A ESPOSA | A atriz
Atualizado: 24 de fev. de 2021
Mais emblemática do que a trama que vem a seguir, a sequência de abertura do drama A Esposa (2017) poderia ser apenas a demonstração de ansiedade de Joe Castleman (Jonathan Pryce) por um telefonema, que depois fica claro ser o do anúncio do Prêmio Nobel de Literatura. No entanto, é na observação de sua estoica companheira Joan (Glenn Close) que o espectador enxerga não apenas a cumplicidade, o peso, as alegrias e as negligências dos anos de matrimônio com o escritor, mas que existe algo a mais nas páginas escondidas deste relacionamento – e não é difícil deduzir o que é ou já saber de antemão pelo que indica o trailer. Se o “segredo” é o chamariz da história, paira um aspecto universal no estudo de personagem dessa mulher cujo trabalho e existência foram subjugados à presença ou validação do marido, no choque das relações de gênero que faz parte de sua e de tantas narrativas conjugais fictícias e verídicas, como já fica claro desde a cena inicial na cama.
Assim, o público acompanha a viagem dos dois, junto com o filho David (Max Irons), para receber o prêmio na Suécia. Flashbacks dos anos 1950 e 1960 revelam o passado do casal, quando Joan era uma estudante de literatura (Annie Starke) e Joe apenas o seu professor casado (Harry Lloyd). O presente deles acontece no início da década de 1990, com este homem cujo prazer neste final de vida está no prestígio que lhe é concedido e na ideia de manutenção de sua masculinidade ao flertar com a fotógrafa (Karin Franz Körlof) que o acompanha, enquanto o jornalista Nathaniel Bone (Christian Slater), que insistentemente tenta escrever uma biografia do autor, provoca em Joan uma reflexão sobre sentimentos e insatisfações há muito acumulados.
Em seu primeiro longa em inglês, o diretor sueco Björn Runge tem uma sinopse interessante em mãos, nesta adaptação do livro The Wife (2003) de Meg Wolitzer, feita por Jane Anderson, roteirista da minissérie Olive Kitteridge (2014). Muito semelhante, por sinal, à biografia da escritora francesa Sidonie Gabrielle Colette, vista recentemente na pele de Keira Knightley em Colette (2018). Porém, sendo convencional na sua abordagem, sem ser eficiente ao criar mistério sobre as questões matrimoniais e autorais que cercam o casal, o cineasta conta com a atuação de Glenn Close tal qual este marido precisa de sua esposa.
Se a protagonista é o suporte deste homem que, por sua vez, a ofusca, a atriz segura o filme que, por si só, seria apenas mediano e consegue ainda brilhar o suficiente para esta temporada de premiações, vide a vitória no Globo de Ouro, Critics’ Choice Awards e a indicação ao Oscar. Tendo justamente na capital sueca a libertação de sua “síndrome de Estocolmo conjugal”, a virada de sua personagem não é pontual e sim uma gradual e sutil transformação que o espectador observa nos olhares, gestos e subtexto de Close, como uma mulher tímida que se sente feliz por sua obra ser reconhecida e igualmente a amargurada por seu trabalho permanecer oculto. Uma pena que a caracterização dos que estão a sua volta e até de Joan quando jovem é estereotipada e/ou unidimensional, assim como o filme demonstra, por exemplo, em sua trilha sonora constante e excessiva a falta de nuances que sobra em Glenn.
A Esposa (The Wife, 2017)
Duração: 100 min | Classificação: 12 anos
Direção: Björn Runge
Roteiro: Jane Anderson, baseado no livro “The Wife” de Meg Wolitzer
Elenco: Glenn Close, Jonathan Pryce, Christian Slater, Max Irons, Harry Lloyd, Annie Starke, Karin Franz Körlof, Elizabeth McGovern, Johan Widerberg e Alix Wilton Regan (veja + no IMDb)
Distribuição: Alpha Filmes / Pandora Filmes
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