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  • Foto do escritorNayara Reynaud

A FAMÍLIA ADDAMS | As semelhanças nas diferenças

Atualizado: 26 de nov. de 2020


Cena do filme de animação A Família Addams (The Addams Family, 2019) | Foto: Divulgação (Universal Pictures)

A árvore genealógica da Família Addams começou a ser traçada nos cartoons de Charles Addams, publicados na revista The New Yorker, de 1937 a 1988, mas foi com a série de TV dos anos 60 e os filmes da década de 1990, ambos em live action, que seus peculiares personagens foram eternizados no imaginário do público. Por isso, talvez, seja comum a plateia estranhar inicialmente o visual do novo longa A Família Addams (2019), cuja animação em 3D remonta os traços originais do cartunista que criou Gomez, Mortícia, Wandinha, Feioso, Tio Chico, Vovó Addams, Tropeço, Mãozinha e Primo It. Este sentimento de estranheza, porém, sempre foi um instrumento narrativo dessa comédia familiar gótica em que o bizarro serve de relevo para o que há de costumeiro na sociedade.

Dirigido por Greg Tiernan, de contrastes na carreira como Thomas e seus Amigos (1984-) e A Festa da Salsicha (2016), e Conrad Vernon, também diretor da animação adulta e de Madagascar 3: Os Procurados (2012), o filme animado parece mais um episódio piloto de apresentação dos personagens para uma geração que desconhece o famoso clã, com canções-temas de Christina Aguilera, Migos, Snoop Dogg – que também “dubla” o Primo It, em uma participação especial – e Karol G. A perseguição em pleno casamento de Gomez (voz original de Oscar Isaac) e Mortícia (Charlize Theron), no prólogo, explica o porquê do isolamento social deles, se refugiando em uma casa mal-assombrada no topo da colina, onde um antigo manicômio se torna o lar perfeito para eles. Passados 13 anos, são os dilemas de seus filhos entrando na adolescência que perturbam, de fato, a vida dos dois nesta simples narrativa.

Se a ideia da própria existência dos Addams é uma fuga dos padrões sociais estabelecidos, nesta história, a nova geração demonstra rebeldia adolescente ou a mera inadequação às regras de sua família. Para desespero da mãe Mortiça, Wandinha (Chloë Grace Moretz) quer conhecer o mundo lá fora e, em uma troca com a nova amiga Parker (Elsie Fisher), adentra no lado colorido da vida, enquanto a filha de Margaux Needler (Allison Janney) se torna gótica. Já o irmão Feioso (Finn Wolfhard) se mostra inapto para demonstrar suas habilidades de espadachim na cerimônia do Mazurka, uma espécie de rito de passagem da infância para se tornar um "adulto" ao estilo do Bar Mitzvah judaico, mas tem outro tipo de talento que o pai Gomez precisa aceitar.

As similaridades com qualquer família, por mais excêntricos que eles sejam, rendem a identificação necessária para a transmissão da mensagem do filme, bem batida, mas que não soa repetitiva e deve ser eficiente com o público-alvo, de respeito às diferenças. Esse conceito também perpassa a trama central em que os Addams ganham novos vizinhos com a construção de uma cidade planejada no vale, capitaneada por Margaux Needler, em um momento inspirado do roteiro de Vernon, Matt Lieberman e Erica Rivinoja ao colocar como antagonista a apresentadora de TV de um programa de decoração, em uma paródia ao canal norte-americano HGTV – e que, aqui, serve ao Discovery Home & Health, GNT e afins. Se a narrativa não alça voos além do tom episódico da história infanto-juvenil, existem discussões interessantes e complexas até para os adultos, ainda que presas em ideias embrionárias, nesta premissa.

Na oposição da beleza proposta pela decoradora e o prazer encontrado naquilo que a sociedade considera feio ou estranho que diferencia os Addams, já se demonstra como a noção do que é belo pode ser algo subjetivo. A ameaça da apresentadora também pode ser vista como uma representação do mercado imobiliário e sua força nos processos de higienização e gentrificação no espaço urbano. Mas é no nome da nova cidade, chamada de Assimilação, que a obra é mais direta no discurso sobre o perigo de uma assimilação cultural e social na contemporaneidade, não tão ligada à colonização como antigamente, mas à globalização atual, em que a padronização apaga as diferenças.

 

A Família Addams (The Addams Family, 2019)

Duração: 86 min | Classificação: Livre

Direção: Greg Tiernan e Conrad Vernon

Roteiro: Matt Lieberman e Pamela Pettler, com argumento de Conrad Vernon, Matt Lieberman e Erica Rivinoja, baseado nos personagens de Charles Addams

Elenco: vozes originais de Oscar Isaac, Charlize Theron, Chloë Grace Moretz, Finn Wolfhard, Nick Kroll, Snoop Dogg, Bette Midler, Allison Janney, Martin Short, Catherine O'Hara, Tituss Burgess, Jenifer Lewis e Elsie Fisher (veja + no IMDb)

Distribuição: Universal Pictures

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