Vera e um certo vazio existencial que paira neste retrato dela. Um deles é quando as irmãs vão para a casa de praia delas e Mocarzel junto com o clima do dia transformam Mongaguá em uma Ilha de Faro. Isso porque o cineasta declara que “parasequenciou” filmes de Ingmar Bergman, como Persona (1966) e Monika e o Desejo (1953), além de Os Incompreendidos (1959), de François Truffaut, e Acossado (1960), de Jean-Luc Godard.

> Espaço Itaú Augusta 1 – 19/10/2018 às 21h15

> Cine Caixa Belas Artes – Sala 1 Villa Lobos – 20/10/2018 às 15h45

> Cinearte Petrobras 2 – 29/10/2018 às 16h00

 

(Leto, 2018)

Cena do filme russo Verão (Leto, 2018) | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

É com um plano-sequência da steady cam vindo dos bastidores para uma comportada plateia de um show de rock que se inicia o russo Verão (2018), filme de Kirill Serebrennikov que causou boa impressão em Cannes neste ano, embora o diretor de O Estudante (2016) não estivesse presente no festival por estar em prisão domiciliar na Rússia. Acusado de desvio de recursos, o realizador alega que tudo se trata de repressão ao seu discurso artístico. Não por menos, a sequência inicial já apresenta em ação o aparelho da censura do regime soviético naquela Leningrado do início dos anos 1980 que servem de cenário para o seu novo longa.

O objeto em questão é o início da carreira de Viktor Tsoi (1962-1990), que a frente da sua banda Kino, é considerado um pioneiro do rock russo. No entanto, Serebrennikov não está interessado em uma mera cinebiografia, mas sim em adotar algumas liberdades ficcionais e estéticas que captem o espírito do artista e de seus contemporâneos que, apesar da restrição governamental e de mal conseguirem viver de música, traziam o gênero musical dos "inimigos imperialistas" para uma a União Soviética. Para tanto, ele estabelece a trama como um triângulo amoroso, quando o jovem, interpretado por Teo Yoo, e seu colega de dupla conhecem o conhecido cantor de rock e blues Mayk Naumenko (Roman Bilyk), da banda Zoopark, e a esposa dele, Natasha (Irina Starshenbaum): como é previsível, ela se interessa pelo novato, mas, como não é comum em histórias assim, ele não poda o interesse da mulher, com quem vive em quartinho junto com o filho ainda bebê.

Verão, porém, é verborrágico esteticamente, de uma maneira totalmente condizente com o punk – e no caso de Viktor, também a New Wave que o influenciou – que aqueles jovens ouviam e se inspiravam. O preto e branco da bela fotografia de Vladislav Opelyants, é interrompido pela cor em momentos pontuais, com as filmagens em Super 8 num estilo documental ou em delírios. Do mesmo jeito, a "narrativa convencional" é rompida pelos momentos musicais, não os das apresentações deles em shows ou para os amigos, mas sequências como a do trem, com os personagens se rebelando contra a repressão ao som de Psicho Killer do Talking Heads e grafismos estilizados na tela, até certo personagem cético vir dizer que "isto não é verdade". Praticamente uma figura de um DJ/VJ, ele vai apresentando as músicas destes números irreais, que trazem clássicos do rock mundial, como The Passenger do Iggy Pop e All the Young Dudes da banda Matt The Hoople, além de Lou Reed, que é muito citado junto de Beatles, Blondie, Sex Pistols, T. Rex, Duran Duran, etc. Mas entre elas, porém, há as canções de Tsoi e Naumenko, introduzindo o público a todo um rock russo a ser descoberto.


> Cinesala – 19/10/2018 às 19h30

> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 21/10/2018 às 17h20

> Reserva Cultural 1 – 28/10/2018 às 19h20

 

(The Miseducation of Cameron Post, 2018)

Forrest Goodluck, Sasha Lane e Chloë Grace Moretz em O Mau Exemplo de Cameron Post (2018) | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

O vencedor do Grande Prêmio do Júri em ficção no Festival de Sundance deste ano é aquele exemplo de quando o contexto acaba adicionando mais pontos do que a ousadia e vigor estéticos e/ou narrativos na hora de escolher um título para premiar. Em si, O Mau Exemplo de Cameron Post (2018) é aquele filme correto em seus aspectos técnicos e com um bom elenco, que acaba chamando mais a atenção por tratar da polêmica “cura gay” – mas que não se sustentaria na abordagem da sua temática se não fosse a competência da diretora e toda a equipe. Baseado no livro homônimo de Emily M. Danforth, o segundo longa de Desiree Akhavan, responsável por Appropriate Behavior (2014) e séries que também falam sobre sexualidade, tem como figura central de interesse uma instituição religiosa cristã que se apresenta quase como uma rehab para homossexuais, já que tratam orientação sexual como uma doença – aliás, nem citam direito o termo, tratando os “pacientes” como indivíduos com APMS, sigla para “atração por pessoas do mesmo sexo”.

A história ambientada em 1993 começa com a apresentação da adolescente Cameron Post (Chloë Grace Moretz) e seu relacionamento com a melhor amiga (Quinn Shephard), até que no dia do baile, o namorado (Dalton Harrod) pega as duas se beijando no carro e inicia o drama da protagonista, que é mandada pelos tios e responsáveis para este centro terapêutico controverso. Akhavan injeta um espírito juvenil em alguns momentos e certo humor em sequências como a da descrição do tal iceberg, demonstrando como os colegas de tratamento foram parar lá, ou nas falas totalmente errôneas e preconceituosas, a fim de dar uma leveza para o que há de vir. Se, por exemplo, o sucesso one hit wonder daquele momento do 4 Non Blondes vem para aliviar o espectador, ao mesmo tempo, as letras de What’s Up? se encaixam perfeitamente àquela situação e a ótima cena é interrompida pela lembrança da coerção que deixará marcas irreparáveis naqueles jovens.

Chloë parece meio blasé até quase metade do longa, fazendo de sua Cameron uma adolescente desinteressada com o que está ao seu redor, mas aos poucos a crise começa a abater sua personagem e a atuação da atriz junto da empatia pela protagonista começam a crescer. No entanto, ela não eleva o filme sozinha, sendo Sasha Lane e Forrest Goodluck ótimos como os amigos reticentes e rebeldes dentro do possível, Jane e Adam; Emily Skeggs – que parece uma irmã caçula da Carey Mulligan – dando ótimas nuances no conflito interno da colega de quarto Erin; assim como Owen Campbell faz com o jovem Mark em duas cenas-chave. Essa confusão interna também surge de maneira discreta na boa interpretação de John Gallagher Jr., como o Reverendo Rick, o primeiro “convertido” pela sua irmã terapeuta (Jennifer Ehle) e que contradiz no olhar o que fala para os internos.

> PlayArte Marabá – Sala 1 – 19/10/2018 às 20h15

> Espaço Itaú Frei Caneca 2 – 20/10/2018 às 18h10

> Cinearte Petrobras 1 – 21/10/2018 às 16h10

> Espaço Itaú Augusta 1 – 23/10/2018 às 14h00

> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 25/10/2018 às 17h30

 

(Rafiki, 2018)

Samantha Mugatsia e Sheila Munyiva no filme queniano Rafiki (2018) | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Um achado da mostra Un Certain Regard do último festival de Cannes, Rafiki (2018) é um filme que gera curiosidade desde o primeiro momento que o cinéfilo tem contato, por se tratar de um exemplar recente de uma cinematografia que não se tem muito acesso aqui: a do Quênia. Não bastasse isso, a diretora Wanuri Kahiu apresenta um olhar renovado para a juventude queniana, infundindo seu segundo longa de um colorido que não vem apenas de cores primárias, mas também do neon, com predominância do rosa na sua paleta de cores. Aplicando uma estética de videoclipe à produção que já conta com nomes da cena pop local na trilha sonora, a cineasta deixa isso mais evidente nas cenas de dança da jovem e estilosa Ziki (Sheila Munyiva), remetendo alguns espectadores até a alguns segmentos do filme-clipe Dirty Computer da Janelle Monáe.

As suas coreografias também hipnotizam a protagonista Kena (Samantha Mugatsia), uma tomboy da periferia da capital Nairobi, embora ninguém ao seu redor a veja dessa forma. Até que a proximidade das duas gere fofoca, caracterizada na dona de uma barraca de lanches e sua filha, e desconforto no microcosmo apresentado pelo longa baseado em um conto da escritora ugandense Monica Arac de Nyeko. Comparado com outros filmes LGBT, não há muita originalidade nesta história, cujo romance até tem toques de Romeu e Julieta com as personagens sendo filhas de políticos rivais que estão em plena disputa nas eleições locais, além do tom de tragédia que acompanha muitos longas do gênero, especialmente lésbicos.

O preconceito e a homofobia ficcionais, porém, não são infundadas quando a própria produção foi banida de seu país de origem, onde a homossexualidade é criminalizada. Mas ainda que não houvesse esse tempero externo, o simples fato de ser um filme queer africano já gera interesse, enquanto a ótima construção do casal e a química visível das atrizes jé suficiente para se encantar por Rafiki. A obra ainda ganha mais contornos em seus comentários sociais como do pai mais compreensivo do que a mãe religiosa, que se refugiou na fé intransigente após o ex-marido se separar dela e deixá-la em má situação perante a comunidade; ou nas diferenças de classe, mesmo num gueto de Nairobi e que a riqueza ali pareça pouca coisa para nossos padrões.

> CineSesc – 19/10/2018 às 14h00

> Espaço Itaú Frei Caneca 2 – 21/10/2018 às 21h50

> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 24/10/2018 às 16h00

> Espaço Itaú Frei Caneca 3 – 29/10/2018 às 13h30

 

Infiltrado na Klan

(BlacKkKlansman, 2018)

Em seu novo filme, o cineasta Spike Lee versa sobre o papel do cinema na manutenção ou enfrentamento de uma desigualdade racial tão evidente agora quanto nos anos 1970 em que se passa a história real em que se inspirou. Baseado no livro autobiográfico e homônimo do próprio investigador Ron Stallworth, Infiltrado na Klan (2018) resgata o caso deste que foi o primeiro policial negro da polícia de Colorado Springs e que, com a ajuda de um companheiro de departamento, adentra e se torna membro da Ku Klux Klan, organização norte-americana que prega a supremacia branca, para ter conhecimento de suas ações. Citando o importante em linguagem e técnica, porém, controverso para dizer o mínimo em seus preconceitos, O Nascimento de uma Nação (1915), e contrapondo com os títulos e até utilizando o estilo da Blaxploitation, especialmente na sequência final, o diretor traça um panorama com duras críticas ao racismo nos Estados Unidos, fatores que levaram a produção a receber o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano.

Sua direção já começa a imprimir uma marca quando John David Washington – sim, ele é filho de Denzel – na pele do protagonista, já aprendendo a arte de se infiltrar, tem contato com os discursos de um ex-Pantera Negra (Corey Hawkins) e a jovem ativista Patrice (Laura Harrier) em um encontro de jovens universitários afro-americanos, cujos rostos de descoberta de sua própria beleza, força e resistência são destacados sob um fundo preto. Mas a assinatura de Lee, deixada lá em seu filme-chave Faça a Coisa Certa / Do the Right Thing (1989), com os planos holandeses, aqueles tortos em diagonal, surgem a partir do segundo ato, quando a situação fica mais tensa e crítica na investigação dele e do judeu Flip Zimmerman (Adam Driver), que encarna o “Ron Stallworth branco”, criado pelo original em ligações ao chefe regional da Ku Klux Klan (Ryan Eggold) e inclusive ao grão-mestre da KKK David Duke (Topher Grace). Tal qual sua obra-prima, utiliza o tom cômico para falar de racismo, seguindo o caminho da ridicularização – sem a redenção presente em Três Anúncios Para um Crime (2017), por exemplo – em vez de uma vilanização melodramática dos membros da organização; uma opção que quebra barreiras para atingir o seu objetivo, mas que em tempos de falta de interpretação e exercício de escuta ao diálogo, gere certa rejeição e falta de identificação do espectador que compartilha das mesmas ideias dos inimigos da tela.

O roteiro escrito pelo cineasta ao lado de Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott é inteligente nas menções (in)diretas a Donald Trump, como o uso do slogan “America First” e a fala sobre um plano de colocar alguém da organização na Casa Branca, mas recaí em alguns momentos, junto com a direção, em um didatismo que retira certo impacto desse equilíbrio de denúncia satírica da narrativa, a exemplo da montagem que precisa “desenhar” para o espectador o discurso já claro do longa ao intercalar a cerimônia do grupo supremacista branco e o relato de um senhor sobre racismo na reunião dos estudantes negros. A mão pesada naquele trecho era desnecessária já que Lee endereça o seu recado de maneira mais pungente ao final, jogando na cara da plateia – que na sessão para a imprensa (novidade, só que não!), era quase em sua totalidade branca – a realidade contemporânea com as imagens das manifestações dos supremacistas e ataque aos que se opunham a ela na cidade de Charlottesville, na Virgínia, em agosto do ano passado, mostrando o David Duke da vida real e as falas condescendentes de Trump a eles. O paralelo com o cenário brasileiro atual é inevitável, ainda mais agora com a própria KKK opinando até sobre um dos nossos candidatos à presidência.

> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 19/10/2018 às 19h10

> Espaço Itaú Pompeia 1 – 22/10/2018 às 21h00

> Cinesala – 26/10/2018 às 18h40

> Espaço Itaú Augusta 1 – 29/10/2018 às 14h00

 

A Odisseia de Peter

(Odysseya Petra, 2018)

Estreia na direção de longas da dupla Anna Kolchina e Alexey Kuzmin-Tarasov, A Odisseia de Peter (2018) é aquele tipo de filme que explora o imaginário infanto-juvenil, mas que tem uma visão adulta sobre a imaginação dos jovens. O Petya (Dmitriy Gabrielyan) em questão, que é o Peter do título traduzido, é um menino russo de 12 anos vai morar com os pais na Alemanha e tem dificuldades de se integrar à nova realidade, sofrendo também com o bullying dos novos colegas, se refugiando nas recordações muito saudosas da avó com quem mais convivia em um cenário interiorano nos arredores de Moscou. Assim, as sequências na Rússia fluem com a steady cam e uma aura de sonho e lembrança no branco esfumaçado da fotografia, enquanto a ambientação na Alemanha traz uma câmera na mão nervosa, inquieta como o menino naquele novo lugar em que ele não se adapta.

A referência à Odisseia de Homero narrando a volta para casa de Ulisses é direta nesta odisseia russa, mas o filme se ressente justamente por esse trecho mais aguardado e promissor vir apenas no terceiro ato, quando a narrativa já tinha perdido sua potência. Por fim, a trilha sonora traz coisas interessantes como uma espécie de Beck ou Moby russo.

> Circuito Spcine Olido – 19/10/2018 às 15h00

> MIS – Museu da Imagem e do Som – 20/10/2018 às 17h00

> Cinearte Petrobras 2 – 23/10/2018 às 19h30

> Espaço Itaú Frei Caneca 4 – 30/10/2018 às 20h30

 

(Den Skyldige, 2018)

Escolhido como representante da Dinamarca na corrida do Oscar de Filme Estrangeiro do ano que vem, Culpa (2018) é aquele filme que vai arrebatar a plateia e, provavelmente, crescer no boca-a-boca entre os mostreiros, assim como Custódia (2017) fez na edição passada. Em seu primeiro longa-metragem, o dinamarquês Gustav Möller provoca sensações e navega até por temáticas que recordam o filme do francês Xavier Legrand, por exercer a mesma capacidade narrativa de manter o espectador tenso e em suspense do início ao fim. Não à toa, a produção venceu prêmio da audiência dos festivais de Sundance e Roterdã.

Mesclando esse controle e efeito narrativo a uma trama que também lembra o thriller Por um Fio (2002), sem aquelas interferências externas, troca-se a cabine telefônica onde Colin Farrell ficava direto naquela história pela central de emergência de Copenhague, acompanhando o turno, que se torna até extra, do policial Asger Holm (Jakob Cedergren, excelente e preciso nas nuances deste personagem) lá, onde o longa se passa inteiramente durante os seus 90 minutos. A escalada de tensão começa com a ligação de uma mulher pedindo socorro disfarçadamente por estar em mãos de um homem. Mais alguns telefonemas, inclusive para a pequena filha dela, e o atendente descobre logo quem é este homem. Só que isso não é um alívio, apenas mais uma crescente no filme, cujas viradas vem num rígido e paciente desvelar da trama, embora o jovem e talentoso diretor use a luz vermelha, tal qual Joe Wright no recente O Destino de uma Nação (2017), em um momento de urgência raivosa, ainda antes do clímax arrebatador.

No entanto, se no sucesso de Joel Schumacher o perigo estava à espreita do protagonista lá fora da cabine, no filme dinamarquês, ele se encontra mais dentro da psique de Asger. O espectador sabe brevemente que aquele turno acontece na véspera de um julgamento sobre algum incidente que jogou este policial para esse serviço interno, mas somente o compreende aos poucos. Mantendo uma tradição do cinema escandinavo de abordar questionamentos morais de maneira tão eficiente, Möller ainda trata de imigração e preconceito nas entrelinhas e de maneira mais direta a questão da saúde mental, mas tem no exercício da culpa e sua predileção em se acumular o norte desta obra.

> Cine Caixa Belas Artes – Sala 1 Villa Lobos – 19/10/2018 às 17h20

> PlayArte Marabá – Sala 1 – 20/10/2018 às 15h00

> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 21/10/2018 às 21h50

> Cinearte Petrobras 1 – 29/10/2018 às 17h30

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