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  • Foto do escritorNayara Reynaud

O PROFESSOR SUBSTITUTO | Prova em branco

Atualizado: 27 de fev. de 2021


Laurent Lafitte em cena do filme francês O Professor Substituto (2018) | Foto: Divulgação (Supo Mungam)

Entre a curiosidade de um calouro e o ceticismo de um veterano, o cineasta Sébastien Marnier demonstra um vigor peculiar em seu segundo longa, O Professor Substituto (2018), exibido no Festival de Veneza do ano passado e no último Varilux de Cinema Francês. Usando a estética deliberadamente a favor do desenvolvimento psicológico de seus personagens, o diretor de Irrepreensível (2016) adapta o romance de Christophe Dufossé, L'Heure de la Sortie (2002), cujo ponto de partida é a tentativa de suicídio de um professor de francês que se joga da janela da escola, em plena aula. No lugar de Eric Capadis (Cyrille Hertel), cujas motivações para uma atitude tão drástica são desconhecidas, entra o tal docente do título, Pierre Hoffman (Laurent Lafitte).

Logo, o professor substituto e o público são apresentados e levados, pela fala do diretor do prestigiado colégio, a prestar mais atenção na turma de nono ano que assistiu à cena. Trata-se de uma sala especial desde o princípio, já que reúne um grupo de alunos com as melhores notas, algo que os distingue e alimenta tanto o bullying de outros colegas quanto a arrogância deles próprios. Capitaneados pelos representantes de sala Apolline (a novata Luàna Bajrami, muito bem no papel) e Dimitri (Victor Bonnel), esses estudantes geram uma antipatia e desconfiança mútua pelo novo tutor que fomenta a tensão crescente na narrativa.

No roteiro adaptado por Marnier e Elise Griffon, as relações de Pierre Hoffman com outros personagens fora do ambiente escolar, que aparentemente estão presentes no livro, são retiradas em favor do foco concentrado entre a sala dos professores e a turma em questão. Sustentando-se na excelente atuação de Laurent Lafitte, mais conhecido por Elle (2016), o filme faz questão de deixar o público refém do ponto de vista do protagonista e de, depois, mostrar que esta visão pode estar maculada pelos delírios kafkanianos dele. As alusões visuais às baratas de A Metamorfose (1915) são claras, porém, os verdadeiros insetos em transformação que aterrorizam o docente que quer concluir seu mestrado sobre o escritor Franz Kafka são seus alunos, que se tornaram sua obsessão.

Esse olhar propositadamente enviesado da narrativa acaba levando a superficialidade no desenvolvimento da psique dos seis estudantes que se distinguem dos demais, vistos como um grupo pelo protagonista e como uma alegoria de sua geração pela obra. Se na história original de Dufossé, ambientada em 1995, os adolescentes estavam desesperançosos por causa de Chernobyl e da AIDS, são as diversas tragédias ambientais que atormentam esse clube niilista. Tem-se, então, a representação desses jovens de alma adulta; talvez, simplesmente porque o mundo os privou da mesma adolescência despreocupada dos adultos que agora os cercam e lhes resta apenas pensar em um futuro do qual não tem perspectiva.

Esse horizonte em suspenso se torna um suspense na visão de Marnier, cujo tom apocalíptico se aplica igualmente no retrato individual de Pierre, no cenário escolar e na paisagem externa. Embora a fotografia de Romain Carcanade seja um elemento importante nesta construção de sentido do cineasta, é pelo som que ela se materializa, seja na seleção da canção de Patti Smith, Pissing in a River, em um momento-chave ou na trilha sonora em estilo industrial do duo Zombie Zombie e o desenho de som marcado por alarmes – e por isso e pela usina ao fundo, lembrando outro longa francês Grand Central (2013), de Rebecca Zlotowski. Nem todas as matérias e abordagens deste Professor Substituto são acertadas, mas seu exercício filmíco é tão determinado e instigante que é muito difícil para qualquer aluno passar ileso, sem pensar no seu passado escolar, em um presente conturbado e um futuro incerto.

 

O Professor Substituto (L'Heure de la Sortie, 2018)

Duração: 104 min | Classificação: 16 anos

Direção: Sébastien Marnier

Roteiro: Sébastien Marnier, com colaboração de Elise Griffon, baseado no livro “L'Heure de la Sortie” de Christophe Dufossé

Elenco: Laurent Lafitte, Emmanuelle Bercot, Luàna Bajrami, Victor Bonnel, Pascal Greggory, Véronique Ruggia, Gringe, Grégory Montel, Thomas Scimeca, Thomas Guy, Adèle Castillon, Matteo Perez, Leopold Buchsbaum, Thelma Doval, Capucine Valmary e Cyrille Hertel (veja + no IMDb)

Distribuição: Supo Mungam Films

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