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  • Foto do escritorNayara Reynaud

BRANCA COMO A NEVE | Um conto de fadas erótico

Atualizado: 27 de fev. de 2021


Lou de Laâge e Isabelle Huppert em cena do filme francês Branca como a Neve (2019) | Foto: Divulgação (A2 Filmes)

Uma moça de pele alva, uma madrasta maquiavélica, sete homens que cruzam a vida da primeira tanto quanto os espelhos na trajetória da segunda, além, é claro, de uma maçã. Esses e outros elementos de Branca de Neve, o famoso conto de fadas de origem germânica que foi levado da tradição oral para as páginas dos célebres irmãos Grimm, em 1812, são vistos em uma nova roupagem no filme franco-belga Branca como a Neve (2019). No entanto, o longa da prolífica e irregular cineasta Anne Fontaine, diretora de Marvin (2017) e Agnus Dei (2016), faz mais do que atualizar a trama e os arquétipos da história ao transformar seu sentido como uma fábula de libertação sexual que deixaria Walt Disney tão pálido quanto a sua Branca de Neve e os Sete Anões (1937).

No roteiro de Fontaine com Pascal Bonitzer e Claire Barré, o público é apresentado à Claire (Lou de Laâge, exalando a beleza e o espírito da personagem), uma jovem que trabalha em um sofisticado hotel spa até ser misteriosamente raptada em sua caminhada matinal, sendo quase assassinada em um bosque. Na narrativa dividida em três capítulos, o segundo explica o que já é óbvio desde o princípio a qualquer um que reconheça a história original ali, ao se debruçar na figura de sua madrasta Maud (Isabelle Huppert repetindo o tipo que tem se especializado nos últimos tempos). Antes, no cenário bucólico das montanhas, onde é resgatada pelo “Zangado” Pierre, a protagonista também conhece o irmão gêmeo deste, o “Dunga” François (Damien Bonnard em dose dupla) e o outro morador da mesma casa, o hipocondríaco violoncelista Vincent (Vincent Macaigne como uma espécie de Atchim), como outros tipos do lugarejo: o médico ciumento Sam (Jonathan Cohen), o padre Guilbaud (Richard Fréchette como o “Mestre”), o atirado livreiro (Benoît Poelvoorde) e seu filho, o “Dengoso” lutador de artes marciais Clément (Pablo Pauly).

Esse envolvimento da “Branca de Neve” com estes “Sete Anões” se dá de maneira sexual, na maioria das vezes, embora nem sempre o ato em si seja consumado e exista também a relação de amor platônico e religioso em outros dois casos. A abordagem funciona em partes, como na ideia de Claire manter a sua aura angelical, reforçada pela fotografia de Yves Angelo, mesmo depois de sua libertação sexual, pois a pureza aqui está desassociada de parâmetros puritanos. Fontaine também trabalha o conceito de um confronto geracional de pensamentos, com as figuras mais velhas que vivem fora das montanhas invejando, cobiçando e condenando a juventude que explode na jovem bela, recatada e do spa que se transforma na sensual garçonete “devoradora de homens” – mais como a Maneater de Nelly Furtado do que de Hall & Oates.

Neste sentido, a cineasta do mais controverso Amor Sem Pecado (2013) tenta frisar diversas vezes o controle de Claire sobre a situação, para deixar clara a escolha da mulher em estar nestas dinâmicas em que não existe nenhum príncipe encantado; mas traz certos momentos embaraçosos que tocam em temas delicados para um tempo em que se discute tanto questões femininas graves como relações abusivas, e se manifestam aqui tanto no flerte descarado quanto em cenas de ciúme. Sem assumir totalmente a sua faceta erótica junto a seu viés cômico a partir disso, nem um olhar dramático em relação a esses assuntos complexos, Fontaine tem como verdadeiro problema a dificuldade em encontrar o tom do filme neste vaivém entre tais abordagens. A mensagem de Branca como a Neve chega, então, partida ao público, que pode embarcar nesta fábula apesar de seus deslizes ou rejeitá-la por sua condução descompromissada.

 

Branca como a Neve (Blanche Comme Neige, 2019)

Duração: 112 min | Classificação: 16 anos

Direção: Anne Fontaine

Roteiro: Anne Fontaine, Pascal Bonitzer e Claire Barré, baseado no conto de fadas “Branca de Neve” de Jacob e Wilhelm Grimm

Elenco: Lou de Laâge, Isabelle Huppert, Charles Berling, Damien Bonnard, Jonathan Cohen, Richard Fréchette, Vincent Macaigne, Pablo Pauly, Benoît Poelvoorde e Aurore Broutin (veja + no IMDb)

Distribuição: A2 Filmes

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