Oona Laurence | Uma estranha para amar
Atualizado: 1 de jun. de 2020
Uma voz de menina ressoa no meio de um bosque na primeira cena de O Estranho que Nós Amamos (2017), como uma Chapeuzinho Vermelho cantante, prestes a encontrar o seu Lobo Mal. O lobo em questão, não é nada estranho: Colin Farrell interpreta o Cabo John McBurney, combatente do Norte que é socorrido pela pequena Amy e levado a um internato de moças sulistas em plena Guerra Civil Americana, no novo longa de Sofia Coppola. O espectador pode até não reconhecer de imediato a atriz mirim que dá vida à garota, mas não demora muito para perceber que Oona Laurence não é completamente uma estranha.
O grande público do cinema conheceu o rosto dessa nova-iorquina que acabara de completar 15 anos, no último dia 1º de agosto, com o seu papel de destaque no drama Nocaute (2015), em que vivia a filha dos personagens de Jake Gyllenhaal e Rachel McAdams. A experiência do diretor Antoine Fuqua no gênero de filmes de boxe exigia da intérprete de Leila, uma criança que perdia a mãe e era afastada do pai, um lutador cuja carreira e vida pessoal degringolava após a morte da mulher. Mas aqueles curiosos para saber quem era a tal garota, foram surpreendidos com o fato do nome e da voz de Oona já serem bem conhecidos na Broadway.
Após participar de peças regionais, Laurence fez os testes e se tornou uma das quatro atrizes mirins a dar vida à protagonista no musical Matilda (2010-), na estreia da montagem norte-americana da adaptação teatral do livro infantil homônimo do britânico Roald Dahl – que deu origem ao filme da Sessão da Tarde, Matilda (1996). Ela atuou no espetáculo de 4 de março a 15 de dezembro de 2013 e, junto com Sophia Gennusa, Milly Shapiro e Bailey Ryon, ganhou um prêmio especial de excelência no Tony – o “Oscar” da Broadway – naquele ano, pois elas não puderam concorrer na categoria de Melhor Atriz Principal, além de receber uma indicação ao Grammy.
Mas Oona não tem apenas a estatueta da premiação teatral em sua prateleira. Desde 2012, ela acumula muitos créditos em curtas-metragens, na maioria, universitários e outros que até foram exibidos em mostras paralelas em Cannes, como Vicky & Jonny (2015), no qual aparece nos primeiros minutos. E justamente em um dos vários trabalhos que fez com estudantes da Universidade Columbia, de Nova York, ganhou prêmios pela sua atuação no curioso Penny Dreadful (2012), em festivais na França e na Espanha, além de uma menção especial do júri no de Seattle pela sua performance como a menina que é sequestrada e subverte a situação com um sarcasmo e certa dose de sociopatia únicos.
A atriz também enfrenta uma situação de sequestro, ainda que superficialmente consentido, ao viver Tommie / Emily em seu primeiro papel de destaque em um longa, o independente Lamb (2015), depois de participar de produções como A Little Game (2014) e I Smile Back (2015). O filme assinado e protagonizado por Ross Partridge traz um tema, no mínimo, complexo, para não dizer controverso, com a “fuga” de um homem quarentão em crise com uma garota de 11 anos relegada pelos pais e amigos. No entanto, independentemente da opinião de cada um sobre o tratamento da direção para esta relação, como sendo pura ou abusiva, não impede de ver a sólida interpretação de Laurence com uma personagem cheia de nuances espinhosas até para adultos.
Neste meio tempo, Oona também foi acumulando participações pontuais em séries, desde um episódio de Louie (2010-), em 2012, à menina autista de Blindspot / Ponto Cego (2015-), no ano passado, passando por um caso de Lei e Ordem: Unidade de Vítimas Especiais (1999-), de 2014, e o flashback da pequena Tiffany 'Pennsatucky' Doggett ficando menstruada na terceira temporada de Orange Is the New Black (2013-). Suas irmãs menores, Aimée e Jeté Laurence, seguem o mesmo caminho na TV e no teatro, já que a atuação está no DNA da família, pois o pai delas também é ator. No entanto, Lamb e Nocaute pavimentaram o caminho para a mais velha do clã no cinema, meio no qual ela foi filha de Mila Kunis em Perfeita É a Mãe! (2016), papel que repetirá no final do ano, na continuação feita especialmente para o Natal, e a enteada de Bryce Dallas Howard no remake da Disney de se próprio clássico, Meu Amigo, O Dragão (2016).
Além de Bad Moms Christmas (2017), a atriz mirim que adentra na adolescência tem o thriller The Buried Girl (2019), com Elizabeth Mitchell no elenco, e mais um curta, Lily + Mara (2017), na conta de futuros projetos. Mas com a visibilidade em um trabalho de peso como O Estranho que Nós Amamos, ainda mais com o toque de Midas que Sofia Coppola deu às “suas garotas” Kirsten Dunst e Elle Fanning, presentes na mesma obra, não será difícil ver o rosto cada vez menos estranho de Oona Laurence em outros filmes por aí.