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Foto do escritorNayara Reynaud

5ª CIRANDA DE FILMES | Entrevista com as curadoras Fernanda Heinz e Patrícia Durães

Atualizado: 26 de fev. de 2021


Cartaz do evento 5ª Ciranda de Filmes | Divulgação (Ciranda de Filmes)

“Essa suspensão de um ano deu tempo para a gente conseguir: deu um fôlego para poder enfrentar 2019”, pondera Patrícia Durães, uma das curadoras da 5ª Ciranda de Filmes, evento com foco educativo que acontece em São Paulo, de 23 a 26 de maio no Espaço Itaú de Cinema Augusta, mas cuja frequência anual foi interrompida em 2018, quando não houve nenhuma edição foi realizada por conta da crise econômica. O apoio do público cativo desta ciranda de exibição de filmes, oficias e outras atividades paralelas, que chegou a receber 7 mil pessoas em 2017, se revelou essencial para dar força e lutarem pela volta do projeto agora. “Vocês têm que dar um jeito, vocês têm que fazer, porque é um espaço de encontro e um espaço de resistência mesmo”, era a fala dos assíduos, de educadores e pais a cinéfilos, para Fernanda Heinz, sua parceira de curadoria que também conversou com o NERVOS sobre os rumos da mostra, que desta vez destaca a música em diversas frentes.

De certo modo, elas veem com bons olhos este tempo que permitiu uma captação por dois anos, após o fim da edição anterior, que viabilizou a Ciranda em 2019. “Acho que se a gente tivesse começado no final de 2018, não teria conseguido”, conjectura Durães, pensando no ano conturbado para o cinema, a cultura e a educação no Brasil. As questões orçamentárias, porém, transformaram o olhar delas na curadoria, já que “tudo virou no país, é outra realidade”, as duas procuraram acompanhar essa mudança, abandonando um panorama mais internacional do tema para buscar mais uma identidade nacional através da música, com a valorização de filmes que tratem das raízes indígenas e africanas na produção musical brasileira.

“A educação acontece na vida, então toda a sociedade é responsável pela educação”

Fernanda Heinz

No entanto, isso já vem da visão ampla que se tem da própria natureza do evento, com seu foco desde a primeira infância à juventude. “A educação não é o ensino formal: a gente se educa nas relações, na vida mesmo, nas experiências” frisa Heinz, também ressaltando o papel da sociedade neste sentido e não somente os professores como guardiões na tarefa de orientar as crianças. Para a colega, este aprendizado contínuo está intrinsicamente ligado ao tema deste ano, a música, já que tudo se inicia desde o útero: “o ritmo cardíaco da mãe, a pulsação, a circulação sanguínea, a voz dela que entra dentro dessa atmosfera uterina e todo o convívio que ela possa ter com música também na gestação. Isso já vai trazendo o ser humano que vem aí”, conclui Patrícia.

Assim, a ideia de eixos que sempre permeou a Ciranda, veio novamente nesta quinta edição, que veio mais repleta de documentários do que ficções, já que havia a preocupação delas em fugir das biografias e das histórias pessoais, virtuosas e/ou dramáticas de grandes nomes, pois iria contra o objetivo de mostrar a música acessível e presente dentro de todos. Desde o silêncio aos sons da natureza, passando pela necessidade de ouvir a criança e seu talento, na capacidade do ser humano de fazer música e de ser tocado e até curado pela música. Elas trazem também a “música como linguagem universal e cultura de paz”, destaca Fernanda, em relação aos cantos sagrados e meditativos também presentes nessa seleção de filmes – veja abaixo alguns destaques.

“É um ponto de encontro e de manifestação cultural e política”

Patrícia Durães

Esta preocupação, porém, se encontra igualmente nas atividades paralelas à exibição, dentro do próprio cinema, como na montagem de um coreto, relembrando o símbolo existente em tantas praças nas cidades de antigamente e, até hoje, no interior, como um “ponto de encontro e de manifestação cultural e política”, explica Durães. Não por menos, haverá nele a vivência do Toré com Wyanã Uiá e integrantes da Nação Kariri-Xocó, destacando cantos, danças e ritmos indígenas, além da conversa musical com Magda Pucci e Berenice de Almeida sobre os sons da floresta, um dos encontros que subtitui os antigos debates, como o do pianista Benjamin Taubkin com dois instrumentistas convidados, Lydia Hortélio refletindo sobre as canções na cultura infantil e uma partilha de experiências em ensino musical. Heinz ainda pontuou que haverá sessões especiais, com especialistas debatendo os temas dos filmes em questão, bate-papos com diretores em outras e a possibilidade de sentar no Espaço, e escutar pelo fone de ouvido, as playlists disponibilizadas nos tablets através do Spotify da Ciranda, que vão desde meditação guiada a um Sonário do Sertão.

 

Confira alguns destaques da programação da 5ª Ciranda de Filmes:

Cartaz do documentário nacional Amazônia Groove (2019) | Divulgação (Pagu Pictures)

> Amazônia Groove (2018, Brasil), de Bruno Murtinho

Fernanda considera o filme que vai abrir o evento “um presente”. Premiado por sua fotografia no festival norte-americano South by Southwest (SXSW), o documentário que entrará em cartaz no circuito no dia 6 de junho leva o público para ver e ouvir os sons amazônicos, mais especificamente paraenses. “Mostra bem a nossa diversidade musical. Só do Pará. Pra você ver como o nosso país é rico”, exalta Patrícia.

Filme de abertura (sessão para convidados) – 22/05/2019

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 2 - 24/05/2019 - 18:00

> Dominguinhos (2014, Brasil), de Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar (Brasil), e Clementina (2018, Brasil), de Ana Rieper

Retrato do sanfoneiro Dominguinhos que mostra como o também cantor e compositor herdou a tradição do instrumento de seu mestre Luiz Gonzaga, levando o seu forró para além das fronteiras de gênero e sendo tratado quase como um jazzista. Segundo Durães, o documentário até saiu da seleção, mas elas trouxeram de volta por ser forte na questão da regionalidade – “o nordestino é muito orgulhoso da sua identidade”, afirma – e pela sanfona ser muito importante dentro do instrumental brasileiro. Da mesma, para tratar de nossas raízes afro, foi escolhido o olhar documental sobre a carreira e legado da sambista Clementina de Jesus para encerrar o evento.

Dominguinhos: Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 2 - 23/05/2019 - 21:15

Clementina: Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 1 - 26/05/2019 - 19:00

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 26/05/2019 - 19:30

> A Tuba to Cuba (2018, EUA / Cuba), de T.G. Herrington e Danny Clinch

Outro grande destaque para Fernanda é o documentário inédito que, pela descrição da colega, traça essa relação do jazz de New Orleans e o jazz cubano, a questão da africanidade em Cuba, entre outros assuntos.

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 1 - 25/05/2019 - 21:30

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 27/05/2019 - 19:00

> Nelson Freire (2003, Brasil), de João Moreira Salles

Um dos mais prestigiados filmes do documentarista João Moreira Salles, o título apresenta, em blocos, a vida e obra do mundialmente reconhecido pianista brasileiro Nelson Freire. Neste caso, Patrícia explica que sua biografia veio na lista por causa do envolvimento com a música desde a infância, como um “ato de cura” e do próprio se questionar sobre o seu virtuosismo que lhe impede de improvisar.

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 2 - 23/05/2019 - 15:00

> Ryuichi Sakamoto: coda (2017, EUA / Japão), de Stephen Nomura Schible

Patrícia classifica como sublime este documentário centrado no compositor e músico japonês Ryuichi Sakamoto, mas não em sua biografia e sim em seu processo criativo, como cria e sua percepção da música no mundo, detalha a curadora.

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 24/05/2019 - 21:00

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 29/05/2019 - 19:00

> Grandma Lo-fi: The Basement Tapes of Sigrídur Níelsdóttir (2011, Islândia / Dinamarca), de Orri Jónsson, Kristín Björk Kristjánsdóttir e Ingibjörg Birgisdóttir

Uma senhora começa a brincar de fazer música , compondo e tocando com “instrumentos” que ela encontra na cozinha e se torna uma celebridade na cena musical islandesa. O documentário embarca nas “pirações” dela, de acordo com Durães, que vê nele um exemplo de resistência em “como você, com 70 anos, ainda pode virar a sua vida”.

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 1 - 23/05/2019 - 15:30

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 2 - 26/05/2019 - 17:00

> Vivo por Dentro: Uma História de Música e Memória (2014, EUA), de Michael Rossato-Bennett

Investiga o tratamento em idosos e pessoas com problemas de saúde mental através da música, mais exatamente, da memória musical. Em vez de remédios, uma playlist vem na receita. “Você vê, durante o documentário, a melhora das pessoas”, ressalta Patrícia, enquanto a colega frisa a palavra dos neurocientistas, incluindo o renomado Oliver Sacks, sobre a música chegar em lugares no cérebro que nenhum medicamento é capaz de alcançar.

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 23/05/2019 - 16:15

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 28/05/2019 - 17:00

> Ouça o Silêncio (Listen to the Silence, 2016, Geórgia), de Mariam Chachia

Inédito, o documentário georgiano trata de um menino surdo que vive em lugar para deficientes auditivos e deseja dançar. “Ele é acolhido pela professora que o encaminha para uma aula de dança e ele sente a vibração da música”, explica Heinz, que também destaca a sessão especial que será acompanha de uma conversa com o neurologista e neuropediatra Dr. Mauro Muszkat sobre música, neurociência e desenvolvimento humano.

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 25/05/2019 - 14:45 (Sessão Especial)

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 2 - 26/05/2019 - 11:30

> Song of the new Earth (2014, EUA), de Ward Serrill

Difícil de passar aqui em outra oportunidade, o documentário acompanha o pesquisador de som, psicoterapeuta e xamã sônico Tom Kenyon. “Ele teve uma visão de que precisava usar esse canto dele para cura das pessoas. Ele viaja o mundo inteiro fazendo sessões de canto, mas é um canto que atinge uns timbres raros e as pessoas entram em uma espécie de transe”, detalha Fernanda, que também ressalta o uso de animações para representar as memórias do personagem retratado.

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 29/05/2019 - 17:00

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 23/05/2019 - 21:15

> Being Here (2017, EUA), de Palmer Morse e Matthew Mikkelsen, e Orquestra da Natureza: Sons do Nosso Planeta em Transformação (Nature’s Orchestra: Sounds of our Changing Planet, 2016, EUA), de Robert Hillman

"Esses dois filmes tratam de dois soundtrackers (Gordon Hempton e Bernie Krause) muito importantes que rodam o mundo captando sons da natureza e, através disso, eles têm uma leitura sobre o quanto o ambiente está saudável ou não, o quanto aquele ambiente tem de biodiversidade ou não. Então, é uma percepção sobre o ambiente que a gente vive muito interessante”, indica Heinz.

Being Here: Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 23/05/2019 - 21:15

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 25/05/2019 - 20:30

Orquestra da Natureza: Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 25/05/2019 - 20:30

Espaço Itaú de Cinema – Augusta | Sala 3 - 26/05/2019 - 11:00

=> Consulte a programação completa no site cirandadefilmes.com.br

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