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Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2019 | Dia 4 – Realidades paralelas

Atualizado: 28 de fev. de 2021


Cobertura do 4º dia da 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, com crítica do filme sérvio Assimetria (2019) e outros.

 

(Asimetrija, 2019)

Mateja Poljcic e Lola Vitasovic em cena do filme sérvio Assimetria (Asimetrija, 2019) | Foto: Divulgação (ABMIC)

Um exercício mais interessante pelo seu conceito do que pela eficiência de sua execução. Este é o caso de Assimetria (2019), o primeiro longa da diretora Maša Neškovic, que fez sua estreia mundial em São Paulo, nesta 43ª Mostra, antes mesmo de ser exibido em sua terra natal, a Sérvia. E neste primeiro teste de audiência, foi possível observar como o filme exige do público uma conexão com suas histórias, que nem sempre a própria narrativa entrega.

É proposital o encontro e o desencontro das tramas de três diferentes casais, de diferentes idades, vivendo na mesma Belgrado, na mesma época, para representar um relacionamento em seus diferentes estágios. O último verão juntos de duas crianças, Lola (Lola Vitasovic) e Pec (Mateja Poljcic), se intercala com o romance jovial de Olja (Mira Janjetovic) e Ivan (Mladen Sovilj) e a separação de um casal de meia-idade, Vera (Daria Lorenci) e Vladimir (Uliks Fehmiu). Cabe, então, ao espectador acreditar se eles são as mesmas pessoas ou não, ou conjecturar de que maneira essas histórias se entrelaçam em novas interpretações dessas simetrias assimétricas.

O uso do reverse em algumas passagens indica essa manipulação do tempo nas mãos de Neškovic e convida para adentrar a fantasia. Parte da plateia aceita o convite por encontrar uma identificação nessa história de amor e (des)amor única que o filme conta, mas há um hermetismo que bloqueia o resto de conhecer esses personagens, mesmo em seus silêncios, e criar a mesma empatia. Especialmente quando o roteiro mostra sua assimetria não-intencional no desenvolvimento desses três casais, com o mais velho se tornando um enigma frente às camadas mais trabalhadas nos mais jovens, especialmente o infantil com o envolvimento ingênuo e genuíno entre as duas crianças.

 

Duração: 93 min | Classificação: 14 anos

Direção: Maša Neškovic

Roteiro: Maša Neškovic, Vladimir Arsenijevic e Staša Bajac

Elenco: Daria Lorenci Flatz, Uliks Fehmiu, Mira Janjetovic, Mladen Sovilj, Lola Vitasovic e Mateja Poljcic (veja + no IMDb)

Produção: Sérvia, Eslovênia e Itália

> Instituto Moreira Salles / IMS Paulista – 20/10/2019, domingo às 15h00

> MIS / Museu da Imagem e do Som – 27/10/2019, domingo às 17h40

 

(Wasp Network, 2019)

Na produção multinacional que abre a 43ª edição da Mostra, a latinidade exala não só nos grandes nomes do elenco de Wasp Network (2019), novo filme do francês Olivier Assayas que conta com a espanhola Penélope Cruz, o venezuelano Edgar Ramírez, o brasileiro Wagner Moura, a hispano-cubana Ana de Armas, o argentino Leonardo Sbaraglia e o mexicano Gael García Bernal. Ela está na origem da história que acompanha como foi montada uma rede de espiões cubanos para se infiltrar na comunidade de exilados do país nos Estados Unidos, nos anos 1990. Baseado no trabalho de pesquisa do jornalista brasileiro Fernando Morais, colocado nas páginas do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria (2011), o longa também foi realizado pela produtora nacional RT Features, de Rodrigo Teixeira.

Assayas transforma as informações documentais em um thriller de espionagem, ainda que não se revele assim desde o princípio. O cineasta opta por apresentar ao público como os pilotos René Gonzalez (Ramírez) e Juan Pablo Roque (Moura) chegam ao território norte-americano como exilados políticos cubanos e passam a auxiliar no resgate dos compatriotas que fogem do país em busca de liberdade. Mas somente na virada para a segunda parte – ou ato atrasado –, ele revela como tudo fazia parte do plano da Rede Vespa criada pelo governo de Fidel Castro para monitorar a ação dos grupos militantes, sendo que alguns deles praticavam atos terroristas – assim como o regime castrista massacrava as forças oposicionistas de forma totalitária, já que nenhum lado é santificado aqui.

No entanto, o diretor e roteirista enfrenta dificuldades no desafio de dar conta de tantos personagens ao percorrer um espaço de tempo de cinco anos, não conseguindo atar os nós desta intricada trama latina. Fazendo uma analogia com os aviões tão importantes na história, o roteiro sobrevoa diversas passagens históricas e subtramas, enquanto a montagem liga um ponto ao outro sem conferir ritmo, fazendo com que a narrativa nunca decole pra valer. O resultado é que os 130 minutos de duração parecem mais longos do que realmente são e, ao mesmo tempo, encurtados frente a um material que renderia melhor como uma minissérie, tal qual o realizador fez com Carlos, o Chacal (2010), estrelado também por Edgar.

Sobrecarregado por essa complexidade narrativa e sociopolítica, Olivier não encontra espaço para desenvolver os personagens, seja na verborragia dos diálogos do seu último e diametralmente oposto Vidas Duplas (2018) ou na introspecção de outros trabalhos anteriores, apesar do bom elenco que tem em mãos, com destaque para Cruz e Armas se sobressaindo ao pouco que o texto lhes dá como mulheres abandonadas pelos cônjuges e, igualmente, pelo filme, uma hora ou outra. Da mesma maneira, pouco se trabalha diversas ideias interessantes que surgem na medida em que a ambiguidade dos personagens se transforma em dicotomias: desses homens que põem a pátria ou uma causa acima da família que sofre as consequências de seus atos, desses agentes que usufruem do capitalismo norte-americano enquanto defendem o socialismo cubano, e desses governos ou opositores que buscam a paz e a liberdade através da violência e do medo. Mas, ainda que não aprofunde suficientemente esses paradoxos, a superficialidade de Assayas, ao menos, não resulta em respostas simplificadoras para uma história real sem mocinhos ou vilões.

 

Duração: 130 min | Classificação: 16 anos

Direção: Olivier Assayas

Roteiro: Olivier Assayas, inspirado no livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais

Elenco: Penélope Cruz, Edgar Ramírez, Gael García Bernal, Wagner Moura, Ana de Armas e Leonardo Sbaraglia (veja + no IMDb)

> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 20/10/2019, domingo às 21h15

> CineSesc – 26/10/2019, sábado às 21h15

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