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  • Foto do escritorNayara Reynaud

O SONHO DE GRETA | O pesadelo da adolescência

Atualizado: 14 de mai. de 2020


Bethany Whitmore, Amber McMahon e Imogen Archer em cena do filme australiano O Sonho de Greta (2016) | Foto: Divulgação

*Texto publicado originalmente no Cineweb, durante a cobertura da 40ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Tal como sua protagonista, O Sonho de Greta (2015) está florescendo: no caso, como um cinema em fase de amadurecimento. Transpondo uma peça que dirigiu de Matthew Whittet, ator que interpreta o pai da garota e adapta seu próprio texto para as telas, Rosemary Myers faz de seu primeiro filme algo já proeminente em sua proposta e estilo, ainda que a diretora estreante abuse demais de suas influências para deixar mais clara sua própria voz. A referência mais imediata é ao trabalho de Wes Anderson, dando a impressão inicial que o cineasta juntou-se a David Lynch para fazer uma típica produção adolescente.

Myers, porém, brinca com a simetria ao extremo no uso de gêmeas(os) idênticas(os), além de optar pela steadycam em vários momentos e por enquadramentos mais diversos para dar sua assinatura à obra, que abocanhou prêmios locais e foi exibida no Festival de Berlim. Nela, a festa de 15 anos de Greta Driscoll (Bethany Whitmore, com uma vívida interpretação) é marcada como um rito de passagem para a adolescência, ou que é ela própria. O cenário é uma Austrália suburbana dos anos 1970, destacada por uma paleta de cores amarelada, no qual a garota acabara de se mudar e, por ser nova no pedaço, já sofre o assédio das poderosas trigêmeas, um trio a la Meninas Malvadas (2004) que domina a escola.

Com personagens que se limitam a estereótipos, o roteiro de Whittet entrega diálogos espirituosos, especialmente através de Elliot (o afiado Harrison Feldman), o melhor amigo da jovem, que entrega falas impagáveis, como a de quantas vezes por dia pensa em certo assunto; cenas marcantes, a exemplo da memorável entrada dos convidados na festa; e uma ousadia sutil no final. A direção, por sua vez, é mais eficiente em seu sarcasmo e surrealismo da realidade familiar e escolar de Greta do que em sua faceta onírica, pontuada por uma direção de arte e fotografia sombrias e opostas ao resto do longa. Isso talvez porque o sonho em si demore a vingar na narrativa – ainda que seja uma clara alegoria do inconsciente dela, até pelo uso dos mesmos atores. Por fim, fica a imagem de um filme que tira humor, dor e afeição de sua envolvente estranheza.

 

O Sonho de Greta (Girl Asleep, 2015)

Duração: 77 min | Classificação: 12 anos

Direção: Rosemary Myers

Roteiro: Matthew Whittet, baseado em sua peça "Girl Asleep"

Elenco: Bethany Whitmore, Harrison Feldman, Amber McMahon, Matthew Whittet, Eamon Farren, Tilda Cobham-Hervey e Imogen Archer (veja + no IMDb)

Distribuição: Pandora Filmes

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