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  • Foto do escritorNayara Reynaud

OPERAÇÃO RED SPARROW | Desejos, intenções e ações divergentes

Atualizado: 11 de ago. de 2020


Jennifer Lawrence em cena do filme Operação Red Sparrow (Red Sparrow, 2018) | Foto: Divulgação (20th Century Fox / Fox Film do Brasil)

O misterioso caso de envenenamento, no último domingo (4), de um ex-espião russo, no Reino Unido – para onde foi após uma troca de agentes entre os governos britânico e russo, que antes prendera Serguei Skripal por dupla espionagem – mostra como a realidade ainda oferece muita munição narrativa para filmes do gênero e se torna aquele típico fato real que serve de publicidade involuntária para um produto de ficção. Neste caso, dá certa carga de veracidade à trama da recente estreia Operação Red Sparrow (2018) em sua proposta de que a Guerra Fria nunca terminou, de fato, entre Estados Unidos e Rússia e a rivalidade neste mundo de agentes secretos e contrainformações apenas se adaptou aos novos tempos. Contudo, isso não retira da nova produção estrelada por Jennifer Lawrence sua dose de estranheza, por vezes grata, outras tantas apenas desconfortável, em seus clichês e tentativas de fugir deles na história de uma ex-bailarina que se torna, a contragosto, uma espiã a serviço da Vossa Excelência na antiga terra dos czares.

Baseado no romance de estreia de Jason Matthews, um espião aposentado da CIA que transformou a publicação de 2013 em trilogia, com duas sequências já escritas, o longa apresenta “J-Law” como Dominika Egorova, a primeira bailarina do Bolshoi, principal companhia de balé do país e do mundo, embora a atriz não pareça estar muito confortável neste sentido, vista a cena de dança. Um acidente logo na sequência de abertura a tira dos palcos e a coloca na mira de seu tio Vanya – qualquer referência à peça clássica de mesmo nome de Anton Tchékhov, talvez não seja mera coincidência –, um tipo friamente ardiloso interpretado por Matthias Schoenaerts, caracterizado quase como um sósia de Vladimir Putin. Por conta da saúde delicada da mãe (Joely Richardson) e os custos de seu tratamento e acompanhamento, a sobrinha aceita fazer um serviço para o parente, que trabalha no alto escalão do governo russo, mas é enredada em uma trama que a obriga a se tornar uma agente secreta, passando por um duro tratamento para se transformar em uma “Sparrow”, espiões capazes de identificar e dar aos seus alvos aquilo que eles desejam, nem que seja sexualmente.

O filme de Francis Lawrence, que além de dividir coincidentemente o sobrenome com Jennifer, já a dirigiu nos três últimos longas da franquia de sucesso Jogos Vorazes, novamente põe sua protagonista em um dilema moral ao tratar de uma sociedade que a vê apenas como um indivíduo que é instrumento do Estado. Há uma violência gráfica e um conteúdo sexual que chegam a ser surpreendentes em uma superprodução de um grande estúdio, sendo, em certo sentido, bem mais ousado que a trilogia dos Tons, ainda que o roteiro e a direção estejam longe de serem ousados ou narrativamente eficientes. Essa divergência se revela na maneira como Dominika utiliza a objetificação sexual que fazem dela a seu favor, sem ceder àquilo que não acredita ou quer, mas quando decide ir até o fim, seja por desejo ou interesses escusos pelo espião norte-americano Nate Nash (Joel Edgerton), soa tão contraditório por conta da cena mal conduzida.

Em nada ajuda a falta de química ou o romance insípido entre os dois personagens. Assim como a ação em si da trama não funciona tanto nessa alternância entre um viés mais humano, incluindo posturas extremamente falhas, e viradas rocambolescas em seus plot twists, que não necessariamente causam impacto na plateia nas mais de duas horas de filme. Após a projeção, há, é claro, um alívio em ver uma equipe técnica e um elenco empenhados em não deixar a obra cair na armadilha de ser uma fanfic erótica de espionagem – sim, há momentos na história, que parece quase descambar para isso – e igualmente um pesar por não conseguir ser um intrigante estudo cinematográfico sobre os desejos humanos, sexualidade e o papel da mulher dentro e fora das telas a que tinha, aparentemente, tanto potencial.

 

Operação Red Sparrow (Red Sparrow, 2018)

Duração: 141 min | Classificação: 16 anos

Direção: Francis Lawrence

Roteiro: Justin Haythe, baseado no livro de “Operação Red Sparrow” de Jason Matthews

Elenco: Jennifer Lawrence, Joel Edgerton, Matthias Schoenaerts, Charlotte Rampling, Mary-Louise Parker, Ciarán Hinds, Joely Richardson, Bill Camp, Jeremy Irons, Thekla Reuten, Douglas Hodge, Sakina Jaffrey, Sergei Polunin, Sasha Frolova e Sebastian Hülk (veja + no IMDb)

Distribuição: 20th Century Fox (Fox Film do Brasil)

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