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  • Foto do escritorNayara Reynaud

A REVOLUÇÃO EM PARIS | Uma revolução intermitente

Atualizado: 28 de fev. de 2021


Izïa Higelin em cena do filme A Revolução em Paris (2018), de Pierre Schoeller | Foto: Divulgação (Bonfilm)

Exibido fora da competição do Festival de Veneza do ano passado e no último festival Varilux aqui no Brasil, A Revolução em Paris (2018) é praticamente um blockbuster dentro do cinema francês. O novo filme de Pierre Schoeller conta com o grande orçamento para os padrões nacionais de 17 milhões de euros e um elenco estelar, reunindo diversos nomes de várias gerações, para abordar os primeiros anos da Revolução Francesa neste épico. No entanto, a necessidade do diretor de Versailles (2008) e roteirista de O Exercício do Poder (2011) em abarcar o maior número de passagens e eventos históricos possíveis dentro daquele período se sobrepõe aos próprios personagens que fizeram a História acontecer a partir do dia 14 de Julho de 1789.

A trama começa com a Bastilha já tomada pela população de Paris e a significativa cena do Sol invadindo pela primeira vez as ruas do bairro popular de Saint Antoine e iluminando o povo, com a destruição daquele símbolo físico ainda da Idade das Trevas. Logo, a narrativa pula para a Marcha das Mulheres a Versalhes, em protesto contra a escassez de pão na capital em outubro daquele ano, na qual a presença das irmãs lavadeiras do Sena, Françoise (Adèle Haenel, estrela de ene produções recentes como Retrato de uma Jovem em Chamas, de 2019) e Margot (Izïa Higelin, de Um Belo Verão, de 2015), representa o papel feminino nesta luta. Schoeller, porém, confere um caráter episódico a este momento e a outros.

Por mais que demonstre, na sequência, a tensão na Assembleia Nacional formada por causa da Revolução e o temor do rei Luís XVI (Laurent Lafitte, de O Professor Substituto, de 2018) e toda a família real e corte com a comoção popular, tão cedo o longa apresenta, de forma ainda deslocada, outra subtrama. Um jovem marginalizado de poucas palavras, chamado Basile (Gaspard Ulliel, de Hannibal, a Origem do Mal, de 2007), que então vive no interior do país, é levado, poucos estágios depois, para o cenário parisiense. Lá, também vivem o soprador e moldador de vidro conhecido como Tio (Olivier Gourmet, de O Reencontro, de 2017) e sua esposa Solange (Noémie Lvovsky, de A Casa de Veraneio, de 2018), algumas das figuras que recém um limitado destaque neste painel.

Em termos de linguagem, Schoeller acrescenta trechos musicais com cantos da época sendo entoados a capella pelos populares, em um toque que inevitavelmente recorda Les Misérables (1980), embora o musical retrate o período pós-napoleônico, e um estilo de montagem teatral na cena do sonho do monarca com seus antepassados, mas ambos os movimentos soam incompletos. A proposta do cineasta pelo uso de elipses temporais seria uma ousadia louvável, mas se revela um maneirismo estéril a partir do momento que elas são utilizadas de modo a interromper qualquer tipo de desenvolvimento dos personagens ou do discurso fílmico. O resultado é uma narrativa entrecortada, que afasta o envolvimento emocional do público e, começa a ganhar apenas um pouco mais da sua atenção, quando esboça o envolvimento de Françoise e Basile.

Da mesma forma, não seria um problema se, em vez da tradicional caracterização individualizada, ela ocorresse de modo coletivo, mas ainda assim o povo, que é o grande protagonista da obra em sua busca pela tão sonhada igualdade, não é bem desenvolvido pelo roteiro. Neste sentido, talvez, o registro mais instigante é o dos políticos, na representação da Assembleia Nacional. Sendo um filme menos sobre batalhas, embora pontue alguns confrontos, A Revolução se dá mais na palavra, especialmente nos debates dos deputados, com destaque para os discursos sintetizados de nomes célebres como Robespierre (o astro Louis Garrel, ator e diretor de Um Homem Fiel, de 2018), Marat (Denis Lavant, o muso de Leos Carax em Holy Motors, de 2012, e outros tantos títulos) e Saint-Just (Niels Schneider, de Um Amor Impossível, de 2018).

Assim, o sangue pontual vem apenas selar a violência já presente no verbo, seja na traição dos representantes do povo com aqueles que os elegeram ou na discussão sobre o futuro do monarca em uma França ansiando pela República. Carente de uma contextualização anterior ou posterior aos eventos apresentados para a plateia que desconhece os detalhes e a importância da Revolução Francesa para o país e o mundo ocidental, o filme pode encontrar um canal de comunicação com o público em seu reflexo natural sobre a atualidade. Ainda que irregular, o seu retrato da força da mobilização popular e esse eterno embate sobre a linha tênue entre a democracia e a tirania ecoam 230 anos depois, em tempos tão turbulentos de diversas revoluções além de Paris.

 

A Revolução em Paris (Un Peuple et Son Roi, 2018)

Duração: 121 min | Classificação: 16 anos

Direção: Pierre Schoeller

Roteiro: Pierre Schoeller

Elenco: Adèle Haenel, Gaspard Ulliel, Olivier Gourmet, Laurent Lafitte, Louis Garrel, Izïa Higelin, Noémie Lvovsky, Denis Lavant, Niels Schneider e Céline Sallette (veja + no IMDb)

Distribuição: Bonfilm

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