É TUDO VERDADE 2021 | Dia 9 – Violência humana em foco
Neste nono e penúltimo dia do 26º festival É Tudo Verdade, os destaques vão para duas produções francesas que, além da origem, se encontram no registro de várias formas de violência através de uma ou mais lentes e as narrativas contadas a partir delas. Na competição de longas internacionais, História de um Olhar (2019), de Mariana Otero, retraça o trabalho do fotojornalista Gilles Caron, responsável por cobrir alguns dos conflitos históricos mais importantes do final da década de 1960, antes de desaparecer no Camboja, em 1970. Entre as sessões especiais, O Monopólio da Violência (2020), documentário de David Dufresne que também foi indicado ao César 2021, traz um debate de ideias sobre o uso da violência e sua legitimidade durante as manifestações dos coletes-amarelos na França, entre 2018 e 2020. Saiba mais a seguir sobre os filmes deste sábado (17):
História de um Olhar (Histoire d'un Regard / Looking for Gilles Caron, 2020)
O título de História de um Olhar, documentário que foi indicado ao César, na edição deste ano da premiação francesa, guarda em si muitos significados. A princípio, está ligado à premissa de recontar a trajetória do fotojornalista francês Gilles Caron, mas também ao fato de que ele foi responsável por registrar importantes fatos históricos pelo mundo, mesmo em tão curta carreira. Contudo, logo a diretora Mariana Otero demonstra que estruturará a narrativa do filme a partir de uma reconstituição de como seu personagem retratado trabalhava em busca da melhor foto.
No início, a cineasta apresenta as razões pessoais que a levaram até o objeto de sua obra. Não só conhecia várias imagens icônicas de Caron, sem se dar conta do nome nos créditos, como depois que conheceu sua biografia, encontrou no desaparecimento do fotógrafo no Camboja, em 1970, ecos de sua própria história, já que sua mãe morreu também aos 30 anos, deixando duas filhas. A conversa com uma das herdeiras de Gilles, que lhe dá um disco rígido com todas as fotos e folhas de contato do pai, serve como ponto de partida para Otero procurar nos mínimos detalhes e tentar contar uma história de como o fotojornalista construía o seu olhar.
Para isso, reorganiza sequências de fotos como as das manifestações de maio de 1968, para mostrar como Caron buscava o ângulo ideal. Retraça, junto com um especialista na Guerra dos Seis Dias, o caminho do fotógrafo na sua primeira grande reportagem para demonstrar como ele foi capaz de capturar tão emblemáticos momentos do conflito em Israel. Relembra como a experiência dele como soldado na Guerra na Argélia ajudou a moldar o seu olhar para coberturas do gênero, como no Vietnã, embora Gilles afirme, em uma das raras entrevistas que concedeu, que isso não difere muito do que é exigido durante uma estreia de cinema ou concerto em Paris.
Otero permite breves questionamentos sobre a natureza contraditória do fotojornalismo, enquanto necessária para relatar um fato, mas também utilizada para fins escusos, como comenta nos casos de Biafra e do garoto de Derry que teve sua vida afetada por uma das fotos dele. A narrativa se debruça bem sobre esses casos e a penúltima cobertura por ele realizada, no traumático fogo cruzado e prisão no Chade, mas acaba passando superficialmente sobre a questão do Camboja, para contextualizar o ambiente do país do Sudeste Asiático no momento em que Gilles desapareceu. Ainda assim, é uma obra que se destaca por buscar novos meios para apresentar quem era o profissional por trás de seu biografado e a sua arte.
História de um Olhar (Histoire d'un Regard / Looking for Gilles Caron, 2020)
Duração: 93 min | Classificação: 16 anos
Produção: França
Áudio e Legendas: francês | legenda em português
> Sessão – 17/04/2021 (sábado), às 19h00
Disponível no Looke, com limite de até 2.000 visualizações ou prazo de 24 horas; caso não alcancem o limite, retornam no dia seguinte às 12h00 e ficam até as 22h ou o limite de visionamentos estabelecido
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