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  • Foto do escritorNayara Reynaud

SUPERAÇÃO – O MILAGRE DA FÉ | Fé apenas nos milagres

Atualizado: 25 de fev. de 2021


Cena do filme Superação – O Milagre da Fé (2019) | Foto: Divulgação (20th Century Fox)

O cinema gospel sempre foi muito forte, dentro de seu nicho, nos Estados Unidos, com títulos que chegavam ao Brasil apenas em DVD, por causa da baixa qualidade dos filmes. Mas, nos últimos anos, o investimento em produções hollywoodianas com atores de renome dentro desta temática cristã deu um gás no gênero, um movimento que trouxe lançamentos para o circuito nacional recentemente, como o mediano O Céu É de Verdade (2014) e o bom Milagres do Paraíso (2016). Produtor deste último, DeVon Franklin agora apresenta uma nova lição de fé baseada em uma história real, Superação – O Milagre da Fé (2019), cujo resultado final é intermediário entre esses dois exemplos.

O fato que a origina o longa-metragem de Roxann Dawson é o acidente ocorrido em 2015 em um lago congelado no Missouri, em que o adolescente John Smith, interpretado por Marcel Ruiz, da série One Day at a Time (2017-19), e seus amigos estavam brincando, mas ele permaneceu afogado na água fria por 15 minutos até ser resgatado. Mas antes de ver a fé inabalável em sua recuperação impossível de sua mãe Joyce Smith, vivida por Chrissy Metz, já acostumada com o melodrama em This Is Us (2016-), o público conhece a rotina do jovem com ela e seu pai Brian (Josh Lucas, de Doce Lar, de 2002). O comportamento típico da adolescência ao se afastar de sua família e querer ficar com seus amigos ou sua música – com direito a canções pop para atrair outras plateias, mas também à censura em Uptown Funk, que tem o “hot damn” (algo como “quente pra caramba”) cantado por Bruno Mars cortado – é intensificado, porque o menino, adotado na Guatemala ainda bebê, não superou o sentimento de rejeição por sua figura materna biológica.

Do outro lado, Joyce é uma mãe do tipo urso, que não quer desgrudar do garoto, com dificuldades de ver que ele está crescendo. E também leoa, por querer defendê-lo com unhas e dentes de quem desacredita que ele possa sobreviver após o acidente. Metz, aliás, está ótima na cena em que vê o filho pela primeira vez depois do afogamento, exprimindo de maneira confusa o descrédito pelo que aconteceu, desespero pela situação e a esperança na sua fé.

O roteirista Grant Nieporte, responsável pelo drama também lacrimoso Sete Vidas (2008), até trabalha bem o figura dela como uma fiel tradicionalista, abordando de forma construtiva as rixas que existem, não só nas igrejas, entre um pensamento mais conservador e outro em busca de modernização, representada aqui por Topher Grace, o Venom do Homem-Aranha 3 (2007) e o Eric da série That '70s Show (1998-2006), na pele do pastor Jason Noble, que inclui rap gospel no culto para atrair os jovens. Se a ideia de união apesar das divergências e o senso de comunidade são bem desenvolvidos, o mesmo não acontece com o passado de Joyce, que, assim como outras questões que tornariam os personagens ou a narrativa mais ricas, não são aprofundadas por um roteiro que prefere perpassa-las apenas por poucos e fracos diálogos. Exemplo é o questionamento por John ter sido escolhido em detrimento de outros também em necessidade ou o bullying que o garoto sofreu depois de tudo, que poderiam ganhar destaque em outras mãos.

Primeiro longa de Roxann Dawson, atriz que tem larga experiência na direção de diversos episódios de renomadas séries televisivas, de Jornada nas Estrelas: Enterprise (2001-05) a House of Cards (2013-18), de The Americans (2013-18) a própria This Is Us, a obra se perde ao forçar na dramatização de situações que já são suficientemente dramáticas. Em vários momentos, a sua mise-en-scène esvai a naturalidade, ao colocar os personagens enfileirados, rezando ou esperando de forma artificial, ou, ainda neste sentido, criando mais um clipe de uma canção gospel em uma vigília na qual o canto à capela, em vez da introdução da base musical, tornaria a cena bem mais emocionante no seu retrato simples e sincero do apoio da comunidade. É como se, ao pesar à mão, no lugar de aumentar, o filme minasse a emoção que já é própria desta história real.

Se, apesar dos acenos a um espectador mais cético, a execução de Superação continua pregando para convertidos, existe um aspecto que o público cristão precisa observar nesta tendência de filmes religiosos hollywoodianos: a espetacularização da fé. Exalta-se um Deus milagroso, pelo espetáculo que traz à audiência e como se fosse a única maneira de fazer alguém crer Nele, em vez de mostrar o desafio de manter a crença nas dificuldades do dia-a-dia. Fica aqui, por fim, um exemplo oposto: apesar de não se tratar de uma obra do gênero, mas mostrar a perseguição religiosa do governo japonês no século XVII aos padres jesuítas e seus fiéis, o último trabalho de Martin Scorsese, Silêncio (2016), retrata a fé como uma das coisas mais íntimas do ser humano, algo que só a sua divindade de devoção é capaz de mensurar através de suas atitudes e pensamentos, mais do que em suas falas ou nos milagres recebidos.

 

Superação – O Milagre da Fé (Breakthrough, 2019)

Duração: 116 min | Classificação: 10 anos

Direção: Roxann Dawson

Roteiro: Grant Nieporte

Elenco: Chrissy Metz, Topher Grace, Josh Lucas, Marcel Ruiz, Sam Trammell, Dennis Haysbert, Mike Colter, Rebecca Staab, Ali Skovbye, Victor Zinck Jr., Stephanie Czajkowski, Lisa Durupt, Taylor Mosby, Kristen Harris, Isaac Kragten, Nikolas Dukic, Nancy Sorel, Chuck Shamata e Maddy Martin (veja + no IMDb)

Distribuição: 20th Century Fox (Fox Film do Brasil)

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