SUBMERSÃO | Amar é mergulhar no escuro
Atualizado: 15 de ago. de 2020
Com o perdão do trocadilho, não é necessário nenhum mergulho profundo na obra de Wim Wenders para saber que o cineasta alemão tem uma queda por romances metafísicos, desde um de seus filmes mais clássicos, Asas do Desejo (1987), que ganhou a adaptação hollywoodiana Cidade dos Anjos (1998). Há uma ligação além da física, de modo mais discreto, entre os amantes de Submersão (2017), novo trabalho do diretor que conta com uma produção internacional não só em locações como no elenco.
De um lado, a sueca Alicia Vikander faz a biomatemática e pesquisadora Danielle Flinders, uma “mulher do mundo” que já morou em vários países europeus desde a infância; do outro, o escocês James McAvoy faz um espião compatriota James More. Os dois se conhecem na Normandia, na costa norte da França, onde vivem uma paixão que começa morna, mas se torna arrebatador, conforme mostra gradativamente a narrativa, que mostra em paralelo à trama passada, como estão cada um deles. Ela, em um navio de pesquisa no meio do mar do Ártico, aguardando a chance de poder embarcar no submarino de águas profundas e comprovar seu estudo de anos, não consegue tirar o amado da cabeça, mas ele não responde seus contatos. Ele, capturado por jihadistas na Somália, tentando ainda manter o disfarce de técnico contratado por uma ONG para ajudar a captar água potável no local.
A química entre Vikander e McAvoy funciona, porém não é o suficiente para sustentar com firmeza o fato de, com tão pouco tempo juntos, Dani ficar tão desestabilizada a ponto de se desconcentrar tanto para o trabalho que esperou a vida toda, na espera por uma resposta de James. Da mesma maneira, na mistura deste romance no qual os dois, mesmo separados, parecem compartilhar do mesmo destino com um drama de espionagem e terrorismo, Wenders não consegue decolar o filme em nenhuma das frentes. Muito preocupado em simbolismos, nas discussões filosóficas sobre vida e morte ao tratar das profundezas não exploradas do oceano, que são pesquisadas por Flinders, a analogia do amor como um mergulho perigoso nesse desconhecido aparece, mas como várias coisas na produção, fica aquém do seu potencial, como se faltasse, justamente, a paixão.
Submersão (Submergence, 2017)
Duração: 112 min | Classificação: 14 anos
Direção: Wim Wenders
Roteiro: Erin Dignam, baseado no livro “Submersão” de J.M. Ledgard
Elenco: Alicia Vikander, James McAvoy, Alexander Siddig, Jannik Schümann, Reda Kateb, Celyn Jones, Jess Liaudin, Mohamed Hakeemshady, Godehard Giese, Harvey Friedman e Andrea Guasch (veja + no IMDb)
Distribuição: Califórnia Filmes