top of page
Foto do escritorNayara Reynaud

RAINHAS DO CRIME | Um negócio pouco inovador

Atualizado: 27 de fev. de 2021


Tiffany Haddish, Melissa McCarthy e Elisabeth Moss em cena do filme Rainhas do Crime (The Kitchen, 2019) | Foto: Divulgação (Warner Bros.)

Uma coisa que Rainhas do Crime (2019) promete de cara, e realmente cumpre, é a sua guinada por um caminho bem diferente das HQ’s mais populares da DC Comics e, consequentemente, de suas adaptações cinematográficas produzidas pela Warner. A série de quadrinhos The Kitchen (2014-15), de Ollie Masters e Ming Doyle, e a posterior graphic novel de mesmo nome foram publicadas pela Vertigo, selo diferenciado da empresa, enquanto a história só foi lançada recentemente no Brasil, pela Panini no segundo formato, com o título A Cozinha – Rainhas do Crime. O cenário da trama é a velha Hell's Kitchen, bairro nova-iorquino que é o lar de vários heróis do estúdio da Nona Arte, mas sem superpoderes em questão, ela investe em mais realismo, apesar da inversão ficcional proposta ao colocar mulheres no topo da máfia daquela época.

A Nova York de 1978 apresentada no longa da roteirista e estreante na direção Andrea Berloff é dominada por uma criminalidade que se encontra em crise, especialmente na região que, de fato, foi comandada pela máfia irlandesa entre os anos 1960 e 80, em associação com os mafiosos italianos. Ainda surgem os empresários judeus, gangue de afro-americanos e policiais corruptos ou não neste diverso panorama metropolitano da história. Mas quando três membros de seu alto escalão são presos, inicia-se o momento de mudança na vida de suas esposas Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss), que resolvem tomar à frente dos negócios da família e do bairro.

O clipe inicial já mostra os relacionamentos abusivos, na violência doméstica ou moral que Claire e Ruby sofriam de Rob Walsh (Jeremy Bobb) e Kevin O'Carroll (James Badge Dale), respectivamente, enquanto até o casamento pacífico de Kathy e Jimmy Brennan (Brian d'Arcy James) também a cerceou de maiores pretensões na vida além de ser dona de casa. A ruptura dessas relações e o fato de serem deixadas ao léu pelo novo líder da máfia (Myk Watford), apadrinhado pela matriarca Helen O'Carroll (Margo Martindale) – cujo poder neste ambiente tão masculino que oprime as novas chefonas do crime poderia ser mais explorado –, as forçam a adentrar no ramo que conhecem tão bem e o trio altera a dinâmica local e da cidade. Só que não sem resistência, já que a ascensão feminina não é bem vista nem fora e muito menos entre os seus comandados.

A princípio, a premissa é ótima e o elenco idem, especialmente pelo fato da escalação das três atrizes superar as expectativas que, bem há pouco tempo, se tinha delas: McCarthy já provou sua verve dramática em Poderia me Perdoar? (2018), sendo indicada ao Oscar, e novamente a demonstra na cena decisiva de Kathy com o marido, enquanto Haddish tem agora essa chance de mostrar que pode se sair bem aí tanto quanto na comédia e Moss vai da fragilidade e inocência inicial de Cathy ao extremo oposto quando reencontra Gabriel O'Malley (Domhnall Gleeson), que se torna o faz-tudo delas. Mesmo sim, o resultado final não é tão promissor, um pouco pelas etapas de desenvolvimento dos personagens que são puladas ao serem abreviadas em clipes, mas principalmente pela dificuldade do longa em encontrar o seu tom. Apesar de tratar da máfia e o texto tratar abertamente de atos violentos como assassinatos e esquartejamentos de cadáveres, a direção evita bastante o sangue, assim como traz um viés cômico para situações dramáticas, sem encontrar um equilíbrio entre essas frentes.

Ainda por cima, tal qual o trio que não tem permissão para estar no comando livremente, a obra que se promove como um libelo da libertação dessas mulheres, e apresenta isso no início, não consegue se livrar das convenções do gênero e Berloff submete suas protagonistas às típicas tramas dos filmes de máfia e mina as relações até então construídas. Uma armadilha que As Viúvas (2018), outro lançamento de história semelhante, evita ao promover a inversão de gêneros no centro de um gênero cinematográfico, só que de assalto. O saldo não é de todo ruim, somente frustrante para Rainhas do Crime que tinham tudo para serem matadoras.

 

Rainhas do Crime (The Kitchen, 2019)

Duração: 102 min | Classificação: 16 anos

Direção: Andrea Berloff

Roteiro: Andrea Berloff, baseado na HQ “A Cozinha – Rainhas do Crime” / “The Kitchen” de Ollie Masters e Ming Doyle

Elenco: Melissa McCarthy, Tiffany Haddish, Elisabeth Moss, Domhnall Gleeson, James Badge Dale, Brian d'Arcy James, Jeremy Bobb, Margo Martindale, Bill Camp, Common, E.J. Bonilla, Myk Watford, Wayne Duvall, Pamela Dunlap e John Sharian (veja + no IMDb)

Distribuição: Warner Bros. Pictures

0 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo
bottom of page