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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MANCHESTER À BEIRA-MAR | De maresia, luto e culpa

Atualizado: 22 de abr. de 2020


Casey Affleck e Lucas Hedges em cena do filme Manchester à Beira-Mar (2016) | Foto: Divulgação (Sony Pictures)

“Será que o vasto oceano de Netuno pode lavar o sangue destas mãos?”, se questiona Macbeth após cometer seu regicídio e, em certa medida, a pergunta da clássica peça de Shakespeare ecoa durante Manchester à Beira-Mar (2016), um drama sobre culpa e traumas pessoais e coletivos em uma cidade litorânea na região da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos. Assim, o dramaturgo, antes de ser cineasta, Kenneth Lonergan faz de seu terceiro filme uma junção de temas que já abordou em seus trabalhos anteriores: a volta à cidade natal de seu primeiro longa Conte Comigo (2000) e o corrosivo remorso da protagonista de Margaret (2011).

No caso, Lee Chandler (Casey Affleck) retorna à Manchester por causa da morte de seu irmão Joe (Kyle Chandler), de quem sempre foi muito próximo, assim como de seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges e, quando criança, Ben O'Brien). Mas ao descobrir que o desejo do falecido era de que ele fosse o tutor do adolescente, o ex-marido de Randi (Michelle Williams) não aceita a decisão e pretende, depois de resolver as pendências burocráticas funerárias, voltar para Boston, onde ele foi se isolar como zelador.

O porquê é revelado aos poucos, em um jogo que o roteiro de Lonergan e a montagem de Jennifer Lame fazem muito bem entre o passado e o presente de Lee, para compreender – concordar ou não com suas atitudes, isso já cabe a cada espectador – como o tio tão brincalhão na cena de abertura se tornou um homem tão fechado e arredio socialmente, que Casey Affleck confere profundidade ao personagem que faz do silêncio uma escolha. Isso, mesmo quando encontra com a ex, a quem Michelle Williams interpreta em poucas, mas importantes cenas, ficando a cargo da última, em especial, os louvores a sua atuação, assim como a seu colega de cena.

Mas não é só pela opção de dar margens aos pré-julgamentos antes de justificar a persona de seu protagonista que o trabalho do roteirista de Gangues de Nova York (2002) merece atenção especial na obra. A maneira como texto e direção tratam de temas muito densos e os entregam em uma embalagem cotidiana, até porque Patrick, apesar de órfão, tenta ao máximo manter a sua rotina como forma de lidar com o luto, dá um tom diferenciado a um filme que poderia soar muito melodramático.

Isso fica a cargo somente da trilha sonora que, fora a inserção pontual de algumas canções tradicionais de jazz, traz os arranjos clássicos de cordas e piano de Lesley Barber, às vezes em tons fúnebres, como na presença do órgão nos momentos mais graves. No entanto, logo o roteiro quebra esse peso, sem ser abrupto demais, com situações cômicas do dia-a-dia adolescente do sobrinho, transmitidas pela revelação Lucas Hedges, e certa dose de humor negro para embalar uma obra que essencialmente carrega a mesma resposta que Macbeth deu a sua própria pergunta.

 

Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea, 2016)

Duração: 137 min | Classificação: Livre

Direção: Kenneth Lonergan

Roteiro: Kenneth Lonergan

Elenco: Casey Affleck, Michelle Williams, Lucas Hedges, Kyle Chandler, Gretchen Mol e Matthew Broderick (veja + no IMDb)

Distribuição: Sony Pictures

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