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  • Foto do escritorNayara Reynaud

A VASTIDÃO DA NOITE | Expandindo suas limitações

Atualizado: 20 de jun. de 2020


Jake Horowitz e Sierra McCormick em cena do filme A Vastidão da Noite (The Vast of Night, 2019), de Andrew Patterson, disponível no Amazon Prime Video | Foto: Divulgação

Na vastidão de conteúdos disponíveis hoje em dia nas mais diversas mídias e plataformas, projetos menores, mas ambiciosos como A Vastidão da Noite (The Vast of Night, 2019) podem se perder. Parecia ser este o destino do primeiro filme de Andrew Patterson, rodado em 2016. Após vários “nãos” de seleções de festivais, a produção de baixo orçamento conseguiu a sua vez no pequeno Slamdance Film Festival de 2019, onde ganhou o Prêmio do Público, até ser exibido na Sessão da Meia-Noite do Festival de Toronto, quando foi imediatamente adquirida pela Amazon, que agora lança o filme em seu streaming.


A história, escrita pelo cineasta sob o codinome James Montague, ao lado do roteirista também estreante Craig W. Sanger, não é necessariamente nova. Ambientada em uma pequena cidade do estado norte-americano do Novo México, nos anos 1950, a trama se passa inteiramente em uma noite na qual quase toda a população está em polvorosa pelo grande evento local, o jogo de basquete do time do colégio dali contra os rivais do vale que circunda a região. No entanto, a câmera e o interesse narrativo de Patterson estão voltados para os jovens que, em vez de assistir à partida, vão para seus postos de trabalho. Isso porque a rotina noturna da telefonista Fay Crocker (Sierra McCormick) e do locutor de rádio Everett Sloan (Jake Horowitz) são interrompidas quando ela percebe uma interferência na transmissão do programa dele e nas ligações que intermedia, despertando a curiosidade deles e do público sobre algo de estranho pairando sobre a fictícia Cayuga.


Se essa breve descrição já pode fazer você imaginar sobre o que o longa se trata, é preciso dizer que a indicação a Melhor Primeiro Roteiro no Spirit deste ano e o cair nas graças da crítica que o título ganhou agora no seu lançamento se devem não à originalidade de sua sinopse, mas à execução bem realizada e inventiva dela com um orçamento limitado. Na realidade, o cineasta usa essas limitações a seu favor, a exemplo das intervenções da estética televisiva que, além de um subterfúgio para filmar certas cenas, serve como homenagem à ficção científica e fantasia da época, mais notadamente com a série Além da Imaginação (Twilight Zone, 1959-64). Melhor ainda é como se explora a tensão narrativa com pouco, já há momentos em que somente a força dos diálogos constrói um imaginário para o espectador – reforçando este poder da palavra e, consequentemente, do rádio, como já comprovou Orson Welles, em 1938, na sua histórica transmissão radiofônica de A Guerra dos Mundos, livro de H. G. Wells publicado em 1898 – e que também é referenciada na sigla em inglês que dá nome à emissora local onde o protagonista trabalha.


Contudo, há momentos em que a obra faz o público esquecer qualquer restrição de produção, evocando sua força cinematográfica nos detalhes da direção de arte e na câmera percorrendo soturnamente aquela pequena cidade, especialmente no longo plano-sequência bem engendrado com o diretor de fotografia Miguel Ioann Littin Menz. E se o final um tanto óbvio chega a ser decepcionante frente a interessante e instigante condução da narrativa até então, o seu caráter resoluto é melhor do que um encerramento mirabolante e espetacularizado.


Até porque Patterson explora todas as lendas e mistérios envolvendo discussões sobre ufologia também em outros sentidos, desde a analogia para esses dois protagonistas que sonham com uma vida diferente fora daquele microcosmo à dose de crítica sobre quem eram os militares convocados a se arriscar nessas missões ultrassecretas contra um “inimigo” desconhecido e o passado da região em relação aos indígenas. Mais que isso, o filme é, tanto no seu discurso e nas percepções errôneas daqueles jovens quanto às previsões de tecnologias do futuro, quanto na sua própria existência e sucesso após várias recusas, um manifesto sobre a vastidão de coisas que vão além do nosso conhecimento limitado, não exatamente sobre o universo, mas sobre a vida terrena mesmo.

 

A Vastidão da Noite (The Vast of Night, 2019)

Duração: 90 min | Classificação: 14 anos

Direção: Andrew Patterson

Roteiro: Andrew Patterson (como James Montague) e Craig W. Sanger

Elenco: Sierra McCormick, Jake Horowitz, Gail Cronauer, Bruce Davis, Cheyenne Barton e Mark Banik (veja + no IMDb)



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