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Foto do escritorCauê Petito

PLAYMOBIL – O FILME | Existência paralela

Atualizado: 1 de mai. de 2021


Cena do filme Playmobil – O Filme (2019) | Foto: Divulgação (Paris Filmes)

“Eu não posso fazer Uma Aventura Lego (2014)”. A frase do diretor Lino DiSalvo, diretor de Playmobil – O Filme (2019), é curiosa porque chega antes mesmo de sequer mencionarem o concorrente mais famoso e conhecido dos diminutos bonecos que estrelam seu filme, durante a coletiva para imprensa da animação que aconteceu em São Paulo, no último dia 5, em meio à CCXP19. O cineasta tem plena consciência das comparações que serão feitas com a excelente animação de Chirs Lord e Phil Miller quando seu filme estrear. Parte defensivo, parte eloquente, ele continua: “Todo mundo sabe que há filmes de Lego. Eles são ótimos, eu os amo, os diretores são demais, mas eu tinha que achar a verdade em Playmobil, e para mim a verdade é que ele é um brinquedo de 'contação de histórias'. Não é um brinquedo de construção. Com o Lego, nós [DiSalvo e seus filhos] construímos algo e colocamos na estante. Com Playmobil, eles tiram os personagens da caixa e eles criam suas próprias histórias”.


Com essa ideia em mente, o diretor conta uma história que gira em torno de uma irmã (Anya Taylor Joy) e um irmão (Gabriel Bateman) que são levados, literalmente, para o universo de Playmobil. O que nota-se constantemente em Playmobil – O Filme são suas tentativas de se diferenciar – e justificar sua existência – de Uma Aventura Lego a cada esquina de sua narrativa. Assim, se a introdução de elementos com atores reais no longa de Miller e Lord chegava no terceiro ato de forma surpreendente e emocionante, aqui o live action é abraçado logo no princípio, quando o diretor e os roteiristas Blaise Hemingway, Greg Erb e Jason Oremland estabelecem uma virada dramática forçada, ao ponto de ser absurda a sua falta de sentido para fabricar, depois, uma situação onde os irmãos são puxados para dentro do mundo dos bonecos. Uma vez dentro, temos um passeio por vários mundos presentes nos playsets de Playmobil – nórdico, Velho Oeste, ficção científica e espionagem – e, consequentemente, nos gêneros cinematográficos nos quais se encaixam.


A intenção pretendida de contrapor o mundo melancólico, que os irmãos passam a vivenciar após a tragédia ocorrida no início do longa, com o mundo colorido ao qual são levados nunca funciona, porque o filme já começa, no mundo real, repleto de fantasias: o quarto da protagonista parece saído de um comercial publicitário, com suas cores primárias fortes, numa direção de arte artificial que tenta construir o mundo da mesma da forma mais rasa possível – atribuindo falta de personalidade justamente por sua estereotipagem – e com um absurdo número musical. Estamos, desde o principio, num conto de fadas, portanto os eventos fantásticos que decorrem nos momentos seguintes perdem o impacto que deveriam possuir. Quando esse live action se torna uma animação, as coisas ficam mais dinâmicas, e pode se encontrar pontuais momentos de diversão e virtuosismo visual diante do bom trabalho de animação e na qualidade dos modelos 3D.

Como é a Lego que fecha os contratos de produção das grandes franquias, o que resta a Playmobil é a paródia dos mesmos, em que nunca pode se dizer o nome ou a origem dos mundos visitados. Desta forma, temos personagens que claramente remetem a figuras como James Bond e ao universo de Star Wars. Consegue-se até ter alguma diversão com alguns dos mundos visitados, especialmente com o do 007, na alusão do personagem Rex Dasher ao agente criado por Ian Flemming, mas, no geral, as situações são pouco inventivas.


O diretor tem a sua disposição Anya Taylor Joy completamente deslocada, em cenas musicais que causam vergonha alheia, com o promissor Gabriel Bateman e nomes como Daniel Radcliffe no elenco original de dublagem – os quais não podemos julgar a competência, pois o filme chega com cópias dubladas, na competente versão brasileira – em personagens, que à exceção do citado agente Rex Dasher, se mostram descartáveis e sem vida. Se é possível exigir algum tipo de comprometimento maior no roteiro de uma produção feita para os mais novos, não se pode aceitar a subestimação da inteligência e dedução dos mesmos. Assim, as já “obrigatórias” mensagens conscientizadoras como “acredite em si mesmo” e “amadurecer não significa abandonar a infância” entram de forma preguiçosa e mecânica, como se existissem realmente por obrigação.


No fim, Playmobil – O Filme encontra-se constantemente nessa vontade de justificar sua própria existência, mas fracassando em sua proposta. E se essa insistência por fazer sentido do seu lançamento não chega perto da tragédia do sem-vergonha e insultante Emoji: O Filme (2017), ela ironicamente aprisiona a obra nessa ideia de construir algo de fato, porém, falhando justamente por replicar o que já foi feito em inúmeras outras produções. Algo que só reforça a noção – errada, é verdade – da maioria de que playmobils são apenas versões mais baratas, descartáveis e genéricas de seu famoso concorrente de blocos montáveis.

 

Playmobil – O Filme (Playmobil: The Movie, 2019)

Duração: 99 min | Classificação: Livre

Direção: Lino DiSalvo

Roteiro: Blaise Hemingway, Greg Erb e Jason Oremland, com argumento de Lino DiSalvo e consultoria de storyline de Michael LaBash

Elenco: Anya Taylor-Joy e Gabriel Bateman, e vozes originais de Jim Gaffigan, Daniel Radcliffe, Meghan Trainor, Adam Lambert, Kenan Thompson e Kirk Thornton (veja + no IMDb)

Distribuição: Paris Filmes

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